10 § Duche escaldante

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< Capítulo anterior: 9§ A antecessora

Bruno repreende Eva pela sua falta de personalismo, e esta ainda é obrigada a lidar com a postura pouco fraternalista da sogra...

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— Eva —

Às custas dum esforço sobre-humano consegui visitar mais duas instituições no que restava da tarde e início da noite

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Às custas dum esforço sobre-humano consegui visitar mais duas instituições no que restava da tarde e início da noite. Afinal, os eventos que a minha sogra escolheu, em nada vão resolver os já em atraso. Ela limitou-se a pegar compromissos que ocorrerão nos próximos dias. 

Assim, após disfarçar o melhor que podia as manchas no meu rosto, regressei ao trabalho. Preferia que comentassem que tinha abusado nos cosméticos, do que indagarem-me de forma persistente acerca da origem daquela vermelhidão. Logo comprarei um protetor solar de fator 100, para ficar blindada às investidas do meu novo inimigo que brilha incessantemente.

Numa das idas recentes à farmácia, a técnica explicou-me detalhadamente que a minha pele é muito sensível à exposição solar. Elucidou-me também que o protetor solar de fator elevado não significa que seja mais forte que os demais. 

Segundo a farmacêutica, o fator apenas indica o tempo a mais que aquele produto irá proteger a minha pele. Ou seja, no meu caso, talvez bastem cinco minutos de exposição solar para apanhar um escaldão. Assim, com um protetor de fator 100, estaria protegida por quinhentos minutos, quase um dia inteiro.

Contudo, na altura acabei por não comprá-lo. Sempre gostei de ter uma cor bronzeada, e podia ser que aquelas primeiras reações fossem algo esporádico, apenas de início de estação. Todavia, depois do dia de hoje, não facilitarei mais nesse quesito.

Entro em casa reconfortada pelo senso de dever cumprido. Embora desgastantes, aquelas visitas realizam-me a todos os níveis. 

Após um descontentamento inicial, totalmente compreensível, todas as instituições ficaram satisfeitas com a minha presença. Humildemente justifiquei-me pelos atrasos e adiamentos consecutivos. Rapidamente o desconforto foi ultrapassado. 

Neste momento, posso dizer que me sinto ligeiramente melhor do que esperava e que cumpri a minha agenda com sucesso.

O cinzeiro na mesa da sala exibe quatro cigarros consumidos, os quais não estavam ali quando saí. Um deles ainda parece fumegar. Ao lado, um copo vazio e uma garrafa de whisky. Estes são sinais de que Bruno já chegou. 

São dez da noite, algo cedo face às horas a que ultimamente tem entrado em casa. Seguramente que está fulo comigo e quer terminar a conversa que deixou pendente ao telefone. Só não devia contar com que eu tivesse saído.

Ao me aproximar do nosso quarto oiço o chuveiro. Apetece-me tanto um duche também! Sinto falta do toque de Bruno no meu corpo. Talvez seja apenas memória sensorial ao fim de todos estes anos. O nosso casamento girou tanto em torno desse aspeto carnal, que agora perante a quase ausência de intimidade entre nós, ele parece morto.

Acendo um par de velas no quarto, daquelas que libertam fragrâncias afrodisíacas. Sei que lá no fundo, Bruno aprecia um quarto à meia-luz irrequieta das velas. Dispo-me e vou ao encontro dele na cabine do chuveiro da suite. 

Ele continua alheio à minha presença, virado para a parede, deixando a água simplesmente escorrer pelo seu corpo. 

Apesar das quase cinco décadas, Bruno mantém um aspeto físico invejável. Ele é um daqueles homens que foi abençoado pela genética. Mesmo sem por um pé no ginásio há anos, pouco ou nada engordou. Se por um lado não exibe músculos exuberantes, o seu corpo não deixa de estar definido. 

Silenciosamente abro a porta da cabine e abraço-me por detrás dele. Sei quanto o excita sentir os meus seios colados nas suas costas.

— Eva, para! — oferece-me resistência, virando-se de frente para mim. — Temos de falar!

