Durante sua fuga das garras de uma seita fanática, o jovem Leonel permitiu que uma criatura abominável fugisse de seu cativeiro, espalhando terror e sofrimento pelos reinos de Arrhênia. Atormentado pela culpa, o rapaz vê sua oportunidade de redenção...
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– Artesões de Estirpe!
E, do meio do gramado, saindo de dentro da terra, obedecendo à evocação de uma chave macrodiádroma de segundo grau, surgiram figuras medonhas, cinzentas, feitas de tubérculos e raízes de plantas, com cabeças grandes em relação aos corpos e pernas mancas. Eles emitiam um grunhido incômodo, como se estivessem tentando falar várias palavras ao mesmo tempo num dialeto desconhecido. Eram treze ao todo e, quando o último terminou de germinar, se aglomeraram ao redor da figura que os invocou.
Tratava-se de uma mulher magra e de braços finos, sob um vestido comprido negro brilhoso e apertado na cintura. Ela era branca, de seios fartos, cabelos azuis volumosos, ondulados e exuberantes, que desciam até as coxas. Usava um par de brincos de ouro e segurava na mão direita um longo cajado dourado, fino, maior do que ela própria, ornamentado com runas entalhadas e minúsculas pedras preciosas azuis em seu entorno.
Era noite de lua-dupla, excelente iluminação para que trabalhadores das trevas cumprissem seus ofícios. Aquele era o pátio interno do Castelo Escudonorte, uma antiga fortaleza abandonada na época do regime de Zéfiro. Os membros do Ventonegro o usavam como quartel-general, sob a regência da feiticeira Valérie, pupila de Baalzog. A notícia da morte de seu mestre já havia se espalhado em todos os ciclos da ordem e ela sentia necessidade de mostrar liderança, se não quisesse lutar pelo poder contra outros seguidores do usurpador.
– Meus amores, boa noite – disse a feiticeira. – Vi que o trabalho de vocês progrediu muito nas últimas noites, mas o muro oeste continua precisando de reparos. Precisamos manter nosso castelo impenetrável. Por favor, tentem prontificar nossas defesas esta noite.
Os pequenos artesões de estirpe saíram apressados, grunhindo e emitindo palavras indecifráveis na direção da muralha do castelo. Valérie observava seus lacaios com tristeza. Tristeza esta que foi percebida por seu acompanhante.
– Não está contente com o trabalho deles, milady Valérie?
– Não é isso, Helminto. Apenas gostaria que a lealdade dos membros da ordem fosse igual à dessas criaturas.
– Tenha paciência, milady. O tempo vai provar que o Ventonegro não tem como seguir em frente sem sua liderança.
– Mas quanto tempo eu terei que esperar? Meu mestre pereceu há quase dois meses, em seguida nós perdemos contato com Cyrus e agora aquela ladra contratada também desapareceu com o Medalhão de Odin! Precisamos retomar o curso de nossa missão!
Valérie saiu do pátio gramado e andou às pressas pelos corredores do castelo enquanto discutia com seu subordinado. Helminto era um ladrão vulgar, baixo, acima do peso, com dentes podres e um tanto corcunda. Usava roupas pardas simples que lhe ajudavam a se misturar com a multidão. Tinha uma pele queimada pelo sol e cabelos castanhos curtos. Não possuía dom do combate, nem da liderança ou da inteligência, mas encontrou a oportunidade de bajular a feiticeira a fim de conseguir favores em troca de sua simpatia.