CORAÇÕES DE PEDRA - 03

361 146 94
                                    

A noite avançava em Nautilla

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A noite avançava em Nautilla. No centro, o acendedor de lampiões, aos poucos, permitiu que a cidade continuasse ativa por mais algumas horas graças ao óleo das lamparinas espalhadas pelos postes. Próximos à casa da família de Leonel, vaga-lumes se espalhavam pelas ruas devido à vegetação abundante. A própria noite possuía uma sinfonia. A grande lua branca regia uma orquestra de grilos, sapos e outros animais noturnos.

Os pais de Leonel já dormiam juntos na sala de estar, pois acordavam cedo para a labuta. O pai tinha um pesado carregamento lhe esperando nos armazéns do porto, enquanto a mãe procurava conseguir algum dinheiro extra com costuras na periferia. O único quarto da casa era reservado para o filho, que continuava acordado a observar as luzes da noite pela janela. Ele pensava em tudo o que passou, pensava em como era feliz por ter voltado para a sua família, para sua escola, e temia que, um dia, essa felicidade pudesse lhe ser arrancada novamente.

A visão do Alce Negro lhe vinha sempre à mente, e a angústia tomava seu coração. Leonel ainda se culpava pela libertação do monstro. Sua covardia permitiu que o feiticeiro pegasse o diamante e o usasse para libertar a criatura. Imaginava os males que o monstro estava espalhando pelo mundo, e imaginava também quantas famílias felizes como a dele estavam sendo destruídas debaixo daquela mesma lua. A responsabilidade era dele. Os sentimentos de vergonha e culpa zuniam em sua cabeça e não lhe permitiam dormir.

De repente, sua atenção se voltou para um semblante no mato. Escondidos sob as brumas escuras, Leonel viu quatro pessoas de pé, vestidos de negro, com um olhar assustador na direção de sua casa. Inicialmente pensou que fossem bandidos com intenções maliciosas, mas o homem da frente vestia uma armadura de metal, negra e apavorante.

Leonel se agachou para evitar ser visto pelos invasores. Prestando atenção, ele tentou ouvir a conversa deles através do trilar dos grilos:

– Você tem certeza que é esta a casa?

– Sim. Foi daqui que levamos o garoto.

Um calafrio, e Leonel se apavorou. Parecia que os sequestradores do Ventonegro, que o levaram de casa para a Ilha dos Morcegos, voltaram para atormentá-lo. As vozes continuavam:

– Precisamos descobrir como ele conseguiu fugir da ilha. O mestre Baalzog não responde ao nosso chamado desde que o raio branco foi visto no horizonte. E quanto ao guarda que estava com ele?

– Foi embora. Ele é de Fendéria, e já saiu da cidade.

– Muito bem, então cumpram as ordens.

– Mas e a família?

– O garoto deve ter contado tudo a eles também. Capturem apenas o filho e matem a família.

O medo tomou conta de Leonel. Ele olhava para os lados sem saber o que fazer. Se saísse pela janela seria visto, e da mesma forma, pela porta. E seus pais?

Jornada ao Presságio Vermelho [Completo!]Onde histórias criam vida. Descubra agora