----------
< Capítulo anterior: 22§ O diagnóstico
Eva recebe finalmente o diagnóstico acerca do que tem. Bruno está presente também aquando da revelação.
---------
— Eva —
O médico prossegue o seu intento de me explicar o que é o Lupus. Ele esforça-se por manter um tom positivo e educativo na conversa.
Mas a quem ele pretende persuadir com aquela história de que o Lupus é igual a um companheiro com quem dividimos apartamento? Um indivíduo que não podemos mandar embora. Um sujeito que às vezes nem damos conta dele, mas que em outras alturas vai nos incomodar e perturbar bastante.
— Como em qualquer situação deste estilo, a melhor forma é aprendermos a conviver com ele, de forma a reduzirmos os atritos e crises. — conclui o médico a sua fábula encantada acerca do Lupus.
— Isso é tratável? Como se pode resolver isso? — questiono, ansiando livrar-me desse intruso.
Honestamente já não sei o que me está a irritar mais, se a doença ou os paralelismos e os eufemismos que o médico teima em usar.
Bolas! Já sou crescida o suficiente para me transmitirem as coisas como são, sem açúcares adicionais ou maquilhagens. Eu pedi a opinião dum médico e não a da "Leopoldina no mundo encantado dos brinquedos".
— Estamos a falar duma doença autoimune. Embora não exista cura para ela, hoje em dia a medicina oferece vários tratamentos que podem ajudar a controlar a evolução do Lupus. Talvez a melhor forma de a encarar seja como uma doença crónica.
Bruno está calado. Pela cara dele posso inferir que está a par do que é o tal Lupus.
— Mas em que se traduz a doença concretamente? — tento perceber o que realmente se passa comigo.
— Basicamente o seu organismo vê inimigos onde eles não existem, Eva!
Mais uma vez o médico envereda pelo campo das analogias irritantes a que tudo se reduz a um recreio da primária onde temos os amiguinhos dum lado e os inimigos do outro. Arfo frustrada.
— Assim, volta e meia o seu organismo rebela-se contra alguma parte dele próprio, onde pensa estar a ocorrer uma infeção. Isso despoleta uma luta desenfreada para combater essa hipotética adversidade. No final, o seu organismo, nesse esforço de resolver as coisas, acaba por se magoar a ele próprio, provocando danos aqui e ali.
— Mas doutor, com a medicação posso prosseguir com a minha vida normal, certo?
— O Lupus pode se manifestar em diferentes partes do organismo, Eva. Infelizmente, no seu caso, temo que ele tenha afetado o seu coração. Ou seja, embora a Eva esteja no início dos seus quarenta anos, é como que tenha dentro de si o coração duma septuagenária.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Esposa Perfeita
General FictionTudo o que nasce do fogo, termina em cinzas! Eva é uma esposa troféu, tendo vivido mais de vinte anos rodeada de todos os luxos e comodidades provenientes desse casamento. Ela sempre foi exímia em interpretar o papel que era requerido dela: a mulh...