Uma prova de amizade

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Depois de todos estarem dormindo Ádino acordou Lúcia. Segurava dois coelhos assados na mão.

Lúcia se levantou de um salto, estava nervosa. Desde a hora que tinham combinado, tinha esperado ansiosa o momento depois do jantar para poder por em prática.

— Tem certeza que ele não perceberá minha presença?

— Não se preocupe. Ele fica inconsciente nessa hora. Só depois que termina o alimento é que acorda. Há esta hora já está em transe, mas quero que saiba que poderá se assustar porque ele só abre a boca quando sente o cheiro do alimento bem perto do seu nariz.

— Você fala com ele enquanto ele se alimenta, mas ele te ouve?

— Sim ouve. Mas não pode se mexer, enquanto não volta em sua forma normal.

— Então se eu falar com ele, ele saberá que estou ali?

— Saberá que é você. Mas não poderá fazer nada. Aquele dia ele te pegou, porque você ficou até ele voltar praticamente.

Lúcia não perguntou mais nada, já sabia tudo o que precisava agora. Estava apavorada, quanto mais se aproximava de Luthiron, mais seu pavor aumentava. Não contava com a hipótese de presenciar sua transformação, pensou que ia vê-lo daquela forma horrível já quando chegasse.

Quando se aproximaram, Ádino fez sinal para Lúcia ficar quieta e o cumprimentou. Ele também estava nervoso, pois ate ele poderia perder a confiança de Luthiron.

— Olá companheiro, trouxe seu jantar.

Luthiron estava parado, estático, seus olhos estavam leitosos e não parecia ter sentido a presença de Lúcia. Ela continuou em silêncio esperando o sinal de Ádino, ele pegou o coelho e chegou bem perto do focinho de Luthiron.

Luthiron começou a revirar aqueles olhos leitosos, ele abriu a boca como se ele mesmo fosse comer normalmente, subitamente parou, e depois sua boca continuou a abri. Lúcia ouviu ossos estalando.

Conforme sua boca se abria mais e mais ela foi virando a parte superior para traz. Luthiron continuava parado, Lúcia ouviu um som como se algo estivesse fungando em seu estômago. Quando sua boca finalmente parou de abrir, a pequena boca monstruosa apareceu em sua garganta e veio vindo, parecia que fungava mais alto. Chegou perto de Ádino que segurava os coelhos, e começou a lamber a comida. Quando tirou o primeiro pedaço ,Ádino fez sinal a Lúcia, pois Luthiron não podia voltar mais, só depois de alimentado agora.

Ela segurou o coelho com determinação. Era agora ou nunca, começou a falar para que Luthiron pudesse saber que era ela:

— Vamos Luthiron, aproveite que hoje tivemos fartura, temos nos alimentado mal ultimamente. Eu e Ádino reservamos dois desses coelhos para que se alimente bem, talvez amanhã não tenhamos muita sorte.

Lúcia olhou de canto para Ádino pedindo desculpas silenciosas pela mentira, afinal ela nem sabia o que ele iria comer naquela noite.

Ádino entendendo o que ela queria dizer sorriu balançando a cabeça.

Cada vez que aquela boca abria para arrancar um pedaço, subia um pavor em Lúcia, tinha medo de ir uma mão dela junto.

Mas sua determinação era mais forte, nem piscava, só olhava aquilo se alimentar, e aos poucos o medo foi sumindo. Ela falava com ele como se ele estivesse normal, até não restar mais nada dos dois coelhos.

O coração de Lúcia estava aos saltos, pelo receio de qual seria sua reação ao voltar. Depois que terminou de se alimentar a criatura voltou devagar sumindo pela garganta de Luthiron.

Crônicas Helenísticas- Niedra Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora