O rapto

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Lúcia continuou a gritar, já não se importava mais se algum zargon aparecesse, não podia deixar Balmac ali caído e sem socorro.

O som da luta estava mais fraco, logo o que restava era apenas o barulho do vento, que soprava com fúria como se tentasse participar da raiva de sua raiva.

Logo ela começou a escutar a voz de Linade e os outros ao longe chamando por ela e Balmac.

— Aqui! — gritou o mais alto que conseguiu. — O sopro do vento parecia continuar a engolir suas palavras antes que chegassem aos ouvidos dos outros, mas logo apareceu Linade correndo seguida de Ádino e Jahil.

Jiron e Caluto tentavam com esforço chegar, travando batalha agora com o vento forte. Que teimava em jogá-los longe.

Linade ajoelhou assustada, olhando para a neve manchada de vermelho e para Balmac, em seguida a encarou angustiada. — Está bem? Esse sangue é de vocês dois?

Lúcia respondeu desesperada. — Não é meu, é apenas dele, está machucado e perdendo muito sangue, ajude-o, salve ele vó.

Linade assentiu, tentava manter a calma, mas estava sendo traída por seus olhos úmidos e agora esverdeados. Quando Ádino se ajoelhou Linade o olhou com súplica.

— Não consigo carregá-lo Ádino me ajude, precisamos ver como ele está, antes que seja tarde demais.

Ádino levantou Balmac e o colocou com cuidado com as costelas machucadas viradas para cima.

Tendo a visão do ferimento Lúcia se desesperou ainda mais. Um corte enorme começava no alto das costas e descia quase até a barriga, tinha um pouco do couro pendurado e as bordas do corte estavam lacerados pelos dentes do maldito zargon

Ádino gemeu ao ver aquilo e carregou Balmac com o ferimento para cima, tentando correr pela neve até chegar aos sacos deixados onde haviam sido atacados.

Quando conseguiu encontrar o local, ajoelhou com ele ainda em seu colo, Linade segurava as peles na direção do vento para que Ádino pudesse trabalhar.

Lúcia a ajudou com a outra ponta, não conseguia pensar em nada, apenas rezava para que Balmac não morresse.

Ádino trabalhou rapidamente, costurando o corte sem se incomodar com os gemidos de dor de Balmac. Em seguida pegou varias raízes e começou a amassá-las com as mãos espalhando em cima do ferimento e enfaixando em seguida, por fim colocou um pedaço de raiz escura e retorcida na boca de Balmac.

— Mastigue isso meu amigo.

Balmac não emitia mais nenhum som, mastigava a raiz com dificuldade. Linade estendeu a pele no chão e Ádino o colocou em cima e o cobriu com as outras.

Lúcia não tinha visto Luthiron em lugar algum, esperançosa imaginou que ele devia estar procurando algum abrigo para que Balmac pudesse descansar. Perguntou ansiosa para receber uma boa notícia.

— Como ele está Ádino?

— Perdeu um bom tanto de sangue, mas a ervas vão ajudar a coagular ajudando a fechar o corte. Dei a ele uma erva que ajuda a evitar a dor e acelera o sono, ele precisa ficar quieto até as ervas fazerem efeito, vamos saber quando ele acordar, precisamos mantê-lo aquecido por agora.

Linade levantou ainda com os olhos úmidos e preocupados. — Vamos buscar as coisas que ficaram espalhadas Lúcia.

Jiron estava quieto ao lado de Balmac, estava na direção do vento para tentar barrar um pouco do frio acompanhado de Jahil que tentava o mesmo.

Caluto estava silenciosa ao lado de Jahil, os dois estavam tristes e abatidos, era difícil ver um amigo em risco de morrer e não ter muito que fazer para ajudá-lo.

Lúcia procurava seu punhal em meio à neve que havia abrandado, voltou ao local aonde havia lançado o primeiro não tendo dificuldade em encontrar, ainda estava preso a perna do zargon morto.

Depois que juntaram tudo voltaram e deixaram empilhados formando uma barreira para tentar proteger Balmac um pouco mais do frio.

O tempo passava e nada de seu amigo voltar, Lúcia ainda não entendia o sumiço de Luthiron, estava demorando a chegar e poderia estar em perigo sozinho andando por ai.

— Aonde foi Luthiron Linade?

Todos baixaram a cabeça, não olhavam Lúcia nos olhos e um medo começou a crescer em seu ser pela reação que estavam tendo.

— Ele foi capturado Lúcia. — Disse Linade a olhando com tristeza. — Não conseguimos evitar, eram muitos em cima dele e estávamos todos espalhados.

— Eu tentei ajudá-lo. — Respondeu Ádino balançando a cabeça frustrado. — Mas quando estávamos conseguindo nos aproximar e quando íamos lutar com os que o atacavam, muitos dos outros correram em nossa direção, parecia que queriam pegá-lo mesmo, ele era o alvo.

— Nos deixaram no meio da batalha e correram ajudar os outros contra Luthiron. — Emendou Caluto. — Apenas uns poucos ficaram para nos distrair e nos segurar no lugar.

Ádino assentiu. — Acho que já vieram com essa intenção, pois amarram cordas e foram imobilizando ele com pressa e depois que ele estava preso quase todos vieram para cima de mim.

E do nada, me deixaram parado e correram, sumindo atrás dos outros, foi então que vi que Luthiron já havia sumido.

Lúcia não conseguia emitir nenhum som, chorava em silêncio, não sabia se teria sido melhor contar o sonho antes, se sentia culpada pelos acontecimentos.

Linade, como sempre, conhecia Lúcia perfeitamente para saber o que lhe ia à cabeça naquele momento.

— Não adianta se culpar Lúcia, você sentiu que não deveria contar e nós respeitamos isso, e mesmo que tivesse nos contado não teríamos conseguido evitar os acontecimentos, eram muito deles, e isso teria acontecido nós sabendo ou não do ataque.

— Saber ou não, não iria fazer diferença hoje. — disse Jahil cabisbaixo, continuou quase em sussurro como se ainda desacreditasse. — Falhamos amargamente, e Luthiron foi capturado, podendo estar morto nesse momento e ainda temos o risco de perder Balmac também.

Linade falava olhando para um ponto distante, seu olhar perdido de preocupação. — Acho que agora minha visão está parcialmente explicada, a visão que eu tive dos zargons correndo pela floresta deve ter sido para nos alcançar, como eram apenas árvores que vi não consegui distinguir que floresta era. E como disse Jahil, agora podemos ter duas baixas no grupo se Balmac não aguentar e Luthiron não conseguir se livrar dos zargons, somente um milagre para que consiga fugir deles e sobreviva.

— Luthiron não está morto. — Lúcia falou com segurança, fazendo todos levantar a cabeça para olhá-la. — Não está.

Não entendia o porquê, mas sabia que ele estava vivo, ou sua vontade era grande demais de que isso fosse verdade para estar tão segura do que dizia.

Ádino entregou a cada um uma porção de carne, esse gesto pôs fim aquela conversa, não adiantava nada ficar falando disso, como se fosse um acordo mudo, todos sabiam que teriam que continuar a viagem e o que lhes restava era torcer para que Luthiron não tivesse um triste fim.

Olá pessoal, aí está mais um pedacinho, tenham calma vi, estamos chegando lá.... Beijos :D

Crônicas Helenísticas- Niedra Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora