Tudo o que nasce do fogo, termina em cinzas!
Eva é uma esposa troféu, tendo vivido mais de vinte anos rodeada de todos os luxos e comodidades provenientes desse casamento. Ela sempre foi exímia em interpretar o papel que era requerido dela: a mulh...
A relação de Eva e Bruno está cada vez mais tensa, e a presença de um casal feliz com os filhos, não vem ajudar em nada o clima. Como se não bastasse, Bruno recebe uma chamada telefónica e deixa Eva sozinha de novo.
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— Eva —
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A família perfeita prossegue com a sua atuação durante mais uma boa meia hora. O pai extremoso que cuida das filhas para aliviar a responsabilidade da mãe presa a uma cama de hospital.
Estarão ambos no início dos trintas, ou já a aproximar-se do meio dessa terceira década? Seja como for, a relação parece ir de vento em popa, apesar das duas pestinhas.
Contudo, já não me deixo ludibriar pelas aparências. Mais do que ninguém sei como essas coisas funcionam.
Em público todos nós nos empenhamos em sermos melhores pessoas do que nos recato do lar. As lágrimas são convertidas em sorrisos largos, mas ocos. Os gritos de ressentimento são sufocados com gentis pedidos e demais cortesias. E os abanos e até mesmo agressões são substituídos por graciosas carícias.
Finalmente, o homem beija a esposa com um singelo selo nos lábios dela e toca suavemente os cabelos dela.
— Tens a certeza de que não precisas de mais nada? — diz-lhe ele, atenciosamente, recebendo um aceno negativo dela. — Vamos andando então. Ainda tenho de deixar as meninas na casa da tua mãe, e depois correr para o trabalho.
— Se tudo correr bem, espero ter alta ainda hoje!
— Que os céus te oiçam! — confessa-lhe ele com algum entusiasmo.
Quando ele e as crianças saem, dou por mim a sorrir empaticamente para mulher. Ela apercebe-se e retribui-me o mesmo sorriso.
— São a sua família? — questiono, apesar de saber perfeitamente a resposta.
— Sim! O meu marido e as minhas filhas. — refere a rapariga. — Desta vez há de ser um menino.
Uau! Quando a vejo acariciar a barriga apercebo-me de que está grávida novamente. Certamente que ela deve estar empenhada em enterrar o casamento dela a todo o custo. Que relação pode resistir a três crianças?
— É o seu marido, que quer um menino? — não resisto a perguntar-lhe.
— Diria que a esta altura somos os dois a desejar um menino. No entanto, quem vier será sempre bem-vindo!
— Os maridos e as suas cobranças! O irónico é que são os cromossomas deles que acabam por definir o sexo do bebé, no entanto, durante anos fomos martirizadas, quando dávamos à luz meninas.
