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< Capítulo anterior: 15§ A fragrância de Clara
Érica surpreende Bruno com uma viagem que traz recordações muito dolorosas para ambos. Os efeitos delas podem ser imprevisíveis.
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- Bruno -
- Espero-te no carro! - digo-lhe, apressando-me a sair dali. A situação escapou-me das mãos e detesto agir no improviso. A presença de Clara naquele local é demasiado forte e deixa-me angustiado por saber perfeitamente que ela nunca regressará.
Poucos instantes depois de entrar no carro, surge Kika. Ela ainda olha um par de vezes para trás, para a igreja, para o cemitério, para o horizonte. É como que esteja a despedir-se deles um a um.
- Desculpa Bruno, não era a minha intenção...
- Tudo bem, Kika! - atropelo a fala dela, impaciente para terminar com aquele assunto. Ligo o carro e literalmente fujo daquele lugar. - É um problema meu, tu não podias adivinhar.
- Só queria que conhecesses um pouco mais de mim. Sei que já me tinhas perguntado algumas vezes pela minha família e pelas minhas origens, e eu tinha sido sempre algo evasiva. Espero que agora percebas um pouco melhor o porquê.
O meu silêncio deixa o ambiente entre nós algo estranho. Mas é muito difícil para mim, expressar-me depois de toda aquela sucessão de eventos inesperados. Se tentar articular uma palavra acerca de Clara posso acabar por ceder às angústias do passado.
- Kika, não fiques magoada, por favor! A sério que não é nada contigo.
- Apenas estou um pouco confusa com a tua reação. Gostava que confiasses um pouco mais em mim. Que me contasses mais de ti, assim como eu estou a tentar fazê-lo.
Até que ponto Kika saberá da existência de outro homem na vida da mãe? Ela apenas referiu que Clara se tinha ido embora. Ter-lhes-á dado alguma justificação? Será que alguma vez referiu o meu nome? O pai de Kika ter-se-á apercebido de alguma coisa ou vindo no encalço da esposa?
São demasiadas questões sem resposta. Devia ter aguentado um pouco mais em frente da campa de Clara. Kika estava disposta a falar sobre a mãe, algo pelo qual me debatera subtilmente desde que a conhecera. E agora que a oportunidade tinha surgido, eu estraguei tudo.
- Pára aqui! - pede-me repentinamente. - Neste restaurante preparam uns grelhados como nunca comeste na vida. Apetece-me mesmo algo na brasa! Estou cheia de fome.
Olho para o relógio e efetivamente já são horas de jantar. Por mais que queira deixar Érica em casa e isolar-me nalgum sítio com os meus demónios, sei que tenho de contrariar esse desejo.
- Desculpe, hoje estamos com a sala reservada para as celebrações do dia da mulher. - é-nos explicado à porta, por um dos empregados do restaurante.
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A Esposa Perfeita
General FictionTudo o que nasce do fogo, termina em cinzas! Eva é uma esposa troféu, tendo vivido mais de vinte anos rodeada de todos os luxos e comodidades provenientes desse casamento. Ela sempre foi exímia em interpretar o papel que era requerido dela: a mulh...