55- Desespero

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Tocava a bandagem em volta da minha mão sentada no sofá. Eu sentia o nervosismo tomando conta de mim ao longo que os minutos passavam. Charles havia sido claro na ligação sobre o que faria comigo quando a gente voltasse do colégio para casa. Eu sei que devia ter contado isso para Chris, mas a expressão que ele mantinha no rosto me assustava. Não por achar que ele poderia fazer algo contra mim, Chris já me provara que nunca seria capaz de me machucar, mas o que realmente me assustava, era o que ele poderia fazer por mim.

Ao mesmo tempo que me sentia perdida e amedrontada, também me sentia muito feliz. Chris me amava, e esse sentimento era totalmente recíproco. Mas se Chris me amava o tanto quanto demonstrou noite passada, e pelo que lhe conheço, ele fará o possível e impossível para me manter livre de Charles. E o que eu temia, é que isso tivesse haver com a sua demora em voltar do quarto. Talvez estivesse arquitetando um plano de fuga ou algo assim, ou talvez seja apenas fruto da minha imaginação.

Eu já começava a pensar na possibilidade de ir atrás dele quando o vi entrar na sala de estar. Sua expressão estava séria e fria.

- Vamos?- Ele diz se movendo até a porta.

- Por que demorou tanto?

- Estava pegando uma coisa.

Chris certamente me escondia algo, mas sua expressão estava tão estranha que preferi não dizer nada. Então apenas fomos ao colégio.

~

Faltavam poucos minutos para a aula começar e cheguei a pensar que Ester não viria hoje, até que a vi entrar na sala toda desajeitada. Seu cabelo estava amarrado em um coque assanhado e olheiras escuras sob seus olhos lhe davam um ar de noite mal dormida. Ester logo se adianta em sentar no seu assento atrás de mim, logo fazendo-me virar em sua direção ao me cutucar.

- Onde você se meteu ontem a noite? Te liguei várias vezes e você não atendeu.

- Vi suas chamadas perdidas logo cedo- Respondo- mas acabei esquecendo de retornar, desculpe.

- Tem noção do quanto fiquei preocupada achando que aquele bêbado havia lhe feito algo?

- Sinto muito.

Então Ester suspira, cansada.

- Você voltou pra casa?

- Não, estava com Chris.

Ela arregala os olhos.

- Vocês...

A professora logo entra na sala interrompendo Ester e agradeço internamente por isso. Eu realmente não estava preparada para enfrentar suas perguntas constrangedoras agora. Então tocando o sinal, a aula logo se inicia. Estávamos perto da época de provas, então cada assunto dado era de extrema importância. Concentro-me tanto na aula que o tempo passa e mal vejo. Quando menos espero, chega a hora do intervalo.

Passei boa parte na cantina com Ester e Rúbia lhes ouvindo dizer como a noite na balada havia sido divertida, mas para a minha sorte, elas estavam tão entretidas entre si, que acabaram se esquecendo de perguntar qualquer coisa para mim e sobre meu sumiço. E em todo esse tempo, procurei Chris com os olhos e não o encontrei. Já pensava em ir em sua procura pelo colégio quando o intervalo acabou.

Logo fomos até a sala de aula. Respiro aliviada quando encontro Chris sentado em sua carteira com os olhos fechados enquanto usava fones de ouvido. Penso que talvez nem tenha saído da sala e sinto-me tranquila quanto a isso. Mais uma vez, o tempo passa rápido. O sinal toca anunciando o fim das aulas e adianto-me em arrumar meu material escolar, até que ouço meu nome ser chamado pelo interfone.

Kimberly Evans, da turma D, do segundo andar. Por favor, compareça à sala da direção.

Sinto meu coração disparar na mesma hora. Penso na possibilidade de meu pai querer me castigar mais cedo do que esperava, e internamente, implorava para que não fosse isso. Agora tendo alguns olhares curiosos sobre mim, pego minha mochila e saio da sala. Eu nem se quer ousei olhar para Chris, pois não queria que visse a expressão de medo se formando aos poucos em minha face. Dirijo-me lentamente até a sala do meu pai sentindo meu coração quase saindo pela boca. Quando chego, abro a porta da sala e logo posso vê-lo.

- Entre- Sua voz soa rígida- e feche a porta.

Engulo em seco e viro-me para fazer o que ordenou. Ao tocar a maçaneta, vejo minha mão tremendo. Então respiro fundo e solto o ar devagar tentando de alguma forma, manter a calma. Quando fecho a porta, ouço os passos de Charles vindo em minha direção.

- Você adora apanhar, não é?- Diz atrás de mim- como ousa me desobedecer outra vez?

Eu não tinha coragem o bastante para conseguir me virar, ou se quer, pronunciar alguma palavra.

- Vadia, eu a vi quando entrou no colégio ao lado daquele delinquente!- Ele pausa por alguns segundos- olha pra mim enquanto falo com você!

Ele me segura e me vira em sua direção com brutalidade.

- Hoje te darei um lição que você jamais vai se esquecer- Ele cuspia as palavras em meu rosto- vagabunda!

Mal tive tempo de reagir quando uma de suas mãos veio direto no meu rosto. Com o impacto forte, sinto meu corpo recuando. Charles apenas me solta me deixando cair no piso, e logo sentindo minhas mãos contra o chão, meus cabelos se bagunçam cobrindo meu rosto. Sinto a dor latejando em minha bochecha enquanto as lágrimas já desciam sobre a mesma.

- Vá para casa, lá te mostrarei o que você merece- Ele diz voltando a se sentar em sua cadeira.

Então com a mão dolorida na bochecha e as pernas trêmulas, lavento-me com dificuldade e me ponho de pé. Enxugo as lágrimas e abro a porta saindo em seguida. Se meus batimentos cardíacos já estavam acelerados, se tornaram ainda mais rápidos ao encontrar Chris no fim do corredor olhando para mim.

Ele se dirige em minha direção rapidamente ao ver meu estado. Então logo tocando meu rosto com suas mãos e analisando a minha bochecha, provavelmente vermelha, sua expressão que parecia sentir a minha dor logo se transformou em raiva.

- Isso vai acabar agora- Essas foram as suas palavras antes de se afastar de mim e ir em direção a sala de Charles.

Eu não havia entendido o que disse até vê-lo tirar algo preto da sua cintura, mas ao identificar o objeto que segura com tanta firmeza nas mãos, perco o fôlego.

Era um revólver.

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