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< Capítulo anterior: 33§ Aliados
Eva procura consolo nos seus pais. O motorista leva-a para um sítio que lhe é desconhecido e ela teme o pior.
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— Eva —
Talvez seja apenas um troço de estrada mais irregular que estamos a atravessar. Disfarçadamente espreito pela janela. Já escureceu lá fora. Mas a vista é deslumbrante, apesar de desconhecer o sítio. Os solavancos que sinto advêm da pequena ponte que estamos a passar.
— Esta é uma ponte centenária. É do tempo dos meus visavós. — conta-me Ricardo, o motorista. Devo ter sido óbvia demais nos meus movimentos. — Não se preocupe, que esta não é das que caem do nada. A construção dela é bastante robusta.
— Onde estamos?
— Praticamente a chegar à terra onde cresci — refere o rapaz. — Os avós paternos do Sr. Bruno também eram daqui. Um pequeno paraíso escondido.
— Isto é uma ilha?
— Pode-se dizer que sim, apesar da ligação terrestre que é feita por esta ponte. Foi aqui que os meus tios começaram a trabalhar para o pai do Sr. Bruno, e este foi o ponto de partida para tudo o que a família Medeiros tem hoje.
Vejo as luzes brilharem, dando contorno à ilha. A cor alaranjada delas dão uma sensação mais acolhedora. Ao abrir a janela, sinto o cheiro da maresia entrar-me pelas narinas. Apesar da noite quente, há uma brisa ligeiramente refrescante, muito própria das zonas costeiras, quando o sol já se pôs.
— Nunca pensaste em voltar aqui? — questiono-o. — Suponho que tenhas aqui família?
— Sim, os meus pais vivem aqui. Venho visitá-los volta e meia. Mas não há espaço aqui para mim e para aquilo que sou.
— Deve ser extremamente duro quando a nossa família nos vira as costas e deixamos de ter um local para voltar, ao qual chamemos de casa! — solto, meio em tom de desabafo, meio em tom de pergunta.
Há um par de anos atrás, numa das folgas de Ricardo, eu tinha saído com as minhas amigas para mais um daqueles jantares supérfulos de sexta-feira à noite.
Quando regressava sozinha para o carro, cruzei-me com um casal de mãos dadas. Quase que instintivamente reagi com estranheza ao me aperceber que eram dois rapazes. Foi algo simplesmente mais forte do que eu.
Por mais que me educasse a mim mesma de que todas as pessoas tinham direito a serem felizes, independentemente da sua orientação sexual, era inevitável o meu espanto inicial.
Para surpresa de ambos, um dos rapazes em questão era Ricardo. Ficámos sem saber o que dizer um ao outro e acabámos por seguir os nossos caminhos sem trocarmos uma palavra.
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A Esposa Perfeita
Ficción GeneralTudo o que nasce do fogo, termina em cinzas! Eva é uma esposa troféu, tendo vivido mais de vinte anos rodeada de todos os luxos e comodidades provenientes desse casamento. Ela sempre foi exímia em interpretar o papel que era requerido dela: a mulh...