Uma Noite De Mentiras

6 Josh

A sala está cheia de malas e caixas, faz uma hora que estou olhando pra elas terminando meu quarto pedaço de pizza, o que eu não deveria estar comendo tão perto das semi-finais, mas eu preciso deixar de me preocupar com isso por pelo menos alguns minutos.

Assim que Pepe chegar buscar essas coisas eu estarei oficialmente morando sozinho pela primeira vez em vinte e quatro anos.

A questão não é nem Sabina estar se mudando, ambos sabíamos que isso aconteceria um dia, o problema é ela estar indo embora no estágio estranho que nossa amizade se encontra.

Tá sendo tudo muito novo pra mim e estou com medo, não medo por ficar sozinho mas medo de perde-la, Sabina foi tudo que eu tive em vários momentos da minha vida, essa garota é sensacional, juro que sinto pena não sentir nada a mais por ela, seriamos um casal e tanto, mas não é assim que funciona.

Minha vontade é levantar daqui e esconder tudo e se isso me garantisse que ela ficaria com certeza eu faria, ontem a noite foi uma troca de farpas tremenda tudo porque ela pediu ajuda pra carregar tudo aqui pra baixo e eu me neguei, então ela psssava propositalmente na frente da tv, bem na hora do jogo, mesmo sabendo que com isso não se brinca.

Mas deixei quieto o que a irritou mais ainda, normalmente eu acharia isso engraçado.

— O meu chuveiro agora é todo seu. - Sabina desce as escadas com mais uma caixa nas mãos leva ela junto das outras, não sei da onde ela tirou tanta coisa, se fosse eu me mudando uma mala seria o suficiente.

— Já troquei o meu. - Continuo encarando sua mudança. - Quer?

Ela aceita o pedaço de pizza e se senta ao meu lado.

— Eu deixei algumas coisas suas que estavam comigo no quarto. - Apenas concordo com a cabeça não tem muito o que falar. - Vou depositar o dinheiro do aluguel e das contas desse mês.

— Hoje é dia cinco. - Nem se quer ligo de falar com a boca cheia.

— O que isso tem haver ?

— Que não tem motivo pra você querer pagar nada. Você não mora mais aqui. - Apesar de estarmos um grudado no outro nosso olhares estão fixos em qualquer outra coisa do comodo.

— Vou sentir sua falta. - Sua voz baixa chega falhar, como se ela não tivesse certeza que queria que eu tivesse escutado aquilo.

— O que você quer dizer com isso ? Ainda somos melhores amigos não somos?

— Claro que sim. Mas você sabe que não vai ser a mesma coisa. - Já não tá sendo a mesma coisa faz um tempo.

A porta abre entrando a única pessoa possível, e o silêncio se instala na sala depois do beijo que Pepe da em Sabina e um cumprimento singelo com a cabeça pro meu lado.

Tenho certeza que a vontade de Pepe é a mesma que a minha, que eu saía dali o quanto antes, mas não vou sair da minha própria sala só porque o clima está totalmente constrangedor.

— Tem bastante coisa pra carregar, vamos começar. - Sabina solta o pedaço de pizza que ainda não tinha terminado na caixa, levanta e começa ajudar o namorado.

E eu? fico mexendo a cabeça cabeça de um lado pro outro acompanhando eles levarem todas aquelas coisas pro lado de fora da casa.

Sabina até tentou me convocar pro trabalho com umas forçadas na garganta e olhares firmes, mas eu acenei tranquilamente que não todas as vezes.

Sou totalmente contra essa ideia de mudança por qual motivo vou ajudar?

Aos poucos aquela bagunça vai acabando, e a cada caixa a menos eu vou aceitando a situação. Sabi já se encontra com um coque no cabelo, as bochechas vermelhas e a testa brilhando por conta do suor.