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< Capítulo anterior: 41§ Ondas que curam
Após trazer Eva de volta para casa, Tiago tenta recuperar a serenidade e habituar-se a esta nova hóspede que continua a irritá-lo. Tiago encontra no surf uma forma de apaziguar feridas do passado que carrega consigo. Eva surpreende-o no barracão numa situação algo constrangedora...
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— Eva —
Hesito por momentos. Não devia de ter vindo até este barracão. Sou assolada pelas náuseas do odor a sangue.
Tiago levanta-se, ainda com as mãos ensanguentadas, e dirige-se a mim. Só quero sair daqui. Preciso de ar. Entro em pânico e começo instintivamente a recuar em direção à saída.
— Não tenhas medo! — diz-me ele, agarrando-me o braço.
Respiro ofegante, ao ver o olhar moribundo dela, deitada no chão, imóvel, à mercê do destino que Tiago lhe queira dar.
Recordo-me mais uma vez das minhas mãos e roupa ensanguentadas naquela tarde de verão em que acabei por me converter numa assassina. Simplesmente não suporto recordar a cara daquele monstro que me violou, mesmo depois de o ter morto.
Aquele cheiro pesado a ferro, que permeia o barracão, sufoca-me e transporta-me para um passado que preferia não recordar nunca mais.
— Shhhhh! — pede-me Tiago, com um sussurro. — Não a assustes! Prometo-te que ela vai ficar bem.
Sinto o calor que emerge do peito de Tiago. A parte superior do fato de mergulho está totalmente descaída, ao nível da cintura, e um pouco suja de ter tido contacto com o chão, enquanto ele estava agachado.
— O que lhe aconteceu? — questiono-o, em voz baixa, tentando superar o meu temor e convencê-lo de que estou confortável com o que estou a ver.
Tiago volta a apagar a luz e abaixa-se uma vez mais. Redireciona novamente toda a sua atenção para o animal. Uma imponente égua Bretton! Ele retoma a tarefa de lhe trocar a ligadura.
— Apareceu ferida e ninguém sabe o que lhe acpnteceu! Ainda está muito sensível à luz, mas vai ficar bem!
Mais uma para se juntar ao grupo das "sensíveis à luz e ao sol". Será que também tem Lupus? Fico constrangida com a ironia dos meus próprios pensamentos. Talvez essa ironia não passe dum mecanismo de auto-defesa para eu bloquear as memórias daquele dia.
— É tua?
— Praticamente como fosse! Pertence à coudelaria aqui da vila. Mas esta égua só me deixa a mim montá-la. Conheço-a desde novinha! — explica Tiago, enquanto vai fazendo o novo penso ao animal. — Não é assim, Brigite?
— Uma Bretton Woods legítima?
— Sim, de raça pura! Como sabes? Pensava que só dominasses as marcas de roupa e de malas. — refere Tiago, não desperdiçando a oportunidade de me criticar.
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A Esposa Perfeita
Narrativa generaleTudo o que nasce do fogo, termina em cinzas! Eva é uma esposa troféu, tendo vivido mais de vinte anos rodeada de todos os luxos e comodidades provenientes desse casamento. Ela sempre foi exímia em interpretar o papel que era requerido dela: a mulh...