06- Amor materno

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Sento-me no assento da arquibancada do campo de futebol do colégio e fico aqui durante toda a aula. Quando o sinal toca, decido então voltar para minha casa. Não tinha mais cabeça para assistir aula hoje de qualquer forma. Já dentro do ônibus, repasso na mente o que aconteceu e sinto minha cabeça doer, algo que acontece quando não extravaso minha raiva.

No fundo, admito, eu tinha esperanças de que as pessoas daquele colégio fossem diferentes, mas como eu havia pensado, hoje pude confirmar. Está cheio de crianças mimadas e fúteis. Sinto raiva de mim mesmo só pelo simples fato de ter me permitido babar por aquela garota. Se depender de mim, nunca mais se quer, piso naquele lugar novamente.

Após meia hora, chego em meu ponto e desço. Não ando muito até estar em casa. Viemos para cá depois que meu pai morreu. As lembranças dele eram tão vivas na antiga casa, que decidimos nos mudar. Minha mãe estava abalada demais e não aguentava pensar nele ao entrar em cada cômodo, mas não vendemos a casa e jamais faríamos isso. Deixamos aos cuidados da nossa antiga empregada Charlene e sua única filha, Clara. Continuamos a pagar o mesmo salário e não cobramos nada por sua estadia.

Com a chave na mão, abro a porta de madeira e entro pelo pequeno espaço onde ficam pendurados alguns casacos na parede. Logo fecho a porta atrás de mim, e tiro os sapatos para ficar apenas de meia. Minha mãe às vezes era meio paranóica com limpeza e organização. Agora me dirigindo para a sala de estar de tamanho médio, jogo minha mochila e a minha chave na mesa de vidro perto da parede que separa a cozinha da sala.

Optamos por morar numa casa menor. Seria apenas nós dois e isso facilitaria muito na hora da faxina. Virando-me para a esquerda e dando mais quatro passos, já estou na cozinha. Abro a geladeira cinza que fica ao lado da bancada com a pia, e pego uma latinha de cerveja.

- Vai beber a essa hora?- Tomo um susto quando Rebecca, minha mãe, entra de repente.

- Droga, mãe. Que susto- Fecho a porta da geladeira e abro a latinha.

- O que faz aqui? Não devia estar no colégio?- Quando direciono a lata para tomar um gole, Rebecca se aproxima e a toma da minha mão. Então dou um suspiro chateado.

- Não irei voltar mais lá.

Dou a volta por ela e sento-me no sofá da sala, logo pegando o controle remoto, ligo a televisão. Ela se aproxima desconfiada e concentra seus olhos em mim.

- O que aconteceu? O que você aprontou?

- Por que sempre pensa que sou culpado por algo?- Faço uma expressão dramática- assim me sinto até ofendido.

- Porque você é impossível- Ela sorri deixando ainda mais visível suas marcas de expressões- sempre foi.

- Não se preocupe, nada aconteceu- Concluo.

Mudo de canal enquanto volto meus olhos para a televisão. Mas com a visão periférica, vejo Rebecca se aproximando até estar sentada no sofá ao meu lado.

- Me dê esse controle e vamos conversar.

Volto minha atenção para a lata de cerveja que ela ainda segura nas mãos, e então sorrio.

- Então faremos uma troca. O controle pela latinha.

- Chris Taylor, não vai gostar quando eu perder a paciência com você- Sim, puxei o temperamento da minha mãe.

- Tudo bem, tudo bem- Rendido, desligo a televisão e ponho o controle sobre o pequeno centro a nossa frente.

- E então?- Ela faz o mesmo com a lata.

- Todos sabem quem sou agora- Digo somente.

Por um momento, Rebecca apenas me analisa.

- Disse seu sobrenome para alguém?

- Não. O professor pronunciou para que todos se apresentassem.

- Qual é o problema?

Franzo o cenho por sua pergunta óbvia.

- Você sabe. Se souberem que sou filho dele, nunca nos deixarão em paz. Você nunca terá sossego e talvez, nem poderá andar tranquilamente na rua.

- Sabe filho, durante esse tempo que viemos pra cá, eu estava pensando que talvez saibamos lidar bem com isso.

- Por que essa mudança de repente?

- Penso que já te escondemos por muito tempo.

Franzo o cenho, tentando entender.

- O que está querendo dizer?

- Querido, você já deixou de fazer tantas coisas para que não soubessem quem você é... Quero que possa realizar seus sonhos sem que nada te impeça.

- Mas e você...

- Filho- Ela põe ambas as mãos na lateral do meu rosto e sorri- talvez as pessoas fiquem no meu pé por um tempo, mas logo se esquecerão de mim. Afinal, ninguém se importa com uma velha ultrapassada, não é?

Balanço a cabeça negativamente nada contente com suas palavras. Então quando vou contestar, ela me para.

- Por favor, me escute. Você sabe que só quero o seu melhor.

- Mas o pai nunca concordou com isso...

- Sei que ele teve preocupação em nos preservar por muito tempo. Era sua forma de cuidar da gente, mas ele não está mais aqui. E você sabe que as coisas ficarão mais difíceis se continuarmos assim. Tenho certeza, seja onde ele estiver, que vai nos entender, pois sempre quis o nosso bem.

A contra gosto, sinto meus olhos arderem por lágrimas que ameaçam cair. Então logo me afasto de Rebecca e levanto-me do sofá. Volto meu rosto para um quadro qualquer e tento me recompor. Nunca me permiti chorar em sua frente, e não seria agora que o faria.

- Filho...

- Você tem certeza disso?- Me volto em sua direção.

- Tenho sim- Percebo que ela tentou falar de uma forma firme, mas não deu muito certo.

Então solto um longo suspiro.

- Tudo bem- Aproximo-me lhe dando um beijo na testa e em seguida, me direciono até a mesa de vidro- vou para o trabalho mais cedo.

Pego minha chave, carteira e celular. Logo saio em direção à porta.

- Por favor, não beba hoje- Ela pede.

Paro por um momento, mas resolvo não dizer nada. Estava ciente de que eu não cumpriria com seu pedido. Então saio pela porta logo fechando-a atrás de mim. Eu já tinha me decidido.

Se as pessoas querem tanto saber quem sou, então é isso o que lhes mostrarei. Amanhã todos saberão quem é Chris Taylor.

Nota da autora •

Xiii gente, acho que alguém vai aprontar, haha. Então o que acharam de Rebecca Taylor? Já estava mais do que na hora de conhecerem ela, não é? Kkk. Comentem o que acharam, e se gostaram, deixem seu votinho e indiquem pros amiguinhos! Kiss kiss

Academia LawrenceOnde histórias criam vida. Descubra agora