As vozes eram poucas, mas sempre constantes, deviam estar passando por alguns seguidores pelo caminho, não paravam os faunos, estavam acostumados com eles a andarem por ali fazendo seu trabalho.
O tempo passava devagar, Lúcia sentia seu corpo ficar dolorido em algumas partes aonde o atrito com a madeira era maior, e o sacolejar da carroça começava a irritar a espera.
Continuaram andando por alguns minutos, por algumas vezes Lúcia sentiu que a carroça ia para a direita ou esquerda, deviam estar desviando de algum grupo de orcs ou obstáculos.
A carroça parou com um leve tranco, os faunos estavam sendo cuidadosos por conta de sua carga.
Lúcia ficou atenta, e pelo corpo rígido de Linade ao seu lado, ela esperava qualquer necessidade de terem que levantar rápido e começar a lutar.
Logo ouviram barulhos de portões se abrindo, tinham chegado.
— Andem com isso, os pastores não gostam de esperar pela comida.
— Precisamos pegar vassouras senhor, e a comida para eles na cozinha, e ainda esvaziar uma das carroças para transportar o alimento. — Bom menino. — disse Linade baixinho.
— Apressem-se! — Disse o voz com uma pronuncia estranha e a voz grossa.
A carroça voltou a andar, por alguns minutos. — Estamos chegando.
O fauno falava para o amigo ao lado, mas alto o suficiente para todos ouvirem e ficarem atentos, pouco tempo depois a carroça parou e o fauno falou baixinho.
— Podem sair, aqui eles não vão entrar.
Lúcia levantou com cautela, olhando para todo lado se certificando que estavam na casa, a tarde ia cedendo lugar a noite.
O fauno fechou a porta olhando várias vezes para fora amedrontado.
— Temos pouco tempo. — Linade falava enquanto levantava atenta aos lados e depois de garantir que estava tudo bem, saiu rapidamente da carroça.
Jiron foi rápido e também se livrou do monte de feno e voando para fora.
Abriram a grade da carroça maior e todos saíram atentos ao lugar.
Entraram em um quarto pouco iluminado e com um cheiro desagradável.
Vassouras, pás e cestos estavam por todo lado.
Lúcia falou com urgência. — Precisamos chegar ao quarto do rei.
— A cozinha é vigiada por dois do limbo senhor. — disse o fauno loiro em voz baixa
— Fora eles alguém mais entra na cozinha? — perguntou Luthiron.
— Somente nós, os outros só vão à cozinha quando atrasamos a comida ou são chamados.
Linade seguiu em direção à porta, segurando o arco na mão, abriu a porta devagar e espiou para dentro.
— Não atrasem a comida então. — disse ela para o fauno e voltou o rosto para dentro, rapidamente mandou duas flechadas enquanto entrava.
Escutaram apenas um gemido e o tombo dos dois, ela voltou colocando a cabeça para fora séria.
— Vamos! — Ela abriu a porta um pouco mais.
— Muito bom!— disse Dávolo impressionado.
Linade assentiu e ao passarem pela cozinha, viram faunos escondidos em vários lugares.
Balmac rosnou e falou em tom ameaçador. — Continuem o que estavam fazendo, olhou para o fauno que o acompanhava todo empertigado se sentindo importante por estar ao lado daquele grupo corajoso e rebelde.
— Aonde pensa que vai?
Ele parou e olhou feroz para ele. — Vou ajudar senhor, não quero ficar aqui e ficar cozinhando enquanto vocês lutam, quero ajudar de alguma forma.Balmac negou. — Se livrem desses dois, escondam os corpos e terá nos dado uma grande ajuda.
O fauno sorriu. — Isso será muito fácil.
Ele voltou para aonde estava os orcs caídos e chamou mais um deles para ajudá-lo e carregar aquela criatura.
Balmac soltou uma risadinha. — Criaturinha esperta. Gostei dele.
Linade parou na entrada para o corredor e viu várias portas, uma enorme no fundo do corredor mostrava que sairiam para um salão.
— Pode ir tranquila senhora. — Dizia uma fauna com um pano sujo amarrado na cabeça e um avental em situação igual. — Eles só vêm aqui para se divertir nos pondo medo, e dar ordens sobre alguma mudança do que levar ao forte, dormem do lado de fora, não dão muita atenção a essa casa que é depósito de tudo o que precisam.
Obrigado pela ajuda corajosa senhora. — disse Dávolo que estava logo atrás dela.
Esse pequeno elogio afetou a todos os outros faunos que estavam escondidos, saíram de seus esconderijos e se amontoaram para ver a criatura bondosa que tratou com bem aquela fauna.
Dávolo sorriu para eles dizendo com respeito. — Ficaria grato se ajudassem aquele rapaz a se livrar dos corpos.
Eles acenaram concordando e correram ajudar os dois que sofriam para arrastar o Orc, com tantos a ajudar logo tinham o corpo içado sobre suas cabeças.
Abriram a enorme portinhola aonde colocavam a lenha e jogaram o corpo lá dentro, o cheiro mudou rapidamente na cozinha, fazendo a maioria deles cobrir o nariz, mas alguns outros olhavam deliciados o fim daquela criatura que tanto os humilhou durante muito tempo.
Deixaram os faunos com sua breve vingança e seguiram, Lúcia tomou à dianteira, ela sabia onde ficava o quarto.
Já não sentia medo, nem mesmo desespero, estava calma e concentrada.
Chegaram ao salão, tudo estava vazio e em completa ruína, uma cadeira de pedra estava quebrada, o piso em mosaico estava cheio de buracos. Madeiras e sacos estavam por todo lado, o estado do salão era deplorável, nem parecia a casa por onde Lúcia havia andado em seu sonho.
Subiu as escadas com uma flecha no arco preparada para atacar se fosse preciso, mas realmente não esperavam qualquer invasão ou ataque, não naquela fase.
Lúcia andou pelo mesmo corredor, parou em frente ao símbolo inacabado na parede, ficou
com o olhar perdido e sem saber o que fez no sonho. A lembrança acabava ali, mas ela sentia que não era ali que tinha que ir, todos estavam atrás dela, olhavam o símbolo com atenção tentando descobrir alguma coisa através do olhar perdido de Lúcia.
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Crônicas Helenísticas- Niedra Livro 1
FantasyEla não imaginava que viajaria pelas terras de Heleno acompanhada de tantas criaturas, ela não imaginava que muitos povos dependiam dela, muito menos sabia que teria missões a cumprir e que a cada missão concluída com sucesso, um povo seria libertad...