Tudo o que nasce do fogo, termina em cinzas!
Eva é uma esposa troféu, tendo vivido mais de vinte anos rodeada de todos os luxos e comodidades provenientes desse casamento. Ela sempre foi exímia em interpretar o papel que era requerido dela: a mulh...
Eva foi surpreendida com uma nova Carolina, e uma conversa com dona Isabel acabou por incendiar-lhe ainda mais os ânimos...
---------
— Bruno—
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Acendo o meu charuto e sirvo-me duma dose de whisky. Chegou ao fim mais uma reunião excruciante com uns potenciais clientes estrangeiros que supostamente estão interessados em que passemos a exportar os nossos produtos para o país deles.
Claro que em troca pretendem ser eles os distribuidores e deterem os direitos exclusivos da nossa marca. Por mais aliciante que a proposta possa parecer à primeira vista, estes indivíduos teimam em querer tudo a troco de nada.
Crêem que só porque têm um mercado com vários milhões de consumidores podem vir aqui exigir condições ridículas que se traduziriam em eles ficarem com mais de noventa por cento do lucro gerado. Só me apeteceu rir na cara deles e mandá-los bugiar. Enfim!
Admito que a minha cabeça não estava naquela reunião. Agora que olho a cidade, no recato do meu escritório envidraçado, posso rever uma e outra vez na minha mente a cena desta manhã: Eva a atravessar a avenida, qual mancha branca e cheia de luz, no meio daquela paisagem tão cinzentona.
A sua elegância, o seu jeito tão distinto e os seus movimentos tão graciosos fazem com que coisas mais triviais como caminhar ganhem outro encanto. Eva sempre teve um ingrediente secreto, algo difícil de decifrar que lhe permitia fazer a diferença onde quer que estivesse.
Já o meu pai gostava de dizer que "O diabo está nos detalhes". Se ele tivésse chegado a conhecer Eva, talvez tivésse sido mais expedito a identificar essa fórmula secreta.
O certo era que esses segundos em que apreciei Eva a aproximar-se da empresa, esta manhã, tinham-me ficado gravados na mente que teimava em reproduzi-los uma e outra vez, igual a uma canção que não nos quer sair do ouvido desde que nos levantamos.
Sim, eu espiara-a na rua, desde aqui. Durante a reunião, atentara a cada gesto seu, a partir do reflexo dela no vidro, em que eu fingia apenas olhar para o infinito.
A minha indiferença fora um mero disfarce, quando na realidade estava imerso pelo brilho dela, a aura natural que trazia consigo. De alguma forma, aquela era uma Eva algo diferente, algo inédita, até me atreveria a catalogá-la de rejuvenescida.
A presença de Eva continuava a causar impacto onde quer que ela fosse. Esta súbita constatação só podia derivar de não mais estar com ela todos os dias. Este distanciamento estava certamente a pregar uma partida falaciosa à forma como eu via Eva.
O facto de não saber nada acerca do seu paradeiro nas últimas semanas aguçava-me a curiosidade e até reacendia o meu interesse por ela. Subitamente a minha quase ex-esposa convertera-se numa estranha, envolta por um véu de mistério que não fazia mais do que despertar o meu desejo.
