Capítulo 10

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Mallu

-Hoje é domingo... nós poderíamos fazer algo, só nós dois. -Sugiro me sentando ao lado de Pieter.

-Eu estou cansado, Mallu! -Ele diz concentrado no jogo de futebol que passava na televisão.

-Por favor, Pieter! Eu só quero passar um tempo com meu namorado! É pedir demais? -Passo a mão em meus cabelos, já ficando irritada.

-'Tá' nervosa por que? Estou conversando com você normalmente! -Ele diz vindo até mim. -Olha como você me trata, Mallu! Você está me desprezando! Eu faço de tudo por você, e agora você está jogando na minha cara.

-Eu não estou fazendo nada disso, Pieter... eu só, estou te chamando para sair. -Digo mais calma.

-Você sempre quer controlar tudo, Mallu... uma hora eu vou me cansar e te deixarei sozinha! -Ele diz sério e sinto meu nariz arder. Maldita sensibilidade.

-Tudo bem, Pieter... Me desculpa. -O abraço mas ele permanece imóvel. -Amor...

-Você tem que me entender, Mallu! -Ele diz me afastando. -Você sempre está tentando me controlar, não me deixa expressar as minhas vontades!

-Me desculpa... Eu amo você e não quero te perder.

-Tudo bem, Mallu... agora me deixa assistir o jogo. -Diz e volta a se sentar no sofá, se concentrando novamente na televisão.

-Eu vou indo... até mais tarde, amor. -Digo e ele assente.

Saio do apartamento do Pieter.
E opto por dar uma volta pela cidade. Eu não estava com a mínima vontade de voltar para casa. Então vou até o parque mais próximo da cidade.
Me sento em um banco e fico olhando as famílias brincarem na grama. Umas fazendo piquenique, outras andando de bicicleta, outras dando comida para os patos no lago. Mas todas estavam juntas.

Minha família sempre fora minha mãe, e olhe lá. As vezes tenho a sensação que a minha única família, é eu mesma.
O que me faz sentir uma enorme falta do meu pai. Ou melhor, do meu projetor. Pai é quem cria, e eu não tive essa presença paterna.

O que me faz pensar, que se meu projetor, tivesse feito seu papel de pai, será que as coisas teriam sido diferentes? Talvez sim, talvez não ou talvez poderia ter sido pior.

Minha mãe sempre deixou bem claro que o homem que deveria ser meu pai, não quis me assumir. Que ele foi um covarde e me rejeitou. Me deixou de lado e foi viver com seus filhos.
E isso faz com que minha dor aumente. Ele tinha outros filhos, mas escolheu a mim, para deixar de lado.

Eu sempre digo que não ligo. "Como eu vou sentir falta de alguém que nunca foi presente?" É a frase que eu sempre repito, afim de me convenser. Mas a verdade, é que eu sinto falta sim. Uma falta enorme e uma enorme vontade de conhece-lo. Mas me pergunto, por que ele não vem atrás de mim? Mamãe diz que ele sabe onde moramos, mas ele não quer me conhecer. Respeito sua decisão. Por mais que eu queira ve-lo, ele não quer isso, então, respeito. Mesmo que isso custe a minha felicidade.

-Mallu? -Me viro e encaro Julie e Lia.

-Oi. -Sorrio. -Como estão?

-Como você está? -Lia pergunta, dando ênfase na palavra "você".

-Nós vimos o que aconteceu ontem... menina, vocês ainda estão juntos? -Jul pergunta.

-Estamos... ele estava bêbado, não sabia o que estava fazendo. -Digo. -Além do mais, eu o amo e o amor perdoa tudo né?

-Mallu, quem ama não machuca! E mesmo ele estando bêbado, ele sabia muito bem que você estava ali. Se te amasse mesmo, não sentiria vontade de ficar com outra pessoas nem estando inconciente. -Lia diz dando um sorriso fraco. -Não se deixe levar por um amor sem futuro e que te machuca. Não se diminua para caber no mundo pequeno dele.

-Lia tem razão... você é incrível, merece alguém a altura. -É a vez de Julie dizer.

-O amor muda as pessoas... eu posso muda-lo. -Digo, sentindo meus olhos encherem d'água.

-Você poderia muda-lo, ele ele estivesse disposto a mudar... e pelo que sei, ele não quer a sua ajuda, Mallu. -Lia diz. -Não dar para ajudar, quem não quer ser ajudado.

-Eu não posso desistir dele agora, depois de passarmos por tantas coisas.

-Ele está te matando aos poucos, você não vê? Se olha no espelho, Mallu. E se pergunte onde foi parar aquela menina sorridente e alegre que sonhava em dançar Ballet. Mallu, você se perdeu por culpa dele e agora... precisa se reencontrar, antes que seja tarde demais. -Jul lamenta.

O toque do meu celular soa pelo local, atrapalhando nossa conversa, ou lição de moral, como preferir.

-Alô?

-Mallu? -A escuto a voz do meu chefe, que até então estava viajando.

-Oi senhor Buzanffa, como vai?

-Vou bem, minha filha... você poderia passar aqui na cafeteria mais tarde? Cheguei de viajem e iremos reabrir. -Ele diz.

-Claro! Chego aí em quinze minutos.

-Certo.

-Eu tenho que ir, meninas... meu chefe me ligou e vou voltar a trabalhar. -Digo após desligar o telefonema.

-Mallu, conte conosco para qualquer coisa, está bem? Estaremos ao seu lado. -Lia diz e eu sorrio assentindo.

-Até mais.

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