– Leonel?! Leonel, acorde! – disse a voz de Eugênio, arrancando Leonel de seu sono aquático. O jovem guerreiro se debatia assustado e percebeu que estava à beira do cais de Meandro Preto. Era manhã. Uma multidão cercava o local e olhava para ele com semblantes estupefatos.
– Eu... Eugênio?! Onde estou?
– Aqui é a beira do cais. O que está fazendo largado aí no meio da água? Você está bem? Encontrou as filhas d'água?
Leonel, então, se lembrou de sua aventura no Palácio Dourado e respondeu:
– Sim, mas... não pude trazer as Romãs da Virtude. Estraguei tudo, Eugênio! Minha amiga vai morrer e é tudo culpa minha.
– Bom, isso tudo tem alguma coisa a ver com aquilo ali?
Eugênio apontou para o rio e Leonel se virou para olhar. Um veio de água limpa, pura, cristalina, cruzava a água barrenta do Rio Colosso e terminava onde Leonel estava flutuando. A multidão observava o estranho fenômeno hídrico tentando imaginar seu significado. Do meio da multidão, surgiu o sacerdote Pius Duodecimus, que também estava surpreso com o que via. Ele se aproximou dos dois meninos e disse:
– Eugênio, traga seu amigo até o templo, por favor.
O jovem pueri chori ajudou Leonel a sair da água e o cobriu com seu manto a fim de secá-lo. Enquanto atravessavam a multidão, palavras como "santo" e "abençoado" apareciam entre as pessoas murmurantes.
Leonel passou um tempo secando suas roupas e comendo um pouco de pão com carne de peixe oferecido pela sacristia. Depois que ele se recompôs, foi até o altar, onde os clérigos estavam reunidos. Todos se viraram em direção ao rapaz no momento em que ele apareceu. A ala central do templo estava lotada de curiosos. Sobre o altar, existia uma bacia prateada e uma jarra cheia de água parda, colhida do rio.
– Meu jovem, se aproxime, sim. Temos boas notícias – disse o sacerdote. – Você se lembra que eu disse a você que Belisama se manifestava quando é do interesse do Panteão numa fonte de água?
Leonel acenou positivamente com a cabeça. O sacerdote tocou-lhe o rosto com suavidade e disse:
– Eu não sei que provas lhe foram impostas pela floresta noite passada, meu filho. Mas elas foram recompensadas.
O jovem deixou escorrer uma lágrima quando sentiu o aproximar de um desfecho positivo para sua aventura. Eugênio sorriu para o amigo, ratificando sua sensação de vitória. Pius fez um movimento com as mãos e logo um clérigo trouxe a jarra de água. Eugênio pegou a bacia e a posicionou sob a cabeça de Leonel.
– Baixe a cabeça – auxiliou Eugênio. Leonel, então, jogou um pouco o corpo para frente, olhando para o fundo da bacia prateada.
O sacerdote ergueu as mãos e disse em voz alta, para que todos na igreja pudessem ouvir:
– Leonel de Nautilla, você hoje foi escolhido pela bendita deusa como instrumento da vida. Você veio a este templo em busca do elixir da vida. Não para si, mas para seu semelhante. Pois saiba que todo aquele que pede, recebe. Todo aquele que busca, acha.
Ao dizer tais palavras, o clérigo despejou água parda sobre a cabeça de Leonel. Mas Leonel não via a cor. Ele via apenas gotas de água cristalina escorrerem por seus cabelos e gotejarem sobre a prata. Era como a mais pura chuva, digna apenas dos mais altos picos, caindo sobre o chão de uma caverna cinzenta e profunda.
A multidão se manifestou, emocionada, ao presenciar o pequeno milagre. Leonel foi aplaudido e ovacionado, o que lhe causou ainda mais emoção.
Após a cerimônia, a água pura da bacia foi levada pelos clérigos. Juntamente com o sacerdote, eles passaram algumas horas trabalhando em uma espécie de alambique arcaico, de onde eles extraíram, gota a gota, a essência do elixir da vida. A poção de valor imensurável foi armazenada em um frasco de vidro cristalino, antes de ser entregue às mãos de Leonel.
– Belisama olha por você – disse o sacerdote ao entregar o elixir ao jovem herói. – Haja com dignidade e seu caminho estará seguro.
Leonel observou seu tão esperado prêmio com satisfação e felicidade. Ainda não conseguia acreditar que conseguiu alcançar seu objetivo. Desta vez, sem a ajuda de ninguém. Dalila seria salva e a sua missão ia continuar. Realmente, os deuses estavam olhando para ele.
– Boa sorte na sua jornada, Leonel – disse Eugênio, trazendo a égua Espoleta. – Está alimentada e descansada, perfeita para a jornada de volta.
– Obrigado por tudo, meu amigo.
Leonel se preparava para refazer inteiramente a viagem até a vila dos auárus. Não sabia dizer se seus companheiros conseguiram mover Dalila com alguma diligência e, agora que conseguiu o elixir, não poderia esperar que eles chegassem até ali. Na verdade, não sabia nem se Dalila havia sobrevivido às hemorragias internas. Mas, contando com o melhor, ele cavalgou de volta.
Então, após algumas horas de viagem, ele viu, vindo em sentido contrário, uma velha carruagem sendo puxada por dois cavalos e guiada por um homem-cachorro e uma histérica menina vestindo um manto branco. O coração de Leonel se encheu de tanta alegria que chegou a escorrer uma lágrima de seus olhos. Assim, disparou com Espoleta para interceptar seu saudoso grupo de amigos.
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Jornada ao Presságio Vermelho [Completo!]
FantasyDurante sua fuga das garras de uma seita fanática, o jovem Leonel permitiu que uma criatura abominável fugisse de seu cativeiro, espalhando terror e sofrimento pelos reinos de Arrhênia. Atormentado pela culpa, o rapaz vê sua oportunidade de redenção...