69 § Pedra sobre pedra

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< Capítulo anterior: 68§ A grande entrevista

Eva expôs-se a uma entrevista que promete não deixar ninguém indiferente, muito menos os Medeiros....

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— Bruno —

São em vão todas as tentativas que faço ao tentar ligar para o canal de televisão ou para Eva

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São em vão todas as tentativas que faço ao tentar ligar para o canal de televisão ou para Eva. Esta loucura tem de terminar e já! O que Eva está a fazer é um crime e isso tem de ser punível por lei. Violador, eu? Como Eva teve a ousadia de insinuar tal coisa a meu respeito! 

Procuro na agenda de contactos do meu telemóvel o número dos meus advogados. Quero que eles avaliem como a podemos processar por difamação, danos morais e o que mais seja. Claro que ninguém responde a esta hora do escritório de advocacia. 

Mesmo apesar de serem pagos a peso de ouro, os advogados ricos teimam em respeitar horários de trabalho selectos. Enfim, as novas modas do risco de overburn e de work-life balance que mais não vieram do que reduzir a produtividade da sociedade e dar uma boa desculpa aos empregados para cada vez se dedicarem menos às suas funções. O meu pai deve de estar a dar voltas no túmulo com estas novas modernices.

Levanto-me e respiro fundo. Preciso de ganhar algum distanciamento desta situação para que pense com maior clarividência. Acendo aquele que já deve ser o quarto charuto que fumo de enfiada. 

Estou refugiado na penumbra do meu gabinete, indisponível para o mundo. O telefone fixo tenho-o fora do gancho e o meu telemóvel está agora em modo de vôo. É a única forma que disponho de boicotar o assédio de sócios, jornalistas e acionistas que disparou assim que a entrevista arrancou. 

As cores vivas da publicidade que passa no ecrã da televisão, contrastam com as centenas de luzinhas amareladas que decoram o cenário pasmacento da cidade lá fora.

Reflito na forma sagaz com que Eva articulou a sua resposta àquela última questão de Diana. Será difícil de sustentar em tribunal que o seu "sim" foi uma clara acusação com o intuito de me denunciar como abusador. Haverá sempre quem interprete aquela mesma afirmação como uma mera confirmação à jornalista de que todo este relato é difícil para ela.

Esta é uma dúvida que ficará para sempre a pairar no ar e que, a este momento, já deve se ter entranhado na cabeça de milhares de telespectadores, igual a uma daquelas nódoas de gordura que persistem lavagem após lavagem. Só isso já é o suficiente para danificar a minha imagem e a minha reputação duma forma irremediável. E sobre isso Eva terá de arcar com as consequências.

O sexo entre nós fora sempre consentido, ou melhor, era algo que estava inerente ao matrimónio que tínhamos celebrado e que devia pertencer aos deveres dela como esposa. Ou seja, acho que era algo que eu não tinha de lhe pedir, que simplesmente acontecia quando tinha vontade para isso. E Eva jamais se opusera a qualquer uma das minhas aproximações ou pedira-me para parar.

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