Academia Lawrence

05- Villa velha

Chris se levanta da cadeira com o rosto transbordando de raiva, por um momento, temi que fizesse algo contra mim. Mas com passos pesados, ele apenas sai da sala ignorando as chamadas do professor ao bater a porta com força. Realmente não foi minha intenção que ele ouvisse meu comentário, mas só ao ver sua reação, notei a acidez e o peso com que minhas palavras saíram. Se ele realmente é o filho do jogador de beisebol falecido, sinto-me agora a pior pessoa do mundo.

- Tinha que ser a queridinha da Lawrence ao falar o que não deve- Ouço a voz de Mike Swift logo atrás, o garoto revoltado por ter sido rejeitado por mim na oitava série. Parecia nunca ter me superado, já que sempre que tinha uma oportunidade para me humilhar, ele o fazia- você não tem um pingo de noção, não é?

- Fica quieto, Mike- Respondo sem lhe dar o prazer de ver meu rosto- não era minha intenção ter falado tão alto.

- Você vacilou mesmo, Kimberly- Quem fala agora é Rúbia, a garota mais inteligente da sala. Às vezes, eu e Ester íamos beber na sua casa- agora pude comprovar que ele, de fato, é mesmo filho de Paul Taylor só pela maneira como reagiu.

Então todos começam a entrar numa discussão novamente, mas Hadley não nos dá nem chance.

- Chega de conversa. Acho que já deu de intriga por hoje- Ele diz voltando sua direção para a lousa- vamos começar a aula.

- Mas e as apresentações?- Alguém pergunta.

- Também não quero mais saber. Querem mesmo se conhecer de verdade? Terão tempo de sobra no intervalo.

Após longos suspiros de desaprovação da maioria, começamos a aula.

~

A hora do intervalo chega e os alunos logo se dirigem para fora da sala. Guardo meu material calmamente até tudo estar organizado. Após me voltar para Ester que está sentada atrás de mim, lhe lanço um sorriso. Ela logo retribui.

- Vamos comer!- Comemora feliz.

Nos dirigimos para a cantina. A maioria dos alunos já está aqui. Alguns que se sentam entre as cadeiras de plástico, comem como se não vissem um prato de comida a anos. Vou com Ester para a lateral da cantina onde já se encontram extensas filas de alunos prontos para comprar seu lanche. O que não faltava aqui na Academia Lawrence, era opções de alimentos e bebidas para vender. Tudo, claro, sempre de alta qualidade.

Em todo o lugar perfeito do colégio eu via apenas um defeito, a localização das vendas, pois tudo ficava direcionado apenas em um lado da cantina e isso deixava um aglomerado de alunos famintos. E isso também, retardava o tempo de espera. Já na fila e seguindo o ritmo de todos, foco meus olhos em Ester que observa a paisagem perdida em seus próprios pensamentos.

- Mandei muito mal ao dizer aquilo?- Eu precisava fazer essa pergunta ou morreria entalada.

De início, ela me olha com uma expressão confusa, mas logo parece se lembrar do acontecido.

- Olha... Se ele realmente é filho do Paul Taylor, mandou sim.

Solto um longo suspiro de frustração.

- Não devia ter falado aquilo- Digo.

- Você ainda tem ressentimento do que aconteceu, não é?

- Como não teria?

- Aquilo já faz algum tempo- Ela continua- sabe, você devia esquecer isso e tentar jogar beisebol novamente.

- Nunca.

A verdade era que eu amava beisebol, mas depois do que aconteceu quando eu era mais nova, nunca mais ousei segurar um taco de novo.

~

3 anos antes...

Eu me sentia animada, pois pela primeira vez iria participar de um jogo de beisebol e não apenas assistir a um. Viajei com minha família para o interior da villa velha nas férias. Viajamos todos juntos pela primeira vez, e última.

Já vestida adequadamente para participar do jogo que aconteceria no campo de um dos nossos parentes, eu segurava o taco firmemente nas mãos. Alguns primos e amigos estavam aqui também. De longe, pude avistar o rapaz que eu era apaixonada. Seu cabelo loiro balançava com o vento enquanto conversava com um dos meus primos.

Logo me dirijo para o centro do campo. Daqui também consigo ver minhas duas tias que acenavam para mim exibindo um sorriso discreto. Ao lado delas, estava meu pai e minha mãe como sempre, admirando Melissa, a filha "perfeita" aos seus olhos. Opto por ignorá-los já acostumada com a preferencia clara de ambos. Arrasto meu pé deixando uma marca na terra, logo, vejo uma bola de beisebol próxima.

Vou em sua direção e abaixo-me para pegá-la, e quando já está em minha mão, Melissa aparece de repente e tenta tomá-la de mim.

- O que está fazendo?- Pergunto.

- Dê-me a bola. Eu que irei lançar na primeira partida!

- Faça o que quiser- Seguro a bola com mais força- mas pegue outra, há várias na cesta.

- Não, eu quero esta!- Insistente, ela tenta puxá-la da minha mão mais uma vez.

- Não seja infantil!

Então Melissa avança para tentar arrancá-la de mim a força, logo afastando meu braço, me desvencilho de suas mãos e sem querer, bato o taco de beisebol levemente em sua cabeça. A pancada nem chegou a ser forte, aliás, mal tocou sua cabeça, mas mesmo assim, ela gritou exagerada.

Logo fingiu sentir dor e quando percebeu que todos apenas nos olhavam assustados, se jogou no chão e em seguida, berrou várias vezes como se eu tentasse lhe esganar. Desesperados e sem notar sua má interpretação, meus pais se aproximaram apressados em socorrê-la. Minha mãe lhe acudia abaixada enquanto meu pai me lançava um olhar de desaprovação.

- Eu não fiz nada!- Desesperada com o que ele poderia fazer, me defendo.

- Olhe o que você fez!- Mamãe grita com o rosto irritado voltado para mim- machucou minha linda princesa!

- Eu mal encostei nela!

- Deu para mentir agora?- A voz do meu pai sai carregada de raiva.

- Por favor, eu não estou...

Mal pude terminar minha frase, antes sua mão veio direto no meu rosto. Com o impacto da força, recuo para o lado e sinto certa tontura. Automaticamente, ponho as mãos sobre minha bochecha e volto o rosto para meu pai que não parecia nada arrependido com seu ato. Logo sinto meus olhos arderem com a chegada das lágrimas.

- Isso é para você aprender a nunca mais mentir para mim- Conclue voltando sua atenção para Melissa que tentava esconder um sorriso satisfeito.

Vi que todos olhavam para nós, inclusive o rapaz que eu era apaixonada. Então envergonhada e humilhada, saio daquele lugar para nunca mais voltar.

• Nota da autora •

Que pesado, heim. Esses são os pais que eu não gostaria de ter para mim. Então está ai o motivo de nossa Kimberly não gostar de beisebol. Contem-me o que acharam nos comentários e se gostaram do capítulo, deixem seu votinho :3