33 § Aliados

1.6K 138 66
                                    

----------

< Capítulo anterior: 32§ Vida em chamas

A viagem de Eva é detida por um incêndio que a faz reviver so seus medos e traumas do passado.

---------

— Eva —

O divórcio marca o início da formação de dois bandos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O divórcio marca o início da formação de dois bandos. De uma forma mais ou menos explícita, as pessoas são obrigadas a tomar uma posição. 

O final do casamento extingue esse conceito dos amigos comuns do casal. É hora de cada um dos cônjuges se rodear daqueles com quem poderá contar dali em diante.

Porém, aqui estou eu, sozinha. Apenas eu e o motorista neste carro à deriva. Penso nos maiores aliados que posso ter neste processo. Quem melhor do que a minha família. A diferença é que Bruno tem a dele a passos de distância, enquanto a minha está a várias horas de avião.

— O que se passa, Eva? — questiona-me a minha mãe do outro lado da linha.

Apesar de ter-lhe telefonado apenas para ouvir a sua voz e sentir o reconforto da voz maternal, que tanta falta nos faz nos momentos mais difíceis, ela rapidamente se apercebe de que algo está errado.

— Mãe, o Bruno pediu-me o divórcio! — digo-lhe com a voz trémula.

Existe um silêncio expectável de apreensão. Um compasso para porventura escolher o que dizer perante uma notícia como esta. Mas de repente, oiço-a berrar para o meu pai: "O marido da Eva quer a deixar!".

Entre os meus pais nunca houve segredos ou meias-palavras. Eles sempre enfrentaram como um bloco unido tudo o que fôsse. Comemoraram as pequenas vitórias juntos, choraram abraçados perante as adversidades e pelo meio discutiram e resolveram as suas discordâncias quando necessário.

Oiço-a agora sussurar com o meu pai do outro lado da linha, pondo-o a par do que se passa. 

O meu pai é um homem naturalmente reservado, que tem dificuldades em exteriorizar o que lhe vai na alma. Por isso, geralmente acaba por ser a minha mãe a verbalizar o ponto de vista de ambos, enquanto ele fica perto dela. Basta-lhe um olhar dele, para ela perceber o que pensa acerca dum assunto.

— Oh, querida! Infelizmente isso não é para mim uma grande surpresa. Era algo que mais cedo ou mais tarde iria acontecer... diz ela, docilmente. — Esse casamento sempre foi muito estranho. Tu sabes que nunca entendemos muito bem como te casaste assim subitamente com um homem, sem o amares.

É verdade que os meus pais sempre olharam com desconfiança o meu enlace com Bruno, e não os posso culpabilizar por isso. Afinal quem não estaria constantemente de pé atrás com um genro que jamais os quis conhecer, ou sequer falar com eles ao telefone.

No início do nosso casamento, Bruno ainda se esforçava por arranjar desculpas para a sua ausência nas chamadas telefónicas, mesmo naquelas de votos de Natal ou de aniversário. 

A Esposa PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora