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Cheguei no hospital, peguei o crachá de acompanhante, porque nesse horário só pode entrar nessas condições, e fui pro quarto.
Algo me dizia " volte " , mas uma força me impulsionava pra frente.
Cheguei em frente o quarto e respirei fundo. Lentamente fui abrindo a porta, que me revelou Marcela.

Ela estava lá, toda cheia de fios, ligados a alguns aparelhos, fechei a porta e me aproximei ainda mais.
Ela estava pálida, muito pálida, mas ainda assim, estava melhor que naquele dia. Aquele dia que odeio me recordar, mas mesmo assim, insiste em me assombrar. Aparentemente ela não estava com nenhuma marca.

A respiração de Marcela era fraca, quase imperceptível. E parecia até morta. Eu tinha muita vontade de toca-la, mas me sentia como se estivesse sendo observado. Olhei em volta e não tinha câmera alguma.

Levantei uma das mãos, pra tocar Marcela, mas abaixei rapidamente.
_ Marcela, Marcela. - Sussurrei. - Como tu teve coragem de fazer tudo aquilo ? Uma mulher tão bonita, determinada, cheia de garra, dona de si, autoritária. Olha, onde você está agora, olha o teu estado.

Essas palavras estavam misturadas junto com inúmeras perguntas, que eu tinha vontade de fazer, mas o medo, não permitia. Se um dia Marcela acorda, acho que não quero vê-la mais.

Minha mente estava conturbada, eu não sabia o que pensar, eu não sei porque vim aqui. Que doidera.
Me sentei em um sofá, e apoiei meu rosto em minhas mãos.

As vezes me arrependo de ter feito o que fiz com Carol. Depois que tudo  aconteceu, tive um leve reflexo de como as coisas aconteceram rápido demais. A Carol sempre teve do meu lado, sempre que precisei ela me fortaleceu, e até quando fingiu que estava  grávida, ela fez pra ficar comigo. Mas eu agradeço, agradeço muito a Carol, por ter aparecido na minha vida. Só assim, pra eu aprender a distinguir as coisas. Toda minha vida no morro, sempre achei que amava a Carol, mas na verdade, vivi um comodismo. Eu não conseguir larga ela, porque era apegada as boas coisas que vivemos, mas eram só lembranças, e eu nunca consegui distinguir. Agradeço também a Marcela, que me ensinou a sair da zona de conforto. Sempre dava certo com a Carol, e quando não dava, eu fazia dar, mas pela Marcela, abri mão disso, sai da zona de conforto, pra viver o novo. Mas é aquilo né, nunca mergulhe de cabeça em relacionamentos rasos.

Me levantei, e enfim tomei coragem de tocar Marcela. Alisei suas mãos, que estavam geladas, Respirei fundo e fechei os olhos.
_ Boa sorte neguinha. Porque agora tu tá sozinha. - Falei baixo.

Marcela Narrando:

Eu tinha 11 anos quando dei o primeiro beijo. Foi estranho, foi louco, foi nojento, foi rápido, foi tudo, menos bom.
Com 14 anos perdi minha virgindade, doeu, nossa como doeu. Me senti como se tivesse sendo rasgada. Não sangrou como todo mundo diz. Mas fiquei super nervosa.
Com 15 anos, eu já fazia sexo cada semana com um homem diferente. Já fumava maconha, e baforava loló nas festas. Meus pais? Eles estavam ocupados demais, lendo jornal e falando mal da vida alheia.
Com 16 anos, juntaram bondinho pra mim, porque peguei o namorado de uma mina.  Depois? Comi cada uma delas na porrada, e aí nunca mais ninguém mecheu comigo. Minha adolescência se baseou nisso.

Tive esses pensamentos e lembranças, durante um sono estranho, era pior que o sono depois que tu fuma maconha. Eu estava literalmente desacordada. Tentava lutar contra esse tal sono.
Ouvi vozes de uma pessoa. Era mulher. Ela sempre falava comigo, e a única coisa que eu queria fazer era conseguir mexer os labios pra poder falar " me ajuda a acordar ".
Hoje, hoje fui um dia especial, senti um perfume maravilhoso, que me fez arrepiar dos pés a cabeça, aquele perfume, que perfume.

Ele falou algumas coisas e nesse momento meu coração acelerou, eu queria acorda e gritar " Ei, estou te ouvindo ".
Depois disso um silêncio, fiquei triste. Estava sozinha novamente.
Mas ele veio novamente, e colocou as suas mãos nas minhas, aquilo me aqueceu, e então comecei a lutar contra meu interior, pra conseguir mover algo.

Lutei, lutei, lutei e consegui mexer minha mão, ele se assustou e tirou suas mãos da minha. Logo forcei mais, e com muita dificuldade abri os olhos, o clarão daquele quarto quase me cegou, fechei e abri os olhos várias vezes, e lá estava ele, lindo, bem lindo. Me olhou  assustado e eu o encarei.

Eu não faço ideia de quem seja, mas desde que ele entrou neste quarto, eu senti uma imensa paz. Tentei falar, mas minha boca parecia grudada, ele apenas me olhava.
Não falava nada. Aquele homem, me olhou mais alguns segundos, e em seguida foi embora. Quem é você ? Porque me fez tão bem assim ?

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Boa madrugada. Um bônus porque vocês merecem ❤

Amor Inimigo 🎶 ( CONCLUIDA )Onde histórias criam vida. Descubra agora