Capítulo 21

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Mallu

-Eu já disse e repito, eu não vou a psicólogo nenhum! -Digo a enfermeira.

Eu já estava a três dias nesse hospital. Os médicos estavam com medo de me liberar e eu tentar me matar novamente ao chegar em casa.

-E a idéia de continuar com a gravidez? -Lia pergunta.

Outra coisa que estavam rodeando minha mente esses dias. Seguir com a gestação.
Eu estava certa da interrupção da gravidez, mas ainda tentavam me convencer.

-Eu não vou ter essa criança! -Digo revirando os olhos. -Não dá! Eu não vou olhar para o meu filho e odia-lo... não da!

-Mallu... Seja lá o que você decidir, eu vou te apoiar! -Liam diz e eu sorrio, em forma de agradecimento.

-Tudo bem! Você pode interromper sua gestação de qualquer forma, é um direito seu! -Senhora Smith diz. -Mas eu só irei te apoiar, se você for no psicólogo antes!

-Isso é jogo sujo!

-Se você for... e ainda sim, quiser tirar, terá o meu apoio! -Ela diz e eu assinto.

-Tudo bem! Pode marcar a consulta. -Digo e vejo um sorriso estampado no rosto de todos.

O médico logo entrou para me examinar e pediu para que todos saísse para que eu pudesse descansar, e logo eu apaguei. Acordei com a porta sendo batida.

-Mãe? -Digo assustada.

-Sempre querendo  chamar atenção... ocupando os outros. -Ela diz e posso sentir deboche em sua voz. -Como se não bastasse aquele teatro todo... você sempre sendo um peso para quem está a sua volta.

-Acha que eu tentei tirar a minha vida para chamar atenção? -Pergunto com lágrimas nos olhos. Malditos hormônios.

-Você sempre gostou de ser o centro das atenções, Mallu! E agora conseguiu! Satisfeita? -Ela diz rindo. -Eu não vou te perdoar por isso, você é uma puta mentirosa, e merece morrer junto com essa coisa que está em seu ventre.

Ela sai batendo aporta, me deixando ali, destruída novamente.
...

-Quando é a consulta mesmo? -Jul pergunta.

-Amanhã.

Eu já estava em casa a dois dias. E como o prometido, eu iria no psicólogo. Eu sabia que o meu pensamento sobre a interrupção não iria mudar, mas eu precisava do apoio da Senhora Smith, ela era como uma segunda mãe para mim. Ou melhor, ela era a minha mãe.

Falando em mãe, desde aquela visita do hospital, eu não tive mais nenhum tipo de notícias da mesma. E talvez seja melhor assim.

Vou para o banheiro e tomo um banho demorado. Volto para o quarto de Jul, onde eu estava ficando por enquanto, e visto a roupa que havia separado. Por último, coloco minhas botas e saio de casa.

Liam havia me chamado para dar um passeio, e como eu estava mal esses dias, a sua companhia me confortava, aceitei o convite.

-Você está linda! -Ele diz assim que me aproximo.

-Para com isso, eu estou congelando! -Digo e ele ri.

Fomos andando até a minha cafeteria preferida e entramos. Já era inverno na Pensilvânia, e nesse tempo, não havia nada melhor do que um bom chocolate quente, perto de uma lareira, enquanto a neve caia lá fora.

-É a minha preferida! -Digo após entramos no local.

-Eu sei. -Ele diz e eu sorrio.

Nos sentamos em uma mesa ao lado da janela e fizemos nosso pedido. Como de costume, pedi chocolate quente e para acompanhar, biscoitos de chocolate.

-Quando é a sua consulta? -Ele pergunta.

-Amanhã.

-E como você está?

-Bem. -Minto.

-Você pode mentir para qualquer um, menos para mim. -Ele diz rindo.

-Eu estou nervosa... depois de Julie, eu nunca mais conversei com ninguém sobre aqueles dias. -Digo.

-Vai dar tudo certo... Mallu. -Murmuro um 'o que'. -Por que você fez aquilo?

-Eu não via mais motivos para continuar aqui. -Digo,
eu já sabia que ele estava se referindo a minha tentativa de suicídio. -Não me diga que eu fui egoísta e não pensei em vocês... eu pensei, mas cosegui ver um futuro para cada um... e quer saber mais? Eu não estava nele.

-Mallu...

-Liam, se tivesse dado certo, por mais que vocês nunca tivessem falado, eu sabia que uma hora, vocês iriam me perdoar, e quem sabe me entender.

-Eu preciso de você, Mallu! -Ele diz. -Quando você estava no hospital, e eu vi você naquele estado, eu achava que você precisava de mim... mas agora, te olhando assim, eu vejo que eu preciso muito mais de você, do que você de mim.

Como alguém poderia ser tão perfeito, feito esse garoto? Por mais que eu tentasse, eu nunca iria merecer Liam... ele era demais para mim. E eu não poderia magoa-lo, por causa dos monstros que eu carrego comigo.

E sem saber o que dizer, eu o beijei. Seu beijo era lento e gostoso. Nossas línguas dançavam em perfeita sincronia e nossas bocas estavam em um encaixe perfeito.
Sua mão foi parar no meu pescoço, na tentativa de se aproximar mais. Rodeio meus braços por seu pescoço e minhas mãos vão até sua nunca, meus dedos brincam com seus fios de cabelo.

-Você é perfeita. -Ele diz sorrindo, enquanto gruda nossas testas uma na outra.

Mesmo eu não querendo, eu já estava apaixonada naquele sorriso, na cor dos teus olhos... Eu já estava apaixonada por ele, muito antes de assumir.

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