O REINO SECRETO DA MÃE D'ÁGUA - 00

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Carnegie era uma cidade muito rica devido às suas profundas minas de ferro, cobre, carvão e estanho

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Carnegie era uma cidade muito rica devido às suas profundas minas de ferro, cobre, carvão e estanho. Assim, o aço de Carnegie era reconhecido em todos os reinos como material de primeira categoria. Carnegie era também uma cidade independente do reino da Costa Noroeste. A sede do governo era o Palácio da Quimera, liderado pelo Rei Titus, um homem ambicioso e desagradável, cujos pensamentos estavam voltados exclusivamente para a busca de poder.

A principal vítima da obsessão de Titus chamava-se Suzane, a rainha de Carnegie. Os anos se passaram desde o casamento deles e o amor que o marido havia lhe prometido esvaneceu com as estações. Cada vez mais, ela era deixada sozinha na escuridão de seu quarto, noites a fio, trocada pela fome insaciável de Titus por artefatos mágicos. Ainda havia a política, a administração, as finanças... Aquilo tudo era desperdício de tempo para Suzane. Ela acreditava que a vida era apenas uma e que ela sempre valeria mais do que todo ouro do mundo.

Por dez anos, a rainha cumpriu seu papel. Esteve presente em todas as reuniões da corte, em todos os bailes. Cuidava dos assuntos do palácio, organizava os mordomos, cumpria a rotina.

Sua distração eram os livros românticos, nos quais bravos cavaleiros lutavam contra bestas infernais e fugiam com princesas em seus corcéis; nos quais deusas eram levadas para longe da guerra nas asas de dragões; nos quais princesas eram transformadas em rainhas por um amor inconsequente e eram felizes para sempre.

Mas era tudo mentira. O amor contado pelos livros não era eterno. Da mesma forma que uma roseira, o amor brotaria, cresceria, resplandeceria, mas depois definharia e morreria. Nada era para sempre. A ideia de um convívio medíocre com Sua Majestade até o fim de seus dias estava aceita em seu coração e, com melancolia, tal decisão trouxe serenidade à sua alma.

Mas a serenidade também não duraria para sempre.

Foi numa inspeção da guarda, no campo de treinamento ao sul do castelo, que ela o viu. Um rapaz... diferente. Não era dali. Seus olhos eram finos, repuxados, de cabelo liso, negro e comprido. Vestia uma camisa de seda verde e usava calças escuras de cano largo. No cinto, trazia uma espada fina e curvilínea quando comparada ao padrão dos guardas.

Um impulso que não sentia há anos moveu a cabeça e o coração de Suzane. Aquele rapaz, de alguma forma, a atraía. Talvez fossem as estranhas feições orientais ou talvez o olhar compenetrado e disciplinado com que ele olhava para as instruções do capitão. A causa não era clara para a rainha, mas o efeito, sim: ela queria conhecê-lo.

De repente, algo inesperado aconteceu. Sem que ela percebesse, o capitão da guarda viu a rainha observando a tropa. Como era costume na presença de uma autoridade, ele comandou:

– Guarnição ao meu comando! Guarnição, sentido!

Então, o grupo de trinta homens se organizou em cinco colunas de seis pessoas em posição de sentido, na direção da monarca. O oficial se aproximou correndo de Sua Majestade, prestou uma continência e gritou de maneira marcial:

– Capitão Estevan, encarregado do pelotão sete! Guarnição pronta para inspeção, senhora!

– Inspeção?! Mas eu não... – Suzane havia se esquecido do quanto os oficiais de Carnegie eram adestrados para estarem sempre prontos para amostra caso passasse um general ou um membro da família real. O próprio Rei Titus costumava se divertir mandando prender encarregados de pelotão quando encontrava fardas rasgadas ou armas mal polidas entre seus soldados. De repente, a rainha se viu numa situação constrangedora: todos aqueles homens parados a encarando estavam deixando-a desconfortável. De repente, ela viu o jovem oriental e, assim como os outros, ele a encarava. Olhava fundo nos olhos. Então, surpreendida com a própria atitude, Suzane disse:

– Bem, já que você fez esse alarde todo, vou fazer a inspeção, sim.

Disfarçando seus interesses maliciosos, Suzane passou calmamente pela primeira fileira, observando o estado do equipamento. De vez em quando, fazia uma observação em relação às cotas de malha faltando anéis, elmos precisando ser lustrados ou espadas apresentando ferrugens. Ela passou pela segunda fileira. Suas observações começaram a se tornar infrutíferas. A tropa não estava preparada para receber uma inspeção da nobreza. Passou pela terceira fileira. Nesse momento, ela duvidou do que estava fazendo. No que estava pensando? O que iria dizer ao se deparar com o rapaz que viu? Não poderia dizer nada comprometedor, afinal, ela era a rainha. Além disso, estava rodeada de testemunhas. Então, Suzane alcançou a quarta fileira. O jovem era o quinto militar. A rainha caminhou pelos primeiros quatro e parou em sua frente.

Ela o encarou, e o rapaz sentiu constrangimento. Ela se manteve imóvel por alguns segundos, observando seu rosto fino, sua pele clara, seus olhos exóticos. O capitão já ia perguntar se havia algum problema quando, de modo direto, Suzane perguntou:

– De onde vem, soldado?

O rapaz engoliu em seco antes de responder:

– Sou do Império de Jade, senhora.

– Quem o recrutou para as fileiras de Carnegie? Não costumamos importar soldados do Oriente.

– Fui voluntário para a guarda do Duque Isaías de Vistaclara.

– Voluntário, né? – A rainha encarava o rapaz com curiosidade, o contornando. – Vistaclara é responsável pelo amadurecimento do processo de extração dos minérios. Sua guarda costuma ser constituída de ferreiros aposentados. E você... parece nunca ter erguido uma marreta na vida.

O rapaz ficou um pouco ofendido com a insinuação.

– Eu... tenho interesses pessoais nas pesquisas do Duque. Por isso, me alistei em seu exército, para poder compensar seu esforço. Quanto à minha habilidade, garanto à senhora que sei utilizar perfeitamente meus instrumentos de trabalho.

Suzane quase que não conseguiu esconder um sorriso maldoso quando ouviu as palavras do oriental. Ela se afastou da tropa mas, de repente, se virou para perguntar uma coisa importante:

– Qual é seu nome, soldado de Jade?

– Meu nome é Kazeshin, senhora. E sou um soldado de Carnegie.

 E sou um soldado de Carnegie

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