Capítulo 2

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Mallu

Já se passou uma semana desde a minha briga com o Pieter e desde então, estamos sem nos falar.
Eu até tentei falar com ele, porém, ele não atendia minhas ligações ou não respondia minhas mensagens.

-Vou no Shopping, se for sair, deixe a chave embaixo do tapete. -Minha mãe diz entrando no meu quarto.

-Não sei se vou sair.

-Cadê o Pieter? Enjoou de você? -Ela diz se sentando na ponta da minha cama.

-Mãe, por favor... -Fecho o livro que eu lia e coloco no móvel ao lado da cama. -Nós brigamos.

-Até que durou muito... Você achou mesmo que um garoto bonito como ele iria aguentar você? Gorda, feia... tão bobinha! -Ela diz.

-Mãe... por favor, sai. -Limpo minhas lágrimas. -Eu quero ficar sozinha.

-Com quiser... filha. -Ela sai.

Me levanto e vou até o espelho.
Passo a mão sob meu corpo e me decepciono com o que vejo.
Eu havia engordado, posso perceber isso. Mas como? Minha dieta é equilibrada...

Como alguém iria me desejar assim? Minha pele era horrivel, minhas gordurinhas eram percebidas, meu rosto? Parecia uma lua. Minha mãe e Pieter tinham razão. Ninguém nunca me verá com outros olhos.

Saio de meus pensamentos com o toque do meu celular. Olho o nome e me surpreendo.

-Pieter? -Digo assim que atendo.

-Preciso da sua ajuda... vem aqui, rápido. -Ele diz baixo.

-Já estou indo, amor. -Pego somente minha bolsa e vou em direção ao apartamento de Pieter. Ao chegar, me surpreendo com a cena.

-O que... aconteceu? -Pergunto.

Pieter estava todo machucado em cima da cama.
Seu nariz sangrava e havia um corte em sua boca. Tenho certeza que foi briga.

-Me ajuda, Mallu. -Ele pede com dificuldades.

Vou até o banheiro pegando a maleta de primeiros socorros e limpo as feridas, passo pomada e enfaixo sua mão que havia um corte.

-Vai me contar agora o que aconteceu? -Pergunto após guardar a maleta.

-Cuida da sua vida, Mallu... obrigada por tudo mas não te devo satisfações. -Diz ríspido.

-Como não? Você é meu namorado! -Almento o tom.

-Abaixa a voz! 'Tá' ficando maluca? -Ele puxa meu braço, me fazendo sentar novamente em sua cama.

-Arranjou briga com quem, Pieter? -Pergunto.

-Não lhe diz respeito! Intromentida! Tinha que ser essa gorda mesmo... se continuar insuportável eu te largo e nenhum homem vai te querer mais. -Ele diz e posso sentir meu nariz arder e minha visão ficar turva. -Se enxerga Mallu! Você não é nada! Assim como você, eu tenho várias aos meus pés.

-Então vá com elas! Vai ver se elas fazem o mínimo do que eu faço por você! -Me levanto. -Você vai morrer sozinho se continuar assim, Pieter! As palavras doem tanto quanto um tapa!

-Eu nunca vou ficar sozinho, Mallu! Nunca. -Ele da um sorriso. -E sabe por que? Porque eu sou bonito. Eu sou desejado entre as mulheres e quando você ficar aí, sozinha e gorda... eu vou estar rodeado de mulheres! Tendo o que você nunca me deu!

Aquilo acabou comigo. Literalmente. Mas ele tinha razão, a quem eu quero enganar? Eu sou feia, gorda e facilmente subsitituida. Quem vai querer alguém desinteressante como eu? Ninguém.

-Pieter... Me desculpas... Eu não devia ter lhe tratado daquela forma... Eu te amo, por favor, me perdoa. -Digo tentando me aproxima mas ele me empurra, me fazendo cair de bunda no chão.

-Eu fiz de tudo por você, Mallu! Você nunca deu valor ao meus esforços! Você acha que é fácil te apresentar como minha namorada? Não, Mallu! Não é... Eu sou zoado constantemente por namorar uma gorda idiota como você! -Ele cospe as palavras em mim. -Mas eu cansei Mallu! Cansei de ser humilhado e desprezado por você! Acabou tudo que tínhamos aqui. Eu mereço algo melhor do que você... agora faz um favor, e vai embora!

-Amor... por favor... Eu amo você -Imploro.

-Sai da minha casa, Mallu! Agora! -Ele diz.

Minhas pernas fraquejavam e eu não tinha forças para andar. Quem me via na rua, me chamava de maluca, idiota e certamente, riam de mim. Uma pessoa feia como eu de natureza, ficava mais feia ainda chorando, com certeza.

-Chegou! Pensei que passaria a noite fora novamente! -Mamãe diz assim que chego em casa.

-Desculpe, esqueci de deixar as chaves. -Digo limpando minhas lágrimas.

-O que aconteceu? -Ela não estava preocupada... só estava curiosa. Conheço bem a mãe que tenho!

-Eu e Pieter terminamos. -Digo.

-Ele terminou com você né? -Ela ri sem empolgação. -Já era hora... um garoto bonito como ele, merece coisa melhor.

Não respondo, apenas subo para meu quarto e vou para o banheiro. Me despido e me olho no espelho.

Eu era desprezível... Pieter merecia coisa melhor com certeza. Eu não merecia o namorado que tinha e agora... ele irá procurar o que não teve.
Mas eu iria mudar, iria emagrecer, ficar bonita... merecer Pieter de verdade.

Me abaixo na altura do vaso sanitário e coloco a mão em minha boca, fazendo meus dedos chegarem no ponto certo, e coloco para fora todo o meu almoço. Repito a ação mais duas vezes e agora sim... agora eu iria ser o suficiente para minha mãe, para virar Miss... e seria o suficiente para Pieter.

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