CORAÇÕES DE PEDRA - 01

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Era uma manhã agitada no porto de Nautilla. Mercadores de peixe e mariscos disputavam espaço com os estivadores que carregavam barris cheios de mercadoria sobre os ombros. Oficiais apressados buscavam jovens marinheiros dispostos a arriscar suas vidas para completar sua tripulação. Piratas, tempestades e monstros marinhos ameaçavam a vida de qualquer marujo aventureiro naquelas águas. Não era qualquer um que aceitaria um risco tão alto por aventura e ouro.

Duas figuras passavam despercebidas pela algazarra generalizada: Mikail e Leonel caminhavam por entre as docas tentando se afastar da confusão. Eles haviam acabado de regressar da Ilha dos Morcegos após sua aventura assustadora e tudo que queriam era um lugar para descansar.

– Tome cuidado, Leonel. Esses mercadores de beira do cais são tão perigosos quanto os seguidores de Zéfiro. Um deslize e eles podem te roubar até as ceroulas.

– Ah. Não me importa. Na verdade, não tenho dinheiro no bolso. Estou cansado da viagem e de tudo o que aconteceu. Gostaria de chegar em casa logo.

– Você está bem?

– Acho que sim. Eu só não entendo como podem ter tantas pessoas más nesse mundo.

Mikail sentia pena do pobre garoto. O sequestro pelo Ventonegro, a perseguição dos monstros e a luta entre o guerreiro lendário Anashi Anakar e o feiticeiro morto-vivo eram eventos que certamente ele nunca esqueceria. O próprio Mikail não esqueceria. Ter sido feito de marionete por membros do Ventonegro, ter assassinado um de seus colegas de armas e, mesmo iludido, vir até tão longe de casa. Ele ansiava profundamente o perdão de seu rei. Mas sua missão naquele dia era levar Leonel até seu lar. Lá, a família poderia confortá-lo e, aos poucos, tais memórias assustadoras se tornariam fotografias desbotadas pelo tempo.

– Não são pessoas, garoto. São feras atrozes, cujo objetivo é trazer morte, desordem e o caos.

– Por isso, não entendo. O Ventonegro é um grupo de pessoas que busca trazer de volta Zéfiro, o maior ditador que já viveu em Arrhênia. As pessoas sofreram torturas, perderam suas casas, suas vidas. Como eles podem desejar o retorno desse tipo de pessoa?

– Não é tão simples. Zéfiro é apenas o outro lado da moeda. Ele governou com mão de ferro e causou muito sofrimento. Sem dúvida, o seu governo foi mau. Mas repare, não significa que o atual governo seja bom.

– Como assim, Mikail?

– Zéfiro tinha o apoio de um único deus: Thanatos, o deus da morte. Com a ascensão de Zéfiro, o culto a Thanatos foi fortificado. O custo da construção de templos e estátuas em homenagem a Thanatos aumentou, desfalcando o dinheiro destinado aos templos dos outros deuses. O número de seguidores foi cada vez maior e a força do deus da morte se tornou superior a de quase todo panteão. Sabe o que aconteceu com o fim da ditadura?

– Os impostos foram reduzidos? Eles diminuíram porque a legião de seguidores ao deus da morte diminuiu?

– Ha, Ha, Ha. Não, eles aumentaram! E aumentaram muito! Os outros deuses decidiram que precisavam de templos e oratórios no mesmo nível que Thanatos tinha em seus tempos de glória. Sustentar quinze deuses é mais caro que um só. Hoje o reino sofre a maior carga tributária de sua história. Os mercadores, fazendeiros, pescadores e trabalhadores liberais tem que sustentar com seu próprio suor, não apenas suas famílias, mas a corte real e os templos.

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