— Sim, vamos então falar! — sussurro-lhe com a dose certa de sensualidade. — O que te apetece fazer hoje?

Conheço de cor o corpo dele. Sou especializada nos toques que aplicados milimetricamente nas zonas certas o vão incendiar instantaneamente. Talvez ele tenha-se esquecido disso, mas rapidamente vejo o corpo dele reagir, denunciando que está de novo nas minhas mãos.

— Bom, vou dar-te espaço para tomares o teu banho sossegado. — atiço-o, quando já estou segura de que todos os seus poros já estão em chamas, a arderem desenfreadamente por um corpo feminino.

Tudo não passa dum jogo que o enlouquece. No instante seguinte ele está a agarrar-me lascivamente, exibindo apenas os seus instintos mais básicos. 

O Bruno-homem-de-negócios já abandonou aquele espaço. Ele está simplesmente despido de qualquer camada polida que possa exibir fora destas quatro paredes. Agora sou só eu e o Bruno selvagem e primário. 

Beija-me cego de luxúria, como já não o fazia há semanas. Todo o homem que ele é, parece agigantar-se naquele momento. O que se seguirá derivará unicamente das suas fantasias. Eu viajarei até onde ele me quiser levar nesta montanha russa de prazer e dor, por que Bruno não sabe amar doutra forma, pelo menos comigo. 

O cenário está montado, as velas consomem-se lentamente ao fundo no quarto, enquanto Bruno sacia-se no meu corpo. Ali só há espaço para dois e mais ninguém! O acesso está interdito a amantes, negócios, empresas e sogras.

Bruno assume o controlo total e guia-me até às partes do seu corpo que demandam urgentemente a minha atenção. Mas desta vez não vou ter pressa. Vou castigá-lo lentamente neste labirinto libidinoso. "Será que a miúda de vinte anos sabe fazer-te isto?" — questiono-lhe em segredo na minha mente, enquanto o ouço arfar roucamente de prazer.

***

Quando desperto na manhã seguinte, Bruno continua ali, adormecido! Não é comum vê-lo assim: totalmente despojado na cama, com todo o seu corpo exposto, sem qualquer lençol sobre si. Sinto-me completa e mulher de novo. 

Ontem, quando parecia que tudo iria terminar naquela cabine de chuveiro, consegui reanimar a fera nele e arrastá-lo para um segundo round no quarto. Duvido que alguém o tenha conseguido levar assim ao limite ultimamente. 

Subtilmente deixei-o sempre na ilusão que era ele que estava no controlo das operações. No entanto, se era verdade que era ele que definia as táticas e as operações a serem levadas a cabo naquela dança corporal, era eu que em segredo controlava o ritmo e a duração de cada uma delas.

Decido não interromper aquele merecido descanso do guerreiro e escapo-me do quarto sem fazer barulho. Posso antecipar a sua fúria quando constatar que chegará mais tarde do que o habitual à empresa.

Esta manhã parece inspirar-me e segredar-me ao ouvido que sou capaz de ultrapassar qualquer adversidade. Após tomar um duche na outra casa de banho e deixar preparado um pequeno-almoço de atleta, saio de casa em direção à companhia. Hoje chegarei à empresa antes de Bruno.

Acredito que aquele é o melhor momento para enfrentar cara a cara os meus fantasmas.

— Indique-me qual é o gabinete da Érica Martins, por favor! — peço à funcionária na receção geral da empresa, logo à entrada.

É provável que esta moça não esteja a par das aventuras de Bruno, diferente da fiel escudeira da receção da presidência.

— Doutora Eva, suba ao terceiro piso, por favor. Aí encontrará a divisão de marketing. O gabinete da doutora Érica é o segundo à sua esquerda.

Enquanto o elevador sobe, consulto o telemóvel, na expectativa de alguma chamada perdida de Bruno, para reclamar comigo por não tê-lo despertado. Mas nada! Talvez ainda durma, ou simplesmente esteja a recarregar energias à mesa.

O sinal sonoro é seguido pela abertura de portas com a comunicação gravada: "Piso três, Marketing." 

A Esposa PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora