29 § Momentos obscuros

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< Capítulo anterior: 28§ Um transtorno que tem nome

Kika pediu explicações a Bruno pelos brincos que este ofereceu a Eva. Bruno inteirou-se das novas repercussões da reportagem que envolveu Eva e uma rapariga vítima de assédio sexual.

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— Eva —

Sento-me no sofá, de olhar vidrado na televisão

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Sento-me no sofá, de olhar vidrado na televisão. Não que esteja realmente a assimilar o que está a ser explicado na reportagem. 

A simulação do crime, os detalhes que o envolveram, bem como todo o contexto que o circundou, esbofeteiam-me com tamanha violência. 

Relembro o relato que a jovem me fez na altura, de como foi quase violada. Sem pré-aviso ou pedido de autorização, a minha mente é transportada para o passado, um passado bastante mais distante do que o da visita que fiz a essa rapariga.

Ainda posso sentir o calor abafado daquela tarde como se fosse hoje. 

Os solavancos desconfortáveis duma carrinha que quase parecia desgovernada, embora houvesse um homem ao volante. Nunca conheci um condutor tão mau em todos os aspetos. 

Revejo-me no banco do pendura, enquanto umas outras seis raparigas seguem na traseira da carrinha, de caixa fechada. 

Delas pouco sei mais do que isso, de que tal como eu, entraram neste veículo para um trabalho de verão a apanhar fruta em alguma grande fazenda. 

É a primeira vez que saio do meu país, é o primeiro dia neste novo país. Se tudo correr bem, pode ser que arranje outro emprego depois deste e vá ficando por aqui, com melhores condições de vida do que as que tinha.

Devia ter sido mais esperta do que isto, mas com dezoito anos e pouca experiência de vida, penso que mereço alguma desculpa. 

O primeiro grande erro: ter embarcado nesta grande aventura sem ter contado nada aos meus pais! Mas bolas, não queria passar o resto da vida perdida na quinta da família, dividindo o tempo entre pastar os animais, mungi-los e ainda dar uma ajuda na terra. 

Os meus pais simplesmente não me deixavam viver. Não tive direito a infância, tal como ela é conhecida. As poucas brincadeiras que tive foi com os meus irmãos, em algum intervalo entre tarefas domésticas. De resto, o único tempo que passava longe da quinta, era na escola. Mesmo assim, mal que esta terminasse tinha de regressar em passo acelerado para casa, ou então teria sarilhos grandes com o meu pai.

Por isso, quando uma fulana abordou-me à saída do liceu com essa proposta, não pensei duas vezes. 

Era o último dia do ano letivo! O meu ensino secundário estava completo e, apesar de ter uma boa média, não valia a pena sequer acalentar o sonho de ir para a universidade. 

A Esposa PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora