preface

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🍒

— Eu estou atrasado! —  Eu gritei do banheiro. Eu precisava estar no trabalho dentro de dez minutos e o trajeto levava vinte. Não era o meu dia de sorte. — Você pode andar logo?! — gritei mais alto enquanto mantinha a escova de dente dentro da boca e penteava os cabelos com os dedos. — Seulgi!

Seulgi apareceu na porta do banheiro com os olhos arregalados e bochechas avermelhadas, depois sorriu e balançou a cabeça para mim.

— Eu estou pronta — disse ela, ajustando a fivela prateada do cinto de couro.

Eu bufei.

— Você tem dinheiro? Se pegarmos o metrô, chegaremos só amanhã.
Seulgi assentiu com a cabeça. Ela entrou dentro do banheiro e me empurrou para o lado.

— Há creme dental na sua camiseta — disse ela, franzindo as sobrancelhas negras ao ver pelo reflexo do espelho a mancha esbranquiçada na minha camiseta preta.

Hum? —  murmurei e então puxei o tecido para ver o estrago. — Mas que merda! — Eu atirei a escova de dentes dentro da pia e cuspi a espuma. — Isso só acontece comigo? — Eu enchi as bochechas de água e depois cuspi mais uma vez. — É o meu uniforme.

— Ah! Quanto drama!

— Seulgi, não fode — eu disse, sério demais.

Seulgi ergueu somente uma sobrancelha e mordeu os lábios.

— Ande logo, bonitinho — disse ela. — Temos cinco minutos para pegar um carro por aplicativo.

Eu dei o fora do banheiro o mais rápido que pude, atravessei o corredor e puxei minha mochila que estava sobre a cama. Borrifei perfume nos pulsos e encarei o próprio reflexo no espelho que capturava meu corpo inteiro. Estava um desastre e a mancha de creme dental na minha camiseta só me deixava ainda mais deplorável.

— Chamei! — gritou Seulgi ao se encaminhar para a porta da sala. — Quem chegar por último lá embaixo é o ovo podre!

Eu estava amarrando meus cadarços quando ouvi Seulgi bater a porta.

— Ei! Você já estava na minha frente! — gritei e disparei pela casa até a porta. Após chaveá-la, corri em direção as escadas e saltei dois degraus de cada vez. Vi de soslaio o síndico acenar e avisar para que eu não corresse, mas eu já estava do lado de fora quando pensei em responder. Seulgi estava ofegante, com as mãos apoiadas no joelhos enquanto ria. — Desgraçada.

— Qual foi ovo podre?

Eu torci o nariz. Não era um apelido muito agradável.

Quando o carro chegou, eu pedi para que o motorista andasse logo e seguisse por atalhos.

Eu e Seulgi éramos amigos há anos, talvez a mais tempo do que eu realmente gostaria. Nós dois dividiamos um pequeno apartamento no centro do Distrito de Haeundae, em Busan. Seulgi era de Ansan e havia se mudado para Busan para estudar e então, nunca mais voltou para sua cidade natal.

Ao contrário dela, eu nasci e fui criado em Busan. Filho de um casal de micro empresários que decidiram permanecer em Nam-Gu. Sou filho único, pelo menos até onde eu sei e recebia visita de meus pais duas vezes ao mês, porque se dependesse de mim, não me veriam tão cedo já que eu odiava Nam-Gu. Após várias respostas negativas de meus pais para se mudar para Haeundae, eu havia desistido e agora me contentava com visitas rápidas e desintencionadas.

Senses | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora