24- Consequências da perda

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Sentia-me completamente exausto. Passei a noite em claro no hospital com minha mãe, e durante a manhã, consegui dormir e acordar só na hora do almoço. Rebecca estava sentada na cama fazendo sua refeição enquanto eu sentava no sofá próximo a parede. Ela parecia mais corada e com mais força, o que me deixava extremamente aliviado, porém ainda sentia-me meio irritado. Seu olhar se dividia entre mim e sua comida. Era como se ela soubesse exatamente o que eu estava pensando.

- Sinto muito fazê-lo passar por isso novamente- Diz com a voz ainda meio fraca.

Olho para baixo por um momento. É como se as lembranças de tudo o que passei nesse hospital viessem à tona.

- Me prometeu que não faria de novo.

- Eu sei, querido.

- E então?- Volto meus olhos para ela.

- Eu não pretendia, mas quando vi aquela maldita reportagem fazendo acusações contra seu pai...- Ela segura as lágrimas- fui buscar um calmante no banheiro, mas naquele instante, quando vi todos os remédios... Achei que seria mais fácil morrer ali mesmo.

Me doía apenas em ouvi-la dizer aquilo, mas eu não podia demonstrar. Todo esse tempo tenho sido seu alicerce, e se eu desmoronasse, ela ruiria junto.

- Tem ido ao psicólogo?- Pergunto apenas.

- Não esses dias- Logo lhe lanço um olhar de repreensão e Rebecca se adianta em se defender- filho, me perdoe. Prometo que não farei outra vez.

É claro que ela faria. Minha mãe ficava bem na maior parte do tempo, mas bastava ouvir algo ruim relacionado ao meu pai, ou até, algum pensamento negativo seu para ela fazer tudo de novo.

- Venho tentando achar muitas soluções para isso, mas só encontro uma maneira.

- Do que está falando?- Ela pergunta.

- Sobre você ficar sozinha em casa. Não posso permitir mais isso.

- Filho, sou...

- Bastava eu chegar alguns minutos mais tarde ontem de noite para você estar morta agora!- Ela tenta contestar de novo, mas parece optar por não dizer nada. Então continuo- chamarei Charlene e Clara para virem morar conosco.

- Não. Ela são umas queridas, mas não posso permitir isso, e aliás, não preciso desse tipo de cuidado.

- Não? Então o que estamos fazendo aqui?

- Já disse que isso não vai mais acontecer.

- Não é a primeira vez que isso acontece, mãe. Não lhe culpo por isso, mas deve entender que se existe algo que você não pode controlar, também não pode garantir que não aconteça.

- Mas eu já me sinto melhor agora.

- Já está decidido.

- Mas eu sou sua mãe e não irei permitir isso!

- Prefere que eu apenas a veja todos os dias pensando numa forma de se matar quando eu não estiver por perto?

- Quantas vezes terei que dizer que não farei mais isso?

- Você vai, mãe. Você sempre faz.

- Você não confia mais em mim?

- Essa não é a questão.

- Mas é o que está parecendo- Ela parece se irritar- você nem ao menos acredita na sua própria mãe?!

- Só estou tentando te manter viva!

- Será que se importa mesmo ou só quer chamá-las para se livrar do fardo que sou?

- Mãe, veja o absurdo que está dizendo...

- Seja sincero comigo, Chris. Por mais que me doa, diga-me se prefere que eu suma da sua vida de uma vez!

Fecho os olhos tentando manter a calma. Brigar com ela nesse estado não seria a melhor opção. Então apenas respiro fundo e tento organizar meus pensamentos.

- Desde que o pai morreu, tenho tido que suportar muita coisa. Você a cada dia está mais distante da realidade e só volta para ela quando precisa me dar uma bronca por algo errado que fiz. Se tudo o que tenho feito é tentando te manter viva. Quando penso que você está melhorando, tudo volta e parece se esquecer de que sou seu filho, que ainda sofro com a falta do pai, e vê-la assim... temo perdê-la também. Mas quer saber... Esquece. Apenas esquece o que eu disse.

Ainda sentindo meu coração batendo forte contra o peito, saio do quarto e vou em direção ao banheiro. Apoio as mãos na pia e fecho os olhos com força. Logo sinto o ardor das lágrimas que ameaçam descer. Volto minha atenção para o espelho a minha frente e vejo a imagem do meu pai. É como se ele estivesse aqui. Eu sentia tanto a sua falta.

Então fecho os olhos e os abro mais uma vez. Estou, talvez, no meu pior estado possível. Abro a torneira e deixo a água fria cair sobre minhas mãos, logo fazendo uma concha, lavo meu rosto. Quando me sinto mais calmo, saio do banheiro e sento-me na cadeira de espera mais próxima do corredor. Eu já estava certo sobre isso e nada do que Rebecca dissesse me faria mudar essa decisão. Logo alcanço meu celular no bolso da calça jeans e faço a ligação que mudará nossas vidas.

~

Chegamos em casa após minha mãe ter recebido alta do hospital. Ficamos todo o trajeto em silêncio até que resolvo dar a primeira palavra desde que anoiteceu.

- Clara virá amanhã.

- O quê?

- Pode brigar comigo o quanto quiser, mas já está feito- Conluo.

Sem olhá-la para saber se diria algo a mais, dirijo-me até meu quarto. E a julgar pelo seu silêncio, acredito que não virá atrás de mim. Então logo deitando na cama, pergunto-me se fiz realmente a coisa certa.

Nota da autora •

Eu quis focar nesse capítulo em um dos muitos problemas que Rebecca e Chris estão enfrentando desde a morte de Paul. Espero que tenham gostado! Mas e essa história de Clara ir morar com Chris? Não sei não, haha. Não se esqueçam do voto que me ajuda demais e de deixar sua opinião 💚 bjoos

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