Capítulo 42

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Mallu

Dezoito por cento.

E esses dezoito por cento, foi o suficiente para meu menino não estar mais comigo.

Hoje o sol não brilhou, os pássaros não cantaram, os risos se calaram e as lágrima rolaram pelo meu rosto. Meu coração está sofrendo em silêncio.

Bernardo teve uma parada cardíaca no meio da cirurgia, e os médicos não conseguiram reverter o quadro.

Olho a lápide do meu filho e deixo as lágrimas caírem pelo meu rosto. Eu não podia perder meu filho... não podia. Depois de tudo que passamos, porque justo o meu filho? Logo ele.

Sinto Liam me abraçar e depositar um beijo no topo da minha cabeça.

Eu nunca fui uma má pessoa. Sempre ajudei a todos, quando podia e mesmo não podendo, eu ajudava. E ainda assim sofri tanto...
Com tanta pessoa ruim no mundo, Deus me escolheu para sofrer... mais uma vez.

Eu sempre achei drama, quando escutava mães falando que preferia morrer, ao ter que enterrar o próprio filho. Sempre pensei: "Como alguém pode preferir morrer ao ter que enterrar alguém? Eu não daria a vida por ninguém!" Mas agora, repenso tudo que disse... Eu preferia morrer ao ter que passar por essa situação.

O Bernardo era a minha corda, ele me mantinha aqui. Eu queria viver por ele. Queria ser uma pessoa melhor por ele. E agora? Eu ia voar... ia voar para longe. E me perderia, antes de encontrar o caminho de volta.
Eu perdi a minha corda. Perdi o meu suporte. Perdi o meu filho.

Acho que eu sempre gostei de escutar sons... idependentemente se era música, poemas ou poesia. Eu gostava de escutar as pessoas falando. Mas a pior coisa que já eu escutei, foi:

-Cinco minutos para fecharmos o caixão.

Meu mundo desabou. Mesmo sabendo que nada iria acontecer, eu ainda tinha esperanças. Eu queria acreditar que meu filho iria me chamar e eu iria pega-lo em meus braços... que nós voltariamos para casa, e voltariamos a ser feliz.
Ou que tudo isso era um sonho, e a qualquer momento eu iria acordar com o choro fino do Bê ou com Liam me beijando.
Mas nada disso aconteceu.

Escondi meu rosto no peito de Liam e deixei minhas lágrimas escorrerem. Liam me apertou mais contra seu corpo e meu grito saia abafado. Eu não conseguia ver meu filho sendo enterrado.

Sai dali rapidamente e me sentei em um banco na porta do cemitério.

-Amor... -Liam se aproximou, se sentando ao meu lado.

Eu já não tinha mais lágrimas, já não conseguia mais gritar. Eu simplesmente comecei a rir. Sim, eu tive uma crise de risos.

-Ele morreu... -Disse ainda rindo. -Eu não acredito! Ele morreu.

Saia lágrima em meus olhos de tanto rir. Pessoas que passavam por ali, provavelmente me chamavam de maluca.

-Você está bem? -Liam pergunta confuso.

-Eu filho morreu. -Coloco a mão na barriga, que já estava doendo de tanto rir. -Eu perdi o meu filho.

-Mallu...

-Eu perdi o meu filho... -Me jogo em seus braços, chorando novamente.

-Eu te amo... e estaremos juntos sempre. -Ele afaga meus cabelos.

Aos poucos, meu choro cessa e Liam me ajuda a andar até o carro, onde partimos para casa.

Assim que chegamos, Liam vai direto para o banheiro, e pouco tempo depois, escuto ele fungar. Ele estava chorando.

Vou até o quarto de Bê e fecho os olhos, inalando o cheiro do pequeno, que ainda estava no local.

Me apoio em seu berço e deixo que minhas lágrimas rolem abaixo.

-Mamãe ama você, anjinho! -Pego seu pequeno travesseiro e abraço fortemente.

Eu perdi a coisa mais precisa que tinha.... o meu filho.

Eu não poderia ter autorizado aquela cirurgia. Não poderia.
Agora o Bê poderia estar aqui... andando por todos os lugares dessa casa, enquanto me chamava... e eu provavelmente estaria gritando o Liam, para que ele pegasse nosso filho, antes que ele se machucasse.

Agora eu não poderia fazer isso... nem hoje. Nem amanhã e nunca mais. Eu não tinha mais o meu filho aqui comigo.

-Meu menino... volta, meu amor! -Sussurro olhando o porta retrato que tinha a foto de nós três.

Nós estávamos no parque da cidade e Bernardo estava todo sujo de bolo de chocolate. Lembro-me que nesse dia, eu havia gritado com Liam, por ter deixado nosso filho se sujar daquele jeito.
Meu menino estava sorrindo abertamente, no meio de mim e Liam, que também sorriamos.

-Mama... -Escuto Bernardo me chamar.

Viro-me, dando de cara com o peqeuno todo sujo de bolo de chocolate.

-Liam... eu disse para cuidar dele! -Repreendo meu namorado.

-Eu cuidei. -Ele diz me dando um selinho rápido. -É coisa de criança, amor.

-Eu não trouxe outra roupa para ele.

-Relaxa... quando chegarmos em casa ele se limpa. -Ele se abaixa pegando nosso filho no colo. -Fala para a mamãe não ficar brava, campeão!

-Mama! -Bê se joga em meus braços sorrindo.

Era impossível ficar brava com esses dois, então sorrio também, depositando beijos por toda a extensão do rosto pequenino do Bê.

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