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< Capítulo anterior: 81§ Obstrução à verdade
Érica procurou a todo o custo resgatar os documentos comprometedores, contudo os mesmo acabaram nas mãos de quem ela mais temia...
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— Érica—
Dona Isabel chama a empregada e pede-lhe que prepare um chá para nós as duas. Eu espero que ela me dê um sinal para que comece a contar-lhe o que tenho a dizer, mas ao invés disso ela olha-me num silêncio incómodo.
— Bom, o que tenho para lhe revelar não é algo fácil para uma mãe. — começo por referir. — Eu mesma ainda não consegui contar isto ao Bruno e nem sei como lhe dizer. Temo a reação dele quando se inteirar de toda a verdade e é por isso que estou a apelar para o seu lado de mulher e de mãe, na esperança de que me possa entender melhor.
Aguardo por uma confirmação de dona Isabel, um resquício que indique a sua solidariedade feminina para comigo, mas nada. Ela permanece sentada no mesmo sítio, igual a uma espectadora dum programa de televisão de domingo à tarde, sem esboçar qualquer reação.
Respiro fundo e num salto de fé desvendo-lhe o segredo do bebé que carrego no meu ventre, a aterradora verdade que a ecografia das doze semanas trouxe à luz. Não lhe oculto nada, absolutamente nada, acerca do real estado de saúde da criança. Menciono o perigo desta gravidez se tornar inviável e as perspectivas do neto dela poder nascer com um grave problema renal que o poderá limitar para o resto da vida, caso sobreviva.
Apesar de todos os meus esforços para tornar o relato o mais humano possível e apelar à compaixão da matriarca dos Medeiros, todo o meu empenho é em vão. Dona Isabel mantém-se fiel à sua postura de estátua de gelo, sendo os seus únicos movimentos os de levar a chávena de chá à boca.
— Temo que o Bruno ou a senhora possam rejeitar este bebé, dado ser uma criança especial. — concluo.
Somente depois de estar segura de que terminei o que tinha para dizer, dona Isabel pousa a chávena e olha para o infinito.
— Uma gravidez é sempre uma fonte de esperanças, ilusões e sonhos. Começamos a alimentar expectativas, a ficar entusiasmadas e a fazer imensos planos. — enumera a mãe de Bruno, ao mesmo tempo que parece perdida noutra dimensão, tendo deixado ali apenas o seu corpo. — Quando fiquei grávida pela segunda vez, eu e o meu marido ficámos extasiados quando o médico nos disse que íamos ser pais de gémeos!
Fico confusa com o comentário de dona Isabel. Desconhecia que Bruno tivesse tido mais irmãos, muito menos gémeos.
— Sim, Bruno é o meu filho mais velho. Depois dele tive outra gravidez. — comenta dona Isabel, como que adivinhando as minhas dúvidas. — Tudo é uma novidade quando se trata de gémeos. Queremos comprar as roupinhas iguais, decidir se vão partilhar o mesmo quarto ou não, se vamos adquirir um carrinho duplo ou dois carrinhos de bebé individuais. Enfim, a família está prestes a dar um salto repentino e, como pais, queremos estar prontos para receber essas novas crianças e desfrutar de cada momento.
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A Esposa Perfeita
General FictionTudo o que nasce do fogo, termina em cinzas! Eva é uma esposa troféu, tendo vivido mais de vinte anos rodeada de todos os luxos e comodidades provenientes desse casamento. Ela sempre foi exímia em interpretar o papel que era requerido dela: a mulh...