56- Ódio

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Ódio. Era tudo o que eu sentia nesse momento. Puro ódio. Eu não controlava mais as minhas ações. Apenas deixo-me ser levado pelo senimento que já venho guardando por tanto tempo. Isso acaba aqui e agora. Segurando o revólver firme na mão, abro a porta da sala e lhe acerto um chute violento em seguida fazendo formar um grande barulho de pancada.

- Mas o que é isso?!- Charles me encara furioso- o que pensa que está...

Ele para de falar na mesma hora em que levanto a arma em sua direção. Seus olhos que antes transbordavam raiva, agora eram tomados por terror.

- O... O que está fazendo?- Sua voz soa amedrontada.

- Chris!- Ouço a voz de Kimberly desesperada vindo atrás de mim- não, não faz isso!

Em nenhum momento, ouso tirar meus olhos de Charles. Minha garganta estava travada e eu me encontrava incapaz de pronunciar qualquer palavra. Estava ali apenas para fazer uma coisa. Eu só precisava apertar o gatilho e tudo chegaria ao seu fim.

- Chris, por favor...- Kimberly implora- volte a raciocinar... Não vale apena...

- Isso não vai ficar assim, garoto- É Charles quem fala agora- você vai se arrepender!

- Cala essa maldita boca!- Eu grito sentindo minha respiração cada vez mais pesada. Sinto minhas mãos trêmulas enquanto parecem hesitar.

- Chris, por favor...

- Merda...- Minha voz falha, um choro preso na garganta.

- Chris- Kimberly se aproxima com cautela, parece ter notado minha hesitação- você não é um assassino.

O encaro com meus olhos tentando me manter firme na posição. A arma já estava na mira. Então soltando o ar que eu não sabia que segurava, fecho os olhos e abaixo a arma lentamente. Sentia-me fraco e um completo incompetente.

- Peguem-o!- Charles grita apontando para mim.

Logo sou surpreendido quando um segurança me acerta com algo extremamente duro me fazendo cair no chão. Sinto a dor martelando minha cabeça enquanto minha visão fica embaçada. Logo deixando a arma cair longe, temo desmaiar a qualquer momento.

- Não!- Kimberly tenta se aproximar, mas outro segurança lhe prende com as duas mãos- deixe-o em paz!

Sinto algo me puxando por trás enquanto me faz ficar em pé com dificuldade. O segurança que antes me acertara, agora me prendia com suas mãos. Sinto uma linha de sangue escorrer pela lateral do meu rosto enquanto a dor da pancada fica cada vez mais intensa.

- Eu o quero na cadeira agora mesmo!- Charles grita.

- Ninguém vai pra cadeia- Uma voz baixa e rouca, porém cheia de autoridade atravessa toda a sala.

Logo todos nós nos voltamos para a mesma direção de onde vira a voz. Então posso ver a imagem de um homem de terno cinza e perfeitamente gomado. Seu rosto possui traços marcantes e leves rugas entregam a sua idade. Era alto e seu cabelo todo branco era bem arrumado. Sua expressão era séria e não parecia nada assustado com a situação. Então dando um passo para dentro da sala, ele volta seus olhos intimidantes para Charles, para Kimberly e por fim, para mim.

- Solte o rapaz- O segurança não hesita em lhe obedecer.

Logo, me encontro livre outra vez.

- Richard Feldman, ele...- Charles tenta se pronunciar, mas logo é interrompido quando o homem levanta a mão como um gesto para que se cale.

- Sei o que você faz com a sua filha, senhor Charles- Richard se aproxima de Kimberly e toca seu rosto com uma mão lhe analisando- o que esse garoto estava prestes a fazer, um dia desejei fazer também.

Todos se mantinham calados apenas ouvindo o que o homem dizia.

- Mas não digo que o que você ia fazer estava certo- O mesmo se afasta de Kimberly e se volta para mim- não se deixe mais levar pelas emoções, garoto. Os arrependimentos futuros nunca poderão desfazer as atitudes do passado- Ele para por um momento- vocês dois- E aponta para os seguranças- levem esses dois jovens para a enfermaria. Terei uma conversa a sós com o senhor Charles e depois falarei com eles.

Então fazendo o que Richard ordenara, eu e Kimberly somos guiados até a enfermaria. Era impossível passar pelos corredores do colégio sangrando pela cabeça e não ser percebido. Certamente, isso dará muito o que falar mais tarde. Quando chego na enfermaria, logo veem ao meu socorro. Após uma mulher de branco fazer a limpeza do local ferido e cobrir com gaze, ela me põe deitado sobre uma cama.

Depois de me dar um comprimido para dor, a mulher se retira da sala me deixando sozinho com Kimberly que apenas assistia a tudo calada. Então com uma expressão preocupada, ela se aproxima. Logo sinto o colchão da cama se abaixando enquanto se senta ao meu lado. Seus olhos fitavam os meus, então os desvio, envergonhado. Mas logo sinto sua mão tocando meu rosto o virando para observá-lo.

- Olha pra mim- Ela pede com a voz calma.

Então fazendo o que pediu, Kimberly aproxima seu rosto do meu e com delicadeza, une nossos lábios. Essa era a última coisa que eu esperava vindo dela nesse momento. E mesmo surpreso, retribuo seu beijo de bom grado. Então se afastando um pouco para me olhar outra vez, sinto sua mão tocar minha testa.

- Dói?- Ela pergunta e eu aceno que não. Então deslizando sua mão sobre meu pescoço, abaixo, ela alcança meu coração por baixo da minha camisa. Sinto sua mão quente sobre minha pele- e aqui?

Fito seus olhos me entregando a sua profundidade.

- Por que fez isso?- Pergunto com o rosto ainda próximo ao seu.

- Você me mostrou do que é capaz para me proteger e pela primeira vez na vida, sinto-me segura e verdadeiramente... amada- Ela me beija mais uma vez- obrigada por isso, Chris. Mas por favor, nunca mais faça algo assim.

Fecho os olhos e dou um suspiro sentindo certo alívio. Só agora me dou conta da loucura que quase cometi.

- Desculpe.

Então logo botando as pernas na cama e se deitando ao meu lado, lhe tomo em um abraço enquanto ela apoia o rosto no meu tórax.

- Você é um completo maluco, sabia?

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