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< Capítulo anterior: 13§ Ler nas entrelinhas
Bruno e Eva trocam acusações e cobranças numa conversa tensa, onde há muito mais subentendido do que o verbalmente expresso.
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- Bruno -
Kika chora inconsolável, agarrada ao meu casaco, tal como uma criança indefesa quando pede colo.
- Foi horrível! - soluça entre o choro e a respiração ofegante. - Só queria que tivesses escutado todas as críticas que ela me fez! Não tenho pensado em outra coisa desde manhã.
- Calma, Kika! Não te deixes abalar. É natural que te sintas intimidada pela Eva, afinal ela já anda nestas lides há anos.
- Pensava que depois de falares com ela, passasses aqui...
- Desculpa, Kika! Foram-se sucedendo coisas umas atrás das outras. E fui sendo retido por assuntos urgentes... Infelizmente, só agora consegui escapar-me do meu gabinete. Nem sequer almocei.
Tento em vão atenuar a situação. Nunca tive muita paciência para chorincos de mulheres. É algo que para mim sempre tirou a beleza e a fascinação que podia ter por algumas delas.
Das várias com que me envolvi, quando começavam as primeiras queixas e lamúrias, já sabia que estava na altura de terminar aquele caso e seguir para o próximo.
Se o meu trato com Eva durou todos estes anos, foi porque ela jamais foi do estilo de se vitimizar. Ela jogou o nosso jogo pondo sempre a inteligência e o pragmatismo acima do turbilhão de emoções nocivas pelo qual muita gente se deixa arrastar.
Não obstante toda essa minha aversão a dramas femininos, com Érica tudo é distinto. Sinto uma vontade inexplicável de a abraçar, quando ela vacila. A sua fragilidade faz-me lembrar do quão delicada ela é e impele-me a protegê-la, a correr em seu socorro.
Cada toque entre as nossas mãos, cada lágrima quente dela na minha pele, é algo transcendente. As memórias do que vivi com a mãe de Kika fundem-se duma forma indissociável com o meu presente ali, ao lado dela.
- Tu sabes que eu nunca te pedi nada! Candidatei-me em pé de igualdade com qualquer outra candidata a este emprego. Passei por todo o processo sem qualquer benefício ou cunha.
- Eu sei! Eu sei!
Em algumas alturas pensei em contar-lhe toda a verdade. Que a mãe dela tinha sido o grande amor da minha vida, aquele que nos marca para sempre, que rasga a nossa alma em duas, não havendo mais fita adesiva ou cola que possa voltar a uni-la.
No entanto, que benefício poderia advir dessa revelação para qualquer um dos dois? Isso só iria acabar por nos afastar. A insegurança de Érica certamente escalaria. Ela jamais acreditaria que agora era a ela quem eu amava e não à imagem da mãe.
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A Esposa Perfeita
General FictionTudo o que nasce do fogo, termina em cinzas! Eva é uma esposa troféu, tendo vivido mais de vinte anos rodeada de todos os luxos e comodidades provenientes desse casamento. Ela sempre foi exímia em interpretar o papel que era requerido dela: a mulh...