Capítulo 1

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Mallu

- Amor, pega uma cerveja na geladeira. - Pieter pede concentrado no jogo de futebol que passava na televisão.

- Eu estou terminando seu dever, Pieter, pega lá. - Digo terminando de resolver a conta de matemática. Que aliás, é uma das minha matérias favoritas.

- Porra, eu 'tô' vendo jogo!

Acabo a conta que estava fazendo e vou até a cozinha, pegando sua cerveja.

-Preciso ir embora, está tarde.- Falo assim que o jogo acaba.

- Dorme aqui hoje... amanhã tu vai. -Ele diz indo em direção ao quarto. Vou atrás.

-Está me chamando para dormir aqui? -Pergunto com um sorriso enorme. Era a primeira vez que ele me chamava.

-'Tô' -Ele diz sem dar muita importância.

Mando uma mensagem para minha mãe avisando, só para dar satisfação mesmo, já que ela não liga para quando eu saio ou volto para casa.

-Vou tomar um banho. -Digo e vou em direção ao banheiro.

Me despido e entro no box. Deixo a água quente cair sob meu corpo, relaxando meus músculos por completo, aliviando o dia exaustivo que tive.
Além de estudar, trabalho como garçonete em uma lanchonete aqui da cidade. E ainda fazia curso de francês aos sábados. Aliás, amanhã é dia.

Sinto braços rodeando minha cintura, me tirando de meus pensamentos.

-Você engordou. -Pieter diz distribuindo beijos pelo meu pescoço.

-Eu não 'tô' no clima, amor. -Digo tentando me afastar. Por mais que eu amasse meu namorado, eu fugia de ter que fazer sexo com ele. Porque sempre era dolorido demais, e ele falava coisas que me fazia se sentir como um objeto sexual.

-Se eu não conseguir o que quero em casa, vou procurar na rua. -Ele diz apertando mais a minha cintura e me virando de frente para ele.

Ele me beija e posso sentir o gosto de álcool em sua boca.
Pieter me imprensa na parede e me penetra, me fazendo sentir uma dor insuportável.

-Amor... está doendo... -Falo baixinho, deixando as lágrimas escorrer pelo meu rosto.

-Oh... -Ele jogo a cabeça para trás me ignorando por completo. Logo posso sentir que ele já havia chegado ao seu limite.

-Dessa vez doeu mais. -Digo assim que ele sai de dentro de mim.

-Já disse que você se acostuma. -Ele diz ríspido. Abaixo a cabeça e assinto. -Você precisa emagrecer, toda vez que fazemos sexo, parece que estou mergulhando em um balde de gelatina.

-Eu... vou começar a fazer dieta. -Digo sentindo meu nariz arder e meus olhos ficarem marejados.

-É melhor mesmo... gorda desde jeito, só eu para querer você mesmo. Ou você acha que alguém vai querer foder você? -Ele diz saindo do box.

Termino meu banho e saio, vestindo minha lingerie e uma camisa do Pieter.
Saio do banheiro o encontrando mexendo no celular.

-Vem, deita aqui. -Ele me chama, deixando o celular de lado.

-Você me magoa quando fala aquelas coisas. -Digo me deitanto ao lado dele.

-Só falei a verdade, Mallu. -Ele diz beijando minha bochecha. -Vamos dormir.

-Eu te amo. -Digo me deitanto no seu peito.

-Também. -Responde.

Acordo com o barulho do despertador do celular.
Olho para o lado e vejo que Pieter ainda dormia profundamente. Sorrio. Ele era tão lindo. Seus cabelos negros caia sob seu rosto o deixando ainda mais belo.

Levanto e vou direto tomar um banho gelado para começar o dia. Era verão na Pensilvânia, e nessa época do ano, é bem quente aqui.
Saio do banheiro e visto minhas roupas. Calço minhas sapatilhas e saio de casa.
Por Gettysburg ser uma cidade pequena, chego rapidamente em casa. Pego meus materias e vou para meu curso de francês.

-Bonjour, jeune fille. -Meu professor me cumprimenta, simpático como sempre.

-Bonjour, professeur. -Digo sorrindo.
Me sento no meu lugar de sempre e logo a aula começa.

-Avez-vous lu le texte que j'ai indiqué? -O professor pergunta se lemos o texto que ele havia indicado na semana anterior.

-oui -Confirmo.

-E o que achou? -Ele pergunta.

-Ótimo. Gostei da comparação que fizeram no início sobre um relacionamento tóxico e uma tinta amarela... Cruel demais, mas bom. -Digo.

-Super -Ele diz e parte para o próximo aluno.

Eu não sei o por que, mas me indentifiquei nesse texto... Alguém querendo ser feliz, e tomando uma tinta amarela, a cor da felicidade, sendo feliz, mas no final, acabando morto.
Eu estava naquele texto, e eu sabia exatamente quem era minha tinta amarela.

-Mallu? -O professor me chama. -Parece que você tem visitas.

-Que? -Pergunto confusa e ele aponta para a porta, onde vi Pieter. -Professor, me desculpas eu não sabia...

-Está liberada, senhorita Mary! Até próxima semana. -Ele diz e eu concordo pegando meus materias, e saindo da sala.

-O que você está fazendo aqui? Ficou louco? Eu estava em aula! -Digo mas ele fica calado.

-Em casa conversamos. -Ele diz e me puxa pelo braço.

Logo chegamos em seu apartamento, assim que entramos, ele fecha a porta, a trancando.

-E então? O que foi fazer na minha aula? -Pergunto.

-VOCÊ 'TÁ' MALUCA, VAGABUNDA? SAIR ASSIM SEM AVISAR? ESTÁ FICANDO DOIDA É? -Ele grita puxando meu cabelo para trás.

-Tá machucando, Pieter. -Choro. -Amor, me solta... você sabia que eu tinha curso hoje...

-FODA-SE! TU É MINHA MULHER, 'TÁ' ESCUTANDO? MINHA, E TEM QUE AVISAR QUANDO FOR SAIR. -Ele grita e me joga no chão. -Na próxima vez, eu acabo com você!

Eu estava me sentindo humilhada, um lixo. Como posso me rebaixar a esse tipo de situação? Como posso amar tanto alguém que me trata como ele me trata?
Ele está acabando comigo. Literalmente.

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