8 § A visita aos traumas

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< Capítulo anterior: 7§ A crise da filantropa

O casamento de Eva, bem como a sua relação com o Bruno parece ter-se resumido a uma questão laboral. No entanto, quando Eva pensa que as coisas não podem ir a pior, é assolada com mais uma surpresa...

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— Eva —

— Estamos quase a chegar à instituição, senhora Eva! — avisa-me o motorista

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— Estamos quase a chegar à instituição, senhora Eva! — avisa-me o motorista.

Sim, hoje tenho direito a motorista da empresa, ou não estivesse eu ao serviço dela. Aqui vou eu para mais uma ação de cariz social/humanitário.

Já consigo avistar alguns repórteres perfilados à entrada da instituição para acompanhar esta minha visita. Deverão ser oriundos de alguns meios de comunicação locais, aqui mesmo do distrito. Certamente que foi Bruno ou, quem sabe, a tal Kika a contactá-los.

"Que presente ter-lhe-á ele oferecido?" — é a questão idiota que me incomoda desde a noite passada. Enquanto eu sou brindada com tarefas em prol da empresa e uma procissão de jornalistas atrás de mim, ela, se calhar, recebe jóias ou alguma viagem romântica.

Saio da viatura e aceno com a cabeça à comunicação social ali presente. Sei que se limitam a fazer o serviço que lhes foi encomendado. Ambos estamos cientes dos nossos papéis. Estou certa de que quer eu, quer eles, prefeririamos cumprir com os nossos trabalhos de outra forma. 

Porventura, eles teriam alguma notícia mais importante para cobrir do que esta campanha publicitária da empresa de Bruno, mascarada de ação social. Eu, por outro lado, também me sentiria melhor ao falar com as mulheres e as funcionárias da instituição, distante das objetivas da comunicação social e da pressão para que o evento seja cinematográfico.

Não fui dotada de um discurso eloquente, capaz de emocionar as pessoas com quem converso. Também não possuo um olhar profundo e terno, que apaixone as câmaras fotográficas. Contudo, a minha vontade em ajudar é genuína. Se é preciso alguém para por mãos à obra, podem contar comigo. 

Ao longo destes anos, já fiz de tudo durante estas visitas. Desde ajudar na confecção de refeições para sem abrigo, a faxinar. Já cheguei inclusive a auxiliar no banho a idosos e na troca das suas fraldas. 

No final, a opinião destes jornalistas é unânime. Aquilo que perco em empatia pessoal, recupero nas ações e nas situações práticas. Alguns deles já chegaram a apelidar-me simpaticamente de "a caridade em movimento". Porém, não considero caridade aquilo que faço. A minha motivação vai muito além da mera caridade. O meu desejo é o de mudar realidades sociais precárias e revoltantes para uma sociedade do nosso século.

— Esta rapariga está aqui connosco há dois dias! — explica-me uma das funcionárias, apresentando-me à jovem. — Ela estava numa empresa a estagiar. Aqueles estágios de final de mestrado, sabe?

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