ETERNO AZUL - 10

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O Presságio Vermelho navegava a vinte nós para o leste de Mirada do Lago. Sua tripulação estava alvoroçada.

– Vocês viram a cara do Ímpio? – disse Dalila. – Se ele sobreviveu àquilo, nunca mais vai aparecer por aqui.

– Mas nós criamos um grande problema – contrariou Goldak. – Quando o Rei João souber que um grupo de aventureiros bombardeou uma de suas cidades, vai colocar nossa cabeça a prêmio.

– Nós não bombardeamos a cidade – disse Leonel. – Apenas a mansão de um bandido.

– De um mercador. Pelo menos, é assim que o governo o tratava. Nossas ações não passarão despercebidas.

– Bem... – continuou Leonel. – De qualquer forma, temos que pensar no que fazer com esse navio gigante. – Alana olhou para Leonel com surpresa. Ele parecia animado. Isso a deixou, naquele momento, com um sentimento de culpa – O que vai ser, comandante? O Quinteto Relâmpago vai estender suas ações para outros reinos?

Alana se constrangeu quando todos olharam para ela esperando uma resposta. Por sua vez, a menina viu os olhos severos de Anakar, que a recriminavam. Ela sabia que a paciência do imortal havia chegado ao fim. Assim, Alana pigarreou e disse discretamente:

– Nós estamos indo para Morro Verde e...

– Ah, sim. Claro – interrompeu Leonel. – Para ver seu pai, não é?

– Para me despedir.

Todos ficaram preocupados com as palavras da menina. Principalmente Leonel.

– Se despedir? Não... Para "rever", não é? Há quanto tempo você não passa na sua casa e...

– Estou de partida.

As palavras passaram como uma navalha de gelo no coração do menino. Alana estava séria. Algo estava errado. Ela era sorridente, alegre, cheia de vida, barulhenta. Aquele olhar melancólico e semblante tristonho não eram do seu feitio.

– De partida? – perguntou Goldak. – Como assim? Sem a gente?

Alana abriu a boca para tentar explicar, mas desistiu e olhou para Anakar como quem pede ajuda. O imortal se aproximou e disse:

– No momento em que Alana encaixou o Olho de Yasha e tocou o timão deste navio, ela o despertou. Em troca, o navio escravizou sua alma. – Todos se levantaram, alvoroçados e preocupados. – Se ela se afastar demais do navio, seu corpo começará a definhar rapidamente e ela tombará em questão de minutos, morta.

– Por Odin... – Goldak se desesperou. – Mas o que isso tem a ver com sua partida?

– Aliado ao fato de que esse navio pode conduzir o Ventonegro ao terceiro selo e dele ser uma arma de destruição divina que não pode ficar nas mãos dos mortais, nós decidimos que Alana virá comigo visitar a Rainha-maga de Burneau, minha amiga Alexandra.

– Nós vamos com vocês! – protestou Zando.

– Não podemos – concluiu Goldak. – O Reino de Burneau é uma cidade secreta, escondida por forças místicas. A Rainha-maga não permite que mortais entrem em seus domínios. É o lugar perfeito para esconder o Presságio Vermelho.

– Você concorda com isso, Goldak?! – queixou-se Dalila.

O canimede inspirou fundo, afagou a cabeça de Alana com carinho e perguntou a Anakar:

– Você acha que a Rainha de Burneau pode ter algum tipo de cura?

– É possível. – Anakar sacudiu a cabeça. – Ela é a maga mais poderosa de Arrhênia. Se alguém puder fazê-lo, é Alexandra.

Leonel não tirou os olhos de Alana por um único segundo. Estavam cheios de dor. A menina evitava encará-los por causa da vergonha. Alana deixou uma lágrima escorrer pelos olhos e correu para o gabinete. Leonel correu atrás.

– Foi isso que conversaram quando estavam a bordo só você e ele?

Alana assentiu com a cabeça.

– Por que não disse nada?

– Não seja idiota, Leonel. É claro que eu queria postergar essa discussão o máximo possível.

– Não quero que você parta. – O menino deixou escorrer lágrimas pelo rosto.

– Não... Não faz isso. – Alana o abraçou e também começou a chorar.

– Sabe quanto tempo vai ter que ficar lá?

– Não, nem sei se ela vai conseguir me curar.

– Vai, sim. – Leonel pegou Alana pelos ombros. – Vai, sim. Você não ouviu? Ela é a maior maga de Arrhênia. Com certeza, vai ter um jeito. Não se preocupe. Vá até lá e se cuide. E, quando você estiver melhor... você... você...

– Eu vou procurar você.

Leonel olhou no fundo dos olhos de Alana e viu verdade. Viu gentileza, beleza e verdade. Pela última vez, os dois se beijaram. Leonel sentia os lábios da menina como se fosse a última vez. E, por fim, limparam as lágrimas um do outro e passaram as últimas horas juntos, até alcançarem Morro Verde.

Seu Guerino culpou Goldak por tudo o que estava acontecendo. O canimede começava a achar que o velho tinha razão. Apesar de Anakar ter explicado como todos foram valentes ao derrotar o Alce Negro, Guerino estava inconformado. Alana entregou uma barra de chocolate ao leite que havia guardado para o pai, junto com uma sacola cheia de tesouros. Disse que era para adocicar a situação. Então, beijou-lhe a testa e saiu para cumprimentar os amigos.

– Zando, cuide bem da Dalila. Você nunca vai arrumar mulher melhor nessa vida. – Alana abraçou a bárbaro, que a levantou no ar. – Dalila, eu nunca pude conhecer minha irmã, mas... com você, sinto que sempre a tive por perto. Obrigada por ter nos acompanhado. – Dalila beijou as bochechas da dhevaniana e a abraçou firme, com lágrimas nos olhos. – Goldak... Desculpe se alguma vez eu te desrespeitei. Isso nunca foi minha intenção. – Alana começou a chorar e Goldak limpou-lhe as lágrimas.

– Eu nunca poderia ter uma companheira melhor nessa vida. – Os dois se abraçaram. As orelhas de Goldak estavam baixas, indicando que estava muito triste.

Então, Alana parou de frente para Leonel. Eles ficaram parados bastante tempo, um encarando o outro. E Alana tirou um anel do dedo. O anel de Juliana.

– Toma. – A menina o ofereceu a Leonel.

– Não, Alana. Não posso aceitar isso. É de sua irmã!

– Juliana se foi, não há nada que eu possa fazer a respeito. Lembrar dos mortos só me faz sentir mal. Por favor, tome conta do anel de Juliana e... de você também. Você entendeu?

Leonel assentiu com a cabeça.

– Pode deixar.

Os dois se abraçaram uma última vez. Ela beijou-lhe o rosto, deu as costas e foi na direção do navio. Não virou para trás. O manto branco da menina revoava com o vento provocado pela nave. O imortal começou a acompanhá-la antes de ser interrompido pela voz de Leonel.

– Cuide dela, Anakar! Por favor, faça com que ela fique melhor!

Anashi Anakar olhou-o nos olhos e fez uma reverência com a cabeça. Depois, deu as costas, cumprimentou o companheiro Mikail e embarcou no Presságio Vermelho. A nave rubra elevou-se aos céus, devagar, então guinou para o Leste e partiu. Todos observaram o navio ganhar altura e velocidade cada vez maiores, até desaparecer entre as nuvens.

Jornada ao Presságio Vermelho [Completo!]Onde histórias criam vida. Descubra agora