Durante sua fuga das garras de uma seita fanática, o jovem Leonel permitiu que uma criatura abominável fugisse de seu cativeiro, espalhando terror e sofrimento pelos reinos de Arrhênia. Atormentado pela culpa, o rapaz vê sua oportunidade de redenção...
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Leonel decidiu ir até o rio a pé, poupando sua égua para o trajeto de volta. No caminho, sua visão turvou e seu coração disparou, provocando um rápido mal-estar. Era o resultado da falta de sono. Ele não dormia desde a noite do pesadelo com os dragões, logo depois de abandonar a tribo dos auárus. Mas também sabia que cada hora de sono era uma hora a mais de ameaça à vida de Dalila. Ele esfregou os olhos, deu um tapa nas maçãs do rosto e alcançou a beira d'água. Ele ainda estava na região da cidade, por isso foi até um grupo de pescadores perguntando sobre as tais filhas d'água. A maioria evitou comentar o assunto, outros riram. Leonel não sabia, mas as principais vítimas das filhas d'água eram justamente os pescadores.
Passado certo tempo de investigação, um velho senhor, negro e forte, vestindo um chapéu de palha, sentado sobre um tronco de uma árvore e fumando um cachimbo fedido, escutou as perguntas de Leonel aos pescadores sobre as ninfas do rio. O homem chamou o rapaz para sentar ao seu lado e os dois conversaram sobre o assunto por um tempo. O velho contou uma história incrível de como seu patrão, na antiga fazenda onde trabalhava, havia sido morto por uma dessas mulheres, como aquilo quase impediu um casamento entre seu afilhado e a mulher que ele amava, e como as filhas d'água eram terríveis e perigosas.
Mas Leonel estava com sua motivação inabalável, contou sua história e convenceu o homem a lhe dizer como encontrar tais mulheres. O velho limpou o cachimbo e explicou que o transporte para o reino das filhas d'água era um redemoinho que aparecia aleatoriamente na superfície do rio. Elas usavam o redemoinho para chegar ao nosso mundo e ele surgia sempre afastado da cidade, podendo levar dias de procura.
As novas informações eram desanimadoras. Leonel teria de caminhar pela mata que acompanhava o rio a pé, se afastando da cidade, e com a possibilidade de não encontrar nenhuma delas naquele dia. Mas aquela informação era a melhor chance que ele tinha. Dessa forma, agradeceu ao bom senhor e se despediu, correndo em direção à mata.
A vegetação ao redor do Rio Colosso era muito rica e exuberante. O verde vivo encharcava os olhos do rapaz que adentrou suas trilhas com cuidado. Árvores de folhas longas e arbustos pontiagudos enfeitavam a paisagem. Pássaros de todas as cores enfeitavam o ambiente. Inclusive, depois de um tempo, um pequeno e belíssimo pica-pau com penas vermelhas, amarelas e negras, passou a acompanhar o caminho de Leonel, cantando e fazendo companhia ao jovem em sua caminhada.
No meio desse caminho, o rapaz lembrou que deveria ter trazido uma tocha ou uma lamparina. Ele só tinha mais algumas horas de dia e teria de percorrer aquele matagal desconhecido pela escuridão da noite.
Seus temores se concretizaram e a noite caiu. Não havia luas naquela noite, e as estrelas eram muito poucas. A escuridão pouco a pouco envolveu o jovem, que se viu sem condições de continuar procurando o redemoinho, já que nem conseguia mais enxergar as águas do rio. Frustrado, Leonel decidiu voltar.
Ele andou por um tempo de volta na trilha, mas começou a duvidar se o caminho era o correto. Havia pedras, troncos e árvores que ele não reconhecia. O som do rio aos poucos foi desaparecendo, indicando que ele se afastava da beira. Ele tropeçou e caiu no chão duas, três, quatro vezes, atrapalhado pela escuridão e pelo cansaço.
Na última vez que seu corpo atingiu a lama, ele não levantou. Ele sentou recostado numa enorme figueira, esfregando os olhos, e tirou alguns minutos para descansar. Seus olhos estavam pesados, sua barriga roncava de fome, suas pernas estavam trêmulas de tanto andar e seu coração estava com medo de estar perdido e angustiado com o tempo que estava perdendo.
Dalila. Os pensamentos de Leonel o levaram ao tempo que passou junto dela, pelos pântanos para chegar a Vila Pacata. Foram dias difíceis. Ela era uma mulher exigente, destemida, forte. Também era metida a saber de tudo, o tratava feito um idiota e sempre que podia tentava esfregar sua experiência e superioridade na cara dele. Dalila era estranha, misteriosa. Nunca falava do passado ou sequer contava como perdera a asa. Leonel levou alguns dias até aprender a confiar nela, mas a achava muito bonita. Só que seu encanto diminuía sempre que ela caçoava dele como, por exemplo, quando suas arapucas para capturar esquilos não surtiam efeito. Ela passava horas rindo e explicando como ele estaria morto se não fosse a presença dela. Garota metida. Irritante. Insuportável! Leonel não conseguia compreender que, na verdade, apesar da atitude debochada e implicante, Dalila demonstrava sempre preocupação e responsabilidade com relação a ele e à missão. Isso fazia crescer um sentimento de apreço e admiração com a dhevaniana no coração do rapaz.
Aos poucos, as lembranças daqueles dias levaram Leonel para o mundo dos sonhos. Um cochilo de olhos entreabertos recostado no tronco da figueira. Lentamente, seus pensamentos se tornaram ilusões desconexas e fantasias sem sentido. Ele sonhou com os pais, com o amigo Mikail e com Goldak. Até a irritante Alana surgiu nos seus devaneios.
De repente, Alana se aproximou através da mata. Ela se movia devagar e de forma fantasmagórica, mas o encarava incessantemente. Quando se encontrou próximo ao corpo adormecido de Leonel, ela se ajoelhou, abaixou até a altura dos olhos do rapaz e acariciou o rosto dele com delicadeza.
"Acorde" – disse uma voz longínqua. As carícias de Alana começaram a se agitar. Os devaneios se evaporaram e a mata começou a tomar forma material novamente.
– Acorde! – A voz, dessa vez, estava muito mais próxima. Ela arrancou Leonel de seu sono que, nesse instante, viu Alana se transformar em outra pessoa. Uma garota de cerca de quinze anos, pele bronzeada, olhos verdes e cabelos com um estranho tom esverdeado.
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