A APOSTA DE ALANA E O PASSADO DE DALILA - 08

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Final de Capítulo caprichado!

Boa leitura, galera!

– Sabe quanto custa o quilo de penas de dhevaniano no mercado negro, Zando?

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– Sabe quanto custa o quilo de penas de dhevaniano no mercado negro, Zando?

– Eu... É... – O bárbaro não tinha palavras, mas havia entendido: os traficantes haviam arrancado a asa de Dalila para pagar a dívida de Sulivan. Havia muita maldade naquele mundo e, em geral, os mais fracos eram os primeiros a sofrer por causa delas. Mulheres e crianças eram alvos fáceis. Como codornas numa mata de serpentes. Eles não tinham nenhum respeito pela vida das pessoas. A única coisa que lhes interessava era o dinheiro, nem que precisasse aleijar um ser humano para sempre. – E... o que você fez em seguida?

– Primeiro eu chorei... chorei muito. Por horas. E, acredite, fazer ataduras nas costas debaixo de pranto é uma missão quase impossível, mas... eu não chorava pela dor. Chorava pela perda da minha capacidade de voar e, principalmente, porque nunca mais veria Dhevan novamente. Não são permitidos dhevanianos amputados na cidade voadora. Eu estou fisica e legalmente impedida de voltar para minha cidade natal. – Dalila se calou um instante. Parecia rever sua vida na escuridão do lago. – Entretanto, quando o dia estava amanhecendo, e não me sobraram mais lágrimas, percebi que Sulivan não voltaria. Fiquei preocupada. Se os traficantes haviam mandado invadir a casa em busca de espólios, eles poderiam já tê-lo matado. Vesti minhas roupas, peguei meu chakram e fui investigar. Passei algumas horas tentando localizar o esconderijo dos traficantes. Eles mudavam de localidade o tempo todo. Até aquele momento, ninguém sabia de nenhum corpo encontrado nas localidades, o que me enchia de esperança. Então, descobri o esconderijo. Era um antigo teatro abandonado. Tinha tetos de vidro e estátuas de pedra com formas goblinoides em seus parapeitos. Estava horrível. As chuvas e ventos erodiram toda sua fachada. Ninguém entrava lá por causa de um boato de aquele lugar ser assombrado. Tolice local. Vários aventureiros já haviam investigado e nada havia lá. O boato fora espalhado pelos bandidos, a fim de manter o teatro como esconderijo. Eu estava desengonçada pela diferença de peso e ainda não sabia planar, então usei as habilidades de escalar parede que Sulivan havia me ensinado para chegar ao teto de vidro e, de lá... minha vida mudou para sempre. Eu demorei a entender. Por que Sulivan estava dialogando com os traficantes? Eles já haviam me atacado, não havia mais o que conversar. Então um dos bandidos jogou uma bolsa de papoula negra para Sulivan e outro, mais afastado, depenava minha asa arrancada em um tonel de água fervente. Finalmente, eu havia entendido: o vício de Sulivan não apenas criou uma dívida impagável com os criminosos como ele havia concordado em permitir que eles arrancassem uma de minhas asas para pagar mais um suprimento de drogas. Naquele momento eu... eu... eu cresci! Se os sofrimentos físico e mental daquele dia não me enlouqueceram, então nada mais o faria. Com novas lágrimas nos olhos e o sangue fervendo, atravessei o vidro daquele teto e ataquei todos eles. Meu chakram degolou os dois primeiros no primeiro arremesso. Pela primeira vez, percebi que minha asa única não era inútil, me ajudando a pousar em segurança. Mais quatro vieram na minha direção. Reconheci algumas vozes. Eram eles. Eles que estiveram em minha casa. Eles que me mutilaram. Tolos. Deveriam ter me matado. O primeiro tentou me apunhalar de frente. Com um único golpe rápido no cotovelo, o fiz enfiar a faca no próprio olho. O segundo, mais esperto, tentou me cortar com um facão pelas costas, enquanto o terceiro vinha com um cutelo pela frente. Eu já havia enfrentando múltiplos oponentes antes. Ainda sentindo dor, minha esquiva não era perfeita. Deixei que me atingissem uma ou duas vezes, mas foram cortes leves. Nada comparado com a perna que voou fora do cara do cutelo ou do braço segurando um facão. O grito de dor dos dois estava me incomodando, então os silenciei: peguei o braço que segurava o facão ainda no ar e golpeei os dois na cabeça. O quarto estava convencido, achando que era melhor do que os outros porque tinha uma espada. Era ela. A última lâmina que minha asa esquerda havia sentido. Lutamos por um instante, ele realmente era bom. Seria uma luta prazerosa de participar se eu não o quisesse morto sob agonia. Quando fintei um ataque no rosto, ele vacilou e eu consegui decepar a mão direita dele. Ele não deveria se desesperar, pois ainda tinha a esquerda, mas não dei tempo para que percebesse: decepei a esquerda também. Ali, ajoelhado e gritando, sem as duas mãos, ele implorou: "Por favor, nos perdoe." E eu respondi: "Não!" Arrastei-o pelos cabelos até o tonel de água fervente, o joguei dentro e tranquei a tampa. Enquanto o bandido cozinhava e se debatia, tomei coragem para olhar para Sulivan. Ele estava chorando. Ajoelhado e olhando para mim. Não tirava os olhos do lugar onde deveria haver uma asa. Sentiu sua "ausência". Ele sabia que eu sabia. A vergonha estava emulsionada em suas lágrimas. Eu me aproximei. Ele se agachou aos meus pés. Eu ajoelhei. Ele não tinha coragem de me encarar. Perguntei a ele "Por quê?", ele respondia coisas aleatórias em meio ao pranto: "Eu não estava pensando direito", "Eu não consegui resistir" ou "Não achei que fossem fazer isso." Todo meu amor se tornou desdém, minha crença, desilusão. O grande ladrão se tornou um pedinte. Aquele que eu admirava como um herói se tornou um covarde. Com delicadeza, levantei seu queixo e, brutalmente, acertei-lhe um murro na boca. Ele cuspiu um dente ou dois. Por fim, chutei a espada que havia me mutilado na direção dele e disse: "Guarde-a, porque se, um dia, eu te vir de novo, você vai precisar dela." Abandonei Thulle e fui morar em Mirada do Lago. Depois de alguns meses, voltei à vida de aventureira. Aventureira solitária. Não acreditava mais em grupos ou companheiros. Na verdade, acreditava, mas... não queria criar expectativas. As dores e frustrações eram fortes demais para aceitar. Até que conheci Leonel. Ele me salvou de traficantes sem me conhecer nem tendo qualquer obrigação. Leonel me deu esperança novamente nas pessoas. E, depois, vocês apareceram e fizeram desses últimos meses os melhores que já tive em muitos anos... – Dalila começou a chorar. – Eu não posso imaginar que vou ter outro desgosto tão grande!

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