42- Perdeu a noção

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Eu pretendia ir até Charles tomar providências, mas tudo parecia cooperar a meu favor. Quando fui até sua sala, ele não se encontrava, e ainda havia deixado tudo aberto. Soube que seria questão de poucos minutos até que estivesse de volta. Quando decidi lhe esperar sentado em sua cadeira dentro da sala, vi algo brilhante em cima da mesa que chamou minha atenção. Por um momento, senti minha consciência pesada, mas optei por ignorá-la. Então peguei esse objeto em sua mesa e me adiantei em sair dali.

Eu estou ciente de que isso dará muita merda, mas nesse momento, não estou raciocinando direito se tudo o que sinto é raiva. Me dirijo para fora do colégio em direção ao estacionamento e apertando o botão, não demoro a encontrá-lo. Desligo o alarme e abro a porta do carro. Quando entro, em seguida ponho a chave e ligo o motor.

- Ei!- Vejo um segurança se aproximar quando me reconhece- o que pensa que está fazendo, garoto?!

Então logo dando a partida, acelero até estar fora do estacionamento. Quando passo pelo portão aberto, finalmente me encontro livre do colégio. Com o vidro da janela agora baixada, sinto o vento fresco bater contra meu rosto. Logo, dirijo em direção ao diner de Jeffrey que a essa hora, deve está fazendo a limpeza do lugar com Jack.

Paro em frente a grande vidraça e daqui já posso vê-los. Aperto o botão da buzina que sai alta e aguda chamando a atenção de ambos para mim. Após me olharem com os olhos cerrados tentando acreditar no que estava diante de suas faces, eles saem apressados do diner para virem ao meu encontro.

- Cara, onde conseguiu esse carro?- Pergunta Jack admirando sua lateral preta.

- Você não vai querer saber.

- Não me diga que...- Jeffrey me olha perplexo.

- Peguei emprestado- Me adianto em responder- pretendo devolvê-lo, de qualquer forma.

- Isso é muito maneiro!- Jack abre a porta e se senta ao meu lado.

- O que acha que está fazendo?- Diz Jeffrey- temos que terminar a limpeza do diner.

- Só vamos dar uma volta- Responde empolgado- o diner pode esperar, agora vamos!

- Você vem ou não?- Pergunto com um sorriso nos lábios.

Logo, olha para nós tentando se decidir.

- Vamos, cara!- Jack o incentiva- só iremos dar uma volta.

- O problema não é apenas dar uma volta, e sim, Chris, que é de menor e ainda está com um carro roubado...

- Ei- Lhe interrompo- eu disse emprestado!

- Pensa que sou idiota?- Retruca- quem é o louco que lhe emprestaria um carro?

- Deixa de ser careta- Jack se intromete- você nem é mais policial mesmo.

- E o que isso tem a ver? Não tem que ser policial para agir de forma correta!

- Não venha bancar o bom moço.

- Cale a boca Jack, ou quebro tua cara agora mesmo, estou falando sério!

- Parem de brigar, seus dois idiotas- Digo impaciente- se Jeffrey não quer vir, então que apenas fique.

Dou a ré com o carro lentamente sabendo que ele virá.

- Esperem!- Se manifesta mais rápido do que pensei- eu vou.

Então com um sorriso de canto, paro o carro e deixo que entre.

- Afinal, quem vai cuidar dessas duas crianças?- Ele suspira ao se sentar fechando a porta.

Após gargalhar, vou para a pista. Quando chego numa parte vazia da estrada, acelero o quanto posso. Sentindo a adrenalina invadindo meu corpo, acelero ainda mais. Tudo ao redor passa em grande velocidade, onde a paisagem ao meu lado se torna num grande borrão em movimento. Eu tinha o sentimento de liberdade e percebi que Jack e Jeffrey, se divertiam tanto quanto eu. Quando diminuo a velocidade para passar por uma curva, ouço um som atrás de nós nada agradável. Logo olho pelo retrovisor.

- Merda!

- Ferrou, cara- Diz Jack soando meio desesperado- ferrou muito, ferrou demais!

- Acalme-se!- Eu digo.

Então observo dentro da viatura dona do som nada agradável e vejo o policial fazendo um sinal para que eu encoste.

- Ferrou muito! Estamos fritos!

- Cala a boca, Jack- Começo a me irritar.

- Estamos ferrados!- Ele começa a se desesperar de verdade- vamos ser fuzilados, eu não quero morrer!

- Não vamos ser fuzilados, seu imbecil- Jeffrey se manifesta- agora cala essa maldita boca!

Então quase chorando, Jack fica quieto. Enquanto isso, paro o carro no meio fio e em seguida, o policial para atrás de nós.

- Fica frio- Diz Jeffrey- eu resolvo isso.

Apenas concordo com um aceno. Então descendo da viatura, com óculos escuros, o policial vem até nós. Quando se põe ao meu lado, abaixo o vidro da janela. Ele abaixa os óculos com uma das mãos para me observar melhor enquanto me lança um olhar torto.

- Identidade e carteira?- Pede completamente desconfiado.

O que eu poderia fazer? A minha cara de criança não me ajuda em nada.

- Ei, amigo- Jeffrey se manifesta abaixando o vidro da janela do banco traseiro ao seu lado- lembra-se de mim?

O policial franze o cenho e o olha como se tentasse pensar, mas quando parece reconhecê-lo, sinto alivio inundando meu ser.

- Jeffrey, o policial bêbado?

- É...- Ele dá um sorriso sem graça- foram tempos antigos.

- Que coincidência- Sorri- o que tem feito depois de ter se aposentado?

- Você nem imagina- Jeffrey aproveita o ensejo e abre a porta do carro para conversarem melhor- estou trabalhando numa lanchonete.

- É mesmo?

- Sim, sim- Responde pondo uma das mãos no ombro do policial- veja, estou ensinando esses rapazes a dirigir...

Ambos se afastam caminhando em direção à viatura até que não posso mais ouvi-los. Em questão de poucos minutos, ambos já estavam entre sorrisos e gargalhadas. Eu tinha certeza que iríamos sair ilesos dessa, até que o policial para pra atender uma ligação. Jeffrey nos lança um olhar triunfante enquanto isso, mas logo é surpreendido quando o policial guarda o celular rapidamente e em seguida, lhe dá uma chave de braço.

- O que está fazendo?!- Jeffrey grita se contorcendo de dor.

- Esse é o carro roubado de Charles Evans!- Diz o policial pondo as algemas em seus pulsos- pego em flagrante, você está preso!

- Que absurdo!

- Vamos embora, Chris!- Jack grita ao meu lado- vamos fugir!

- E deixar Jeffrey levar a culpa sozinho?

- Que merda!

- Eu que comecei isso- Digo por fim sabendo que não havia mais saída- a culpa é só minha.

Então rendido, saio do carro e me entrego ao policial que não hesita em me algemar também.

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