Academia Lawrence

46- Rolling in the deep

Estava indo para a sala de aula após o fim do intervalo quando uma loira se aproximou para falar comigo. Levei alguns segundos até lembrar de que era a amiga de Kimberly. Ela não precisou nem abrir a boca para eu saber do que se tratava.

- Se veio aqui falar por Kimberly, pode esquecer.

A garota se surpreende com a minha maneira de falar, mas logo demonstra irritação.

- Então você está mesmo a evitando?

- Não está óbvio?- Se eu precisava manter Kimberly longe de mim, só havia uma maneira de fazer isso.

- Por que está fazendo isso?

- Fazendo o quê?

- Ignorando Kimberly?!

Aproximo-me mais até estarmos frente à frente.

- Porque me cansei dela- Respondo em um tom frio.

- Você não pode usar as pessoas dessa forma!

- Ah, não?- Chego mais perto fazendo-a recuar intimidada- então posso tentar de outra forma com você.

A garota abre a boca para me dar uma resposta, mas o sinal toca lhe interrompendo. Então ela apenas vai embora irritada e pisando forte.

~

Entro no diner para mais um dia de trabalho, mas ao ver Jack atrás do balcão me fuzilando com os olhos, tive certeza que hoje não seria um dia tranquilo.

- Como teve coragem de nos deixar presos naquela delegacia?!- Ele diz quando mal chego perto- tem noção do quanto sofri achando que ficaria ali para sempre?!

Adianto-me em sentar no banco para lhe explicar o que aconteceu, desde a conversa entre minha mãe e Charles, as fãs, repórteres e a minha pequena visita ao hospital.

- Nossa, cara- Diz- e como se sente agora?

- Bem, na medida do possível. Onde está Jeffrey?

- Ah- Suspira- você não vai acreditar em quem apareceu quando estávamos lá.

- Quem?

- Luiza. Eu falei pra ele não ligar para ela, mas Jeffrey insistiu afirmando que ela não iria de qualquer forma, mas quando Luiza não só apareceu, ela apareceu e ainda com o marido atual que pagou a nossa fiança, ele ficou muito mal.

- Idiota- Resmungo- e onde ele está?

- Na cozinha se lamentando enquanto escuta Adele- Rolling in the deep.

Levanto-me do banco e vou em direção à cozinha. Abro a porta lentamente e o vejo cantar trechos da música enquanto varre o chão impecavelmente limpo com a vassoura de palha.

...Could have had it all
Rolling in the deep
You had my heart inside of your hand
But you played it with a beating...

Após dar um giro, o vejo com lágrimas nos olhos acompanhando o ritmo da música nunca dança lamentável.

...Throw your soul through every open door
Count your blessings to find what you look for
Turn my sorrow into treasured gold
You pay me back in kind and reap just what you sow...

Logo, Jack aparece atrás de mim.

- Ele já está nisso por horas.

Então ouço a porta da frente se abrindo e vejo os primeiros clientes chegando.

- De qualquer forma, temos que trabalhar- Concluo.

Após horas servindo lanches, fazendo pedidos e limpando mesas, Jeffrey finalmente parece se sentir melhor enquanto se concentra em fazer seu serviço direito. Eu estava perto de largar quando um grupo de quatro garotas risonhas entra no diner. Elas se sentam na mesa do canto. Teria pedido a Jeffrey para atendê-las quando as notei me secando com os olhos, mas quando vi que ele já estava ocupado com um cliente, optei por eu mesmo ir.

- O que desejam, senhoritas?

- Você, seu gostoso- Uma delas cochicha para a amiga, mas foi alto o bastante para que infelizmente, eu pudesse ouvir.

- Jéssica!- A morena lhe dá uma cotovelada no ombro- acho que ele ouviu.

Levanto uma sobrancelha, mas acho melhor não me manifestar.

- Deixem de conversa e falem logo o que querem- Diz a que está com o celular nas mãos.

Após fazerem seus pedidos, adianto em me afastar da mesa. Então enquanto elas aguardam, acabo indo limpar a mesa ao lado delas por ordem de Jeffrey, que infelizmente, não notara a minha pressa em manter distância delas. Estava esfregando o pano na superfície lateral da mesa quando ouvi uma delas assistindo a um programa no celular.

-... Chris Taylor realmente foi pego no flagra com um carro que não pertencia a ele? E ainda, sem carteira de motorista?

Pergunto-me se essas pessoas não tinham coisa melhor pra falar.

- O diretor da Academia Lawrence, Charles Evans, explicou o que aconteceu numa entrevista.

- Na minha opinião, ele só estava escondendo a verdade. Chris Taylor nunca foi boa peça para mim, e gente, desmaiar na frente das câmeras? Isso para mim foi sua forma de fugir das perguntas.

- O que está insinuando?

- Nada, mas de uma coisa eu sei, Paul Taylor deve está muito decepcionado com o filho.

Fecho os olhos e cerro os dentes. O que esses malditos pensam que sabem para ousar falar alguma coisa de mim ou meu pai? Logo deixando o pano de lado, apresso-me em sair do diner sentindo meu sangue ferver. Ignoro as chamadas de Jeffrey e fecho a porta de vidro atrás de mim com força. Agora sentindo o frio da noite e dando um longo suspiro tentando aliviar a repentina raiva, vou em direção ao único lugar onde sinto paz.