Medidas Desesperadas

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POV. HERMIONE

— Como isso aconteceu ? — murmurou minha mãe parecendo estar falando com ela mesma.
Aconteceu de forma tradicional, uma mistura de paixão a flor a da pele e irresponsabilidade. Tipo gasolina perto de um isqueiro ou uma taça de vinho perto de um alcoolatra. Eu ainda estava meio perdida em meio a tudo o que estava acontecendo. Minha mãe se encontrava agaixada, apoiando-se em meus joelhos. Eu estava sentada em uma poltrona, tomando soro. Não conseguia abrir a boca para falar nada. Queria saber de Draco e ao mesmo tempo não queria, estava preocupada com a reação dele, assim como a de meu pai, que se recusou a ir falar comigo, pedindo um tempo para "processar" a noticia.
— Nunca me preocupei em falar sobre isso com você. Tamanha era sua inteligencia que nunca achei que fosse preciso sentar e falar sobre isso — disse ela pensativa.
Suspirei. Quer dizer que eu "era" inteligente, não sou mais ? Reprimi a vontade de roer as unhas, ja tinha chorado tanto que agora meus olhos pareciam secos, desprovidos de lagrimas. Quando tive que fazer o teste de gravidez assim que acordei, achei que fosse desmaiar mais uma vez. Deu positivo é claro e o médico correu ansioso para fora da sala de emergência, chamando por meus pais. Minha mãe entrou aqui correndo, a mão no coração e olhos marejados. Meu pai permaneceu la fora, com Draco e quando mamãe foi chama-lo ele não quis vir. Provavelmente Draco também não, porque, ja fazia uma hora que eu estava sentada nessa poltrona ouvindo mamãe murmurar com ela mesma - tentando entender e assimilar o que de fato estava havendo - e ele não deu sinais de vida. Talvez fosse demais pra ele e ele não podia lidar com isso. Devia estar nesse exato momento ensaiando as palavras em sua cabeça, tentando achar a melhor forma de dizer que vai me abandonar, que não quer esse bebê. Bebê ... era tão estranho pensar que havia outro ser humano crescendo dentro de mim e assustador pensar que esse bebê dependia de mim agora. Ser mãe me deixava eufórica e assustada ao mesmo tempo. Quase a mesma sensação de se andar numa montanha-russa pela primeira vez. Quase. Como eu iria cuidar dessa criança se eu nem tinha um emprego, se não tinha uma vida estabilizada. Me surpreendi comigo mesma por não ter pensado que havia a possibilidade de eu engravidar. Nunca parei para pensar a respeito porque nunca me ocorreu que pudesse acontecer comigo.
— Sra. Granger, sera que eu posso falar com Hermione ? — a voz de Draco interrompeu meus davaneios e atravessou toda a sala, soou nervosa e hesitante.
Ergui meus olhos para ele, mas Draco fitava o chão como se fosse a coisa mais interessante do universo. Respirei fundo enquanto minha mãe levantava e saia sem dizer uma palavra, deixando Draco e eu a sós - a não ser por um senhor de idade que estava a algumas poltronas de mim fazendo inalação. Draco se aproximou, ainda sem me olhar, dessa vez fitava a agulha enfiada em meu ante braço.
— Esta se sentindo melhor ? — perguntou.
— É, acho que sim — respondi, meu tom saiu duvidoso, pouco convicente.
Minhas palavras foram engolidas pelo silêncio que se seguiu. Eu podia ouvir minha respiração irregular, estava a ponto de ter uma crise séria de ansiedade.
— Fala de uma vez o que você quer falar — murmurei exasperada, encarando meus pés.
— Eu não sei o que falar, na verdade — disse ele devagar.
Mordi meu labio inferior para não chorar. Não sei bem o que eu estava esperando dele, mas com certeza não era silêncio.
— Podia começar dizendo o que esta pensando a respeito — sugeri.
Ele tomou folego.
— Estou pensando em você, to pensando no que fazer, como agir. A melhor forma de dizer que ...
Eu sabia, senti um nó na garganta.
— Eu sei exatamente em que você esta pensando. - o interrompi -  Não precisa dizer nada, só ... vai embora — falei nervosa, mordi o labio com força para segurar o choro que ameaçava vir.
De repente ele estava inclinado na minha direção, as mãos pousadas nos braços da poltrona, os olhos na altura dos meus. Tão cinzas quanto um dia de chuva.
— Porque exatamente ta me mandando ir embora ? — perguntou sério.
— É o que você quer fazer — acusei.
Ele franziu os labios em uma linha firme, semicerrou os olhos, analisando-me.
— Eu não vou a lugar nenhum — disse ele com firmeza — estamos juntos nessa.
Olhei para ele confusa por alguns segundos e então me permiti sentir-me aliviada. Um sorriso brincou no canto de seus labios.
— Até parece que você vai se livrar de mim assim, tão facil — brincou.
— Pensei que você ...
Seus labios desceram nos meus impossibilitando-me de terminar a frase, ele mordeu meu labio com suavidade e o puxou, parando o beijo.
— Não importa o que você pensou. Eu to com você e não vou a lugar nenhum. Vou me esforçar pra ... ser um bom ... pai.
A palavra "pai" saiu esquisita de sua boca, com insegurança.
— Acredito em você — sussurrei.
Ele sorriu para mim e endireitou o corpo.
— Inacreditavél, não é ? Vamos ser pais ... — murmurou ele meio aéreo.
Assenti.
— De acordo com o médico estou gravida de 6 semanas — contei.
Ele ergueu as sobrencelhas.
— E isso é ... ?
— Um pouco mais de um mês — respondi.
— Uau, isso ... é inacreditavél — repitiu ele.
Eu ri pelo nariz.
— É, realmente — concordei.
Ele se abaixou dessa vez, apoiando-se nos calcanhares. Esticou a mão - hesitando um pouco - e tocou minha barriga, bem abaixo do umbigo. Em seguida alisou ali.
— Da pra imaginar que tem um bebê aí — falou baixo.
— Pois é — falei no mesmo tom.
Ficamos alguns minutos em silêncio. Draco ainda alisava minha barriga, olhando na direção de sua mão sem realmente ver, perdido em pensamentos. Coloquei minha mão livre por cima da dele, fazendo-o parar com o movimento, tirando-o de seu estupor. Ele me olhou e seus olhos estavam marejados.
— Eu vou ser um bom pai — disse com seriedade e firmeza, como se tivesse dizendo isso a ele mesmo, para se convencer. Então inclinou-se e depositou um beijo em minha barriga. Fiquei surpresa com sua atitude inesperada. Mas a surpresa logo foi substituida por uma felicidade imensa e incomum. Uma das melhores sensações que ja senti. Estiquei minha mão e alisei seu rosto, minha voz saiu um pouco tremula de emoção quando falei:
— Eu sei que vai.
 

Reverse - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora