Academia Lawrence

58- Em fuga

Já estávamos em frente à sua casa quando senti sua mão suando e tremendo sob a minha. Me viro em sua direção olhando em seus olhos tentando acalmá-la.

- Vai ficar tudo bem, amor.

Kimberly acena e segura minha mão com mais força. Então logo abrindo o portão, entramos as pressas. Passamos pelo jardim através do caminho de pedras e entramos na sala pela porta interna. Alguns empregados que estavam presentes no cômodo fazendo seus serviços nos olham confusos, mas optamos por apenas ignorá-los. Kimberly me leva pela escada em direção ao seu quarto. Quando chegamos, ela abre a porta com tudo assustando uma empregada que parecia arrumar sua cama.

- Por favor, se retire- Kimberly diz sem lhe dar chance para se pronunciar.

Confusa, a empregada acena e olhando para mim uma última vez, se apressa em sair do quarto. Agora sozinhos, observo Kimberly pegar sua mala ao lado do armário e o pôr aberto sobre a cama. Ela abre seu guarda-roupa deixando exibir suas vestes penduradas em cabides de madeira. Logo pegando-as sem escolhê-las, Kimberly simplesmente as joga em sua mala. Percebo sua respiração acelerada e suas mãos se tornando cada vez mais incapazes de pegar qualquer peça de roupa ao longo que ficam trêmulas mais uma vez. Ela começa a chorar enquanto segura as roupas desajeitadamente.

- Ei...- Me aproximo e tento fazê-la me olhar, mas Kimberly simplesmente continua arrumando sua mala ao ponto de nem conseguir mais fechá-la- Anjinho...- Pego suas mãos e finalmente a faço olhar para mim. Seus olhos estavam vermelhos e cheios de lágrimas- se acalma, tá? Vamos apenas pegar suas coisas e sair desse lugar.

A tomo em um abraço e após lhe dar um beijo na testa, ajudo a pegar seus pertences. Em questão de poucos minutos, tudo já estava pronto. Ajudo Kimberly a carregar suas malas para fora e quando já estamos descendo pelo último degrau da escada, uma mulher elegante de vestido e salto alto se aproxima de nós.

- O que é isso?- Pergunta assustada.

- Estou indo embora, mãe- Responde Kimberly sem parar seu caminho- você nunca mais vai precisar olhar para mim de novo.

A mulher apenas nos observa atônita enquanto nos dirigimos até a porta e passamos por ela. Atravessamos pelo mesmo jardim e logo estamos fora. Não caminhamos muito até encontrarmos um táxi que nos leva direto para minha casa. Tudo aconteceu muito rápido e talvez minha mãe surte ao me ver chegar em casa com Kimberly e suas malas, mas isso era algo com o qual escolhi não me importar no momento.

~

Apenas abro a porta de casa e entro deixando espaço para Kimberly fazer o mesmo. Agora um pouco mais relaxado, deixo suas coisas no chão e fecho a porta. Não demora até Rebecca aparecer da cozinha nos olhando com uma expressão confusa.

- O que é isso tudo?

- Kimberly ficará alguns dias aqui- Respondo.

- O quê?

- Mãe, é complicado demais...

Mal tenho chance de terminar minha frase quando ouço batidas desesperadas na porta que eu havia acabado de fechar. Então com um suspiro, volto a abrí-la. Sou surpreendido quando vejo Jeffrey quase pulando em cima de mim.

- Chris, não faça nada! Você ainda tem uma vida pela frente!

- Do que está falando?- Contesto enquanto me desvencilho de suas mãos.

- Quando fui mais cedo pegar umas roupas no meu armário vi que minha arma não estava mais lá, e você é o único que sabe onde ela está!

- O quê?!- Ouço minha mãe surtando logo atrás.

Que ótimo. Agora eu estava completamente ferrado.

Depois de longos minutos de berros e desespero de ambas as partes, finalmente consigo acalmá-los. Jeffrey e Rebecca agora estavam sentados no sofá da sala olhando para mim e Kimberly. Resposta, era o que eles queriam.

- Eu vou explicar tudo- Digo com um longo suspiro- por favor, não digam nada até que eu termine.

A missão de mantê-los calados ao contar tudo o que estava acontecendo foi difícil, tudo bem, quase impossível, mas eu consegui depois de muita luta. Ambos ficaram quase meia hora calados e chocados com o que eu havia dito, mas no fim, minha mãe permitiu que Kimberly ficasse em casa o tempo que fosse necessário para a sua segurança, já Jeffrey, ainda estava irritado por eu ter perdido seu único revólver que tinha permissão de possuir legalmente desde que se aposentou na polícia.

- Aquele Charles sempre me foi muito suspeito quando o via pela televisão- Jeffrey se manifesta após Kimberly ter ido com minha mãe até seu quarto- ele é um maldito. Como tem coragem de fazer essas atrocidades com a própria filha?

- Não quero nem ouvir em falar seu nome- Digo ao me sentar no sofá ao seu lado.

- Sinto muito. Mas por que nunca me contou nada? Poderíamos ter resolvido isso sem que você tentasse matar o cara.

- Muita coisa aconteceu...- Respiro fundo ainda tentando raciocinar- eu não estava pensando direito.

Jeffrey logo volta sua direção para mim.

- O que acontece agora?

- Só me resta esperar- Respondo após alguns segundos- Richard estará resolvendo tudo e acredito que entrará em contato conosco.

- Você está falando do Richard Feldman? Porque se for, meu caro, Charles está na maior encreca.

- Eu quero é mais que ele se ferre.

- Filho...- Vejo minha mãe vir até nós acompanhada por Kimberly que parece estar mais tranquila desde que chegamos aqui- realmente não sei onde ela pode dormir. O quarto que estava vago agora é ocupado por Clara.

- Ela vai dormir comigo, ué.

- Nem pensar...- Rebecca interrompe a própria fala até que volta seus olhos desconfiados para Kimberly que cora até o último fio de cabelo, e enfim, olha para mim- espera, vocês dois por acaso já...

- Mãe!- Lhe interrompo- não seja tão indiscreta.

- Tudo bem- É Jeffrey quem fala agora- é nesse momento constrangedor que eu saiu de cena.

Ele se levanta e após se despedir individualmente de cada um de nós, caminha até a porta e vai embora como se nada tivesse acontecido. Após isso, Rebecca nos encara por alguns segundos até que resolve se manisfestar outra vez.

- Nós três precisamos ter uma longa conversa.