57- Papo sério

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Já haviam passado alguns minutos desde que esperávamos Richard Feldman chegar. Ele é filho do fundador da Academia Lawrence e desde que seu pai morreu tomou seu lugar. Ou seja, Richard está na hierarquia mais alta do colégio. Soube que viajou para resolver um problema com seu filho e ficou um tempo afastado do colégio, assim deixando meu pai tomando conta de tudo por aqui temporariamente. Eu só não esperava que ele voltaria tão cedo.

Chris afirmara que já se sentia melhor e por isso se levantou da cama. Agora, estava sentado ao meu lado enquanto mexia na minha mão apoiada em sua perna. Eu encarava seu belo rosto enquanto seus olhos estavam concentrados nos meus dedos. Ele parecia emerso em pensamentos e a cada segundo, eu me encontrava cada vez mais curiosa para saber o que se passava em sua mente.

- No que está pensando?- Pergunto enquanto seus olhos se voltam para mim ao ouvir minha voz.

Ele demora alguns segundos me observando antes de responder.

- Em uma forma de te tirar daquela casa.

Não poderia ser em outra coisa, eu penso. Depois do que aconteceu hoje, nem eu mesma sei se teria coragem de voltar para casa outra vez.

- E quais são suas opções?

- Fugir com você.

Acho graça e deixo um sorriso escapar, mas quando percebo sua expressão ainda séria, o sorriso aos poucos some dos meus lábios. Entendo na mesma hora que Chris não estava brincando.

- Está falando sério?

- Mais do que sério.

- Chris...- Digo ainda tentando acreditar - e aonde iríamos?

- Para qualquer lugar longe de Charles.

Eu precisava admitir, era tudo o que eu mais queria. Sempre vivi uma vida de sofrimento. E por mais que eu tentasse fugir, nunca consegui, pois Melissa sempre esteve presente para me atrapalhar. E muitas vezes, quando tive outras oportunidades, acabei desistindo por medo. Mas dessa vez era diferente, pois eu não estava sozinha. Chris estava ao meu lado e só isso importava para mim. Então erguendo a mão e tocando seu rosto, fito seus olhos.

- Eu iria a qualquer lugar com você.

Logo aproximando meu rosto do seu, o beijo. Com a sua mão, Chris toca minha nuca e me puxa delicadamente me trazendo para mais perto de si. Eu nunca me cansaria de poder sentir seu toque e seu sabor. Então nos interrompendo, a porta da enfermaria se abre e logo nos afastamos.

- Senhor Richard- Digo enquanto me ponho de pé. Chris faz o mesmo em seguida.

- Espero não estar atrapalhando o casal- Ele diz se aproximando.

- De forma alguma- Respondo de imediato e percebo Chris me lançando um olhar meio contrariado.

Richard esboça um leve sorriso e logo se senta na cadeira perto de nós. O mesmo cruza as pernas elegantemente e faz um gesto para que voltemos a nos sentar. Logo fazemos o que pede. Ele nos encara por alguns segundos enquanto nos analisa, e isso me deixa nervosa, de certa forma.

- Quando viajei para outro país, fui na esperança de que quando voltasse, as coisas já estivessem diferentes- Começa dizendo- lembra-se do baile de máscaras que aconteceu aqui no final do ano passado, Kimberly?- Eu não entendia onde ele queria chegar, mas apenas lhe dou um aceno- lembra-se também do que aconteceu no estacionamento no final da festa?

Foi exatamente nesse dia que meu pai me bateu de maneira intensa. O motivo? Ele jurou que eu estava me engraçando com um aluno de outra turma na festa. As pessoas nem suspeitaram de nada depois, já que ele lhes dissera que eu entrei numa briga com uma garota e fui atropelada por um carro em seguida. Sentia meu coração acelerado só de me lembrar desse dia.

- Eu nunca vou me esquecer- Respondo tentando manter a voz firme, mas falho.

- No dia seguinte quando isso aconteceu, vi pelas câmeras de segurança o que havia acontecido de verdade. E assim como ele...- Richard volta seu olhar para Chris por um momento- também desejei fazer uma grande besteira. Pensei em tomar providências naquela hora, mas foi exatamente naquela hora em que recebi uma ligação da minha esposa desesperada afirmando que nosso filho havia pegado nosso carro escondido e sofrido um acidente enquanto estava bêbado. De qualquer forma, tive de ir até eles sem pensar duas vezes, mas antes de partir, tive uma conversa séria com seu pai na qual ele me prometera uma mudança no seu comportamento. Então você deve imaginar o quão estou decepcionado agora.

- Ele nunca parou...- Digo com a voz baixa lembrando-me de cada dor que já senti por sua causa.

- Então está na hora de darmos um basta. Não posso permitir que ele continue a trabalhar aqui e nem que você continue a morar com ele. Sei que você fará dezoito anos em breve e se quiser um conselho meu, te digo para ir embora daqui e estudar em outro colégio. Terá toda a minha ajuda no que precisar. Vá embora daqui e viva uma nova vida. Recomece em outro lugar e se esse rapaz está mesmo com você, leve-o. Vivam juntos longe daqui e saibam que terão meu total apoio. Pretendo denunciar Charles usando aquelas imagens das câmeras e algumas testemunhas. Tenham certeza de que o destino de Charles já está decretado. Enquanto isso, pegue suas coisas, Kimberly. Fique em outra casa temporariamente.

- Há um lugar em que posso levá-la- Chris se manifesta.

- Ótimo, rapaz. A mantenha em segurança. Estarei resolvendo tudo.

- Não sei como agradecê-lo, senhor Richard- Eu digo.

- E não precisa. Fique a salva e isso bastará para mim- Responde logo se pondo de pé- agora vão.

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