Capítulo 48

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Mallu

Seus olhos são os mais lindos que já vi. Essa é a frase que sempre ficou entalada na minha garganta. Mas nós nunca fomos de falar tudo né? A arte da nossa relação sempre foi o meio, entre a abertura e o segredo.                               Faz tempo que não te vejo, que não sinto o teu cheiro, e não vejo o mar dos teus olhos. Mas a saudade não é a palavra que o meu coração grita. Eu sei que vou te ver, te encontrar, te abraçar, e de novo, eu vou te amar. Porque de alguma forma, eu sei que não é o nosso fim.

Do amor da sua vida,
Liam.

Termino de ler a carta que meu amor mandara à alguns meses, dobro e volto a colocar em minha bolsa.

"Eu também te amo, e um dia, voltarei para você"

Respondo mentamlmente, a mesma coisa de sempre.

-Está melhor? -A enfermeira pergunta e eu confirmo.

Um ano.

Se passou um ano desde que sai de Gettysburg. E posso dizer, que foi o ano mais difícil da minha vida.

Nesse tempo, eu me mudei para Rock Hill, uma cidade na Carolina do Sul, depois de ter tido uma briga feia com o meu pai.

No dia do seu casamento eu bebi demais, e acabei passando vergonha. Meu pai ficou magoado e para não causar mais problemas, vim para cá.

Comecei a trabalhar em uma lanchonete, mas a solidão continuou dentro de mim, fazendo-me ter crises diárias de ansiedade.

A cada dia que se passar, a falta que Bernardo me faz aumenta, e tudo dentro de mim começa a queimar. A culpa se instala em mim, me fazendo perder noites de sono.

Desde que Ryan fugiu da cadeia, o medo dele vir até mim é grande. Eu não consigo mais fechar os olhos, sem lembrar daqueles olhos que me dão medo, ou aquele sorriso de prazer, ao me fazer dor.

À alguns dias atrás, em uma das minhas crises, eu atentei contra a minha própria vida. Mas não deu certo, e me trouxeram para o hospital.

-Olá... -Uma enfermeira entra. -Está melhor?

-Estou viva.

-Por que você fez isso, minha querida? -Ela pergunta se aproximando.

-Eu quero ficar com o meu filho... eu cansei disso tudo! Estou cansada psicológicamente... eu só quero ficar com o meu filho. -Digo sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. -Eu não consigo mais...

-Claro que consegue! Deus não te faria passar por tudo isso, se você não aguentasse... -Ela suspira. -Está vendo esses batimentos cardíacos? Eles nos mostram a vida... A vida tem altos e baixos, assim como os batimentos... por que se não tiver nada... a gente morre.

-Eu já passei por tantos baixos... eu não consigo.

-Consegue! Consegue sim! -Ela diz retirando a agulha dos meus braços. -Você está liberada menina... e fique longe dos malditos comprmidos! Você consegue passar por tudo isso.

Pego minha bolsa e saio do quarto, pensando em tudo que ela me disse.

Assim que passo pela porta, que levava a saída do hospital, acabo esbarrando em alguém, que cai no chão.

-Me desculpa... -Peço ajudando a mulher a se levantar.

-Acho que ainda estou bêbada! -Ela diz rindo, enquanto se levantava.

-Me desculpa novamente!

-Você não teve culpa... acho que quem se machucou foi você. -Ela diz olhando para meu pulso, que estava enfaxado.

-Droga... -Murmuro saindo para fora do hospital rapidamente.

-Calma! Espera, menina maluca! -Escuto a mulher me chamar.

-O que foi?

-Me deixa te ajudar... está saindo mais sangue. -Olho para meu pulso vendo que a quantidade realmente era grande.

Fomos até uma farmácia do outro lado da rua e comprei algumas coisas, a mulher me ajudou e enfaixou novamente o local.

-Obrigada. -Agradeço. -O que estava fazendo em um hospital com roupa de balada?

-Bebi demais. -Ela da de ombros. -E você?

-Não é perceptível? -Aponto para meu pulso.

-Calma eu sou lerda... -Ela diz prendendo seus cabelos negros em um coque. -Me chamo Katherine, e você?

-Mallu.

-Bonito nome, combina com você... Maluca. -Ela diz rindo. -Não liga, eu tenho problemas.

-Eu percebi. -Digo rindo também.

-Acredita que meus amigos me largaram aqui e foram embora? Porra, eu moro longe! -Ela diz tentado ligar para alguém, que da fora de área.

-Onde você mora? -Pergunto.

-No lado sul.

-Ou seja, à duas quadras daqui.

-Continua sendo longe. -Diz revirando os olhos.

-Vou pegar um táxi, te dou uma carona. -Digo e ela assente.

-Você mora aqui? -Ela pergunta assim que o táxi parou em frente ao prédio onde eu morava.

-É o que parece. -Digo abrindo a porta. -Eu posso ser maluca em falar isso mas enfim, quer entrar?

-Não, obrigada! Eu moro à uma quadra daqui. -Ela diz sorrindo. -Obrigada pela carona!

-Até mais! -Me despeço e entro no prédio.

Assim que abro a porta do apartamento, meu sorriso se desfaz. De volta a rotina.

Faço uma xícara de chocolate quente e me sento no sofá. Pego o porta retrato que tinha trago dos meus dois meninos e fico olhando.

Sempre que meu coração se apertava com saudades deles, eu fazia isso. Já havia virado rotina.
Eu daria de tudo para estar com os dois novamente...

Pego a carta de Liam e volto a reeler tudo novamente. Eu queria responde-lo. Queria dizer o quanto eu sinto falta dele e o quanto eu queria voltar... mas eu não posso. Eu sei que ele está bem e eu não posso estragar a felicidade dele. Não posso.

-Amiga! -Digo atendendo a chamada de vídeo de Julie.

-Sua vaca! Não me atendeu por dois dias! -Ela diz e eu rio.

-Estava ocupada, Jul... me desculpa. -Digo sorrindo. -Como vai as coisas por aí?

-Bem... olha quem está namorando. -Ela diz animada esticando a mão para que eu pudesse ver seu anel de compromisso.

-Aí meu Deus, Jul! Parabéns amiga! -Sorrio. -Sabia que o Pedro logo iria te pedir em namoro!

-Finalmente! -Rimos.

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