O REINO SECRETO DA MÃE D'ÁGUA - 02

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O plano de Leonel deu certo: duas horas na trilha para cada hora de descanso. Não era apenas Espoleta que precisava beber água e pastar. Os músculos das pernas e do períneo de Leonel estavam desgastados com a longa viagem. Também sentia fome. Ele usava as arapucas que aprendeu com Dalila para capturar esquilos e colheu nos bosques raízes e frutas para se alimentar. O riacho garantia água para ele e para sua companheira. Com isso, o rapaz percorreu um dia, duas noites e, na manhã do segundo dia, chegou a Meandro Preto. Leonel não dormiu nenhuma das noites desde seu pesadelo com os dragões.

Meandro Preto era, originalmente, uma vila de pescadores. Possuía casas de madeira negra, um velho moinho de vento ao fundo, que contrastava com a beleza do grande Rio Colosso, e um gigantesco rio pardo com mais de setecentos metros de largura, cujas águas alimentavam todas as vilas da região. As canoas abarrotadas de traíras, dourados e tucunarés preenchiam a visão do rio. Também era muito comum a pesca de caranguejos e lagostins.

No centro da cidade, existia um mercado, onde eram negociados os produtos para as vilas ao redor, além de frutas, legumes, verduras e pecuária. Meandro Preto também era encontro entre as estradas para Vila Pacata, Santalucia e as cidades do norte. Muitos produtos eram salgados e transportados para as capitais.

Apesar dos olhos cansados pela falta de sono, Leonel manteve o foco e cavalgou até o bairro sul da cidade, onde viu a placa que sinalizava a localização do templo de Belisama. Ele amarrou Espoleta próximo à água e entrou apressadamente no templo.

Era um oratório pequeno, com algumas pessoas rezando e dois ou três clérigos discutindo afazeres de rotina. Leonel se aproximou de um e perguntou:

– É aqui que consigo comprar um elixir?

Preocupado com alguns papéis cheios de contas e registros financeiros que tinha nas mãos, o religioso mal olhou para o afobado rapaz e respondeu:

– Elixir?... Não, não. Não temos elixir.

Leonel o agarrou pela gola da batina e, irritado, perguntou:

– Como não têm? Vocês não são os clérigos da vida?!

O pobre acólito deixou seus papéis caírem ao chão com a agressão do jovem. Antes que pudesse responder, uma terceira voz interrompeu a discussão:

– Somos servos de Belisama. Deusa da vida, da saúde e da prosperidade. – A voz pertencia a um senhor mais velho, de cabelos brancos e barba feita, olhos claros e uma indumentária imponente e diferenciada dos demais. Leonel concluiu que se tratava do sacerdote. – Nossa missão é acudir os feridos, trazer paz aos corações perturbados e a compreensão aos confusos. Somos uma casa de meditação, não uma boutique.

Leonel se recompôs e libertou o pobre clérigo, que se afastou, assustado. O sacerdote se aproximou calmamente do jovem agitado, que se apresentou:

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