31 Any

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Eu não me sentia sozinha, todos a minha volta tremiam como eu, alguns em situações piores até, a menina ruiva ao meu lado acabara de vomitar no banheiro.

— Por que eles fazem isso com a gente ? - Mesmo sentada as pernas de Shivani não param de tremer, e só não está mais roendo a unha porque eu já dei dois tapas na sua mão ao levar em direção a boca.

A exatos dez dias atrás os trinta e quatro jovens aqui, incluindo eu, tínhamos apresentando nosso TCC e hoje saia o resultado, era nosso chute na bunda vindo da Universidade, o final da vida de universitária. Eles poderiam fazer como todos os outros cursos, postar no portal as notas e cada um surtar sozinho em casa com o resultado, mas não, precisavam dramatizar até isso, juntaram todos os alunos do último período a maioria eu conhecia de uma aula e outra que tinhamos juntos, então alguns sorrisos de medo compartilhado rolavam pra todo lado.

— Pra rirem da nossa cara. - Bufo.

Meu celular vibra na minha mão, olho pra tela acesa e lá está um mensagem de Josh.

"A noite você é minha. Vamos comemorar sua aprovação"

Sorri olhando as palavras, ele não me desejou sorte como qualquer outro faria, ele me mostrou que confia no meu potencial, como se não ouvesse a opção de que eu não havia passado. Pensei em responder mas a grande porta do auditório se abriu, O babaca do professor Filipi apareceu acompanhado da diretora do curso qual quase nunca viamos, nos cumprimentaram e nos mandaram entrar.

Fui uma das últimas por ter esperar Shivani conseguir se levantar e dar o primeiro passo, se isso demorar a garota vai desmaiar. Sou interrompida de entrar e jogada no canto do grande espaço, ficamos escondidos mas não tanto que não pudéssemos ser vistos.

— Dependendo do seu resultado, não serei mais seu professor. - Filipi sussurra apertando meu braço.

— O que significa que não vou mais precisar te ver. - Puxo meu braço com força e ele ri, Shivani olha incrédula pra situação mas eu a puxo pelo braço, voltamos a caminhar em direção aos outros.

Nos sentamos nos assentos do meio, completando uma última fila de alunos no auditório. Três dos nossos professores estão em pé em cima do palco cada uma com uma folha na mão.

Eu sei que fui bem, sei que me esforcei e que a chance de um não é pequena, minhas notas sempre se mantiveram altas. Mas mesmo assim minhas mãos suavam frio e minha nuca formigava com tanta pressão e medo.

Lembro quando contei pros meus pais que tinha mudado de curso, eles me apoiaram como sempre, mas lembro de uma certa decepção nos olhos do meu pai, não pela escolha do curso mas pelo enfoque. "Pra que vai fazer artes cênicas se não vai estar em cima do palco?" No começo nem pra mim fazia muito sentido, mas depois lembrei da minha infância e adolescência eu sempre montei show de talentos na escola, ajudava a professora com as peças teatrais sobre feriados nacionais e livros clássicos. Eu gostava de arte, de talento mas não de me mostrar, sempre admirei quem esteva por trás de tudo, a pessoa faz tudo funcionar e não precisa aparecer.

— É simples e indolor, se seu nome for chamado parabéns a gente se encontra na formatura, caso contrário sala de aula no próximo semestre. - Dave apesar dos seus sessenta e tantos anos de idade tinha um deboche invejável.

Me pergunto se esta em ordem alfabética, mas nego a acreditar o primeiro nome chamado começava com C direto. Algumas comemorações dos alunos cujos seus nomes tinham sido chamados me fazem inclinar no assento pra poder ouvir melhor.

Shivani da um pulo alto do meu lado e para de pé antes mesmo do seu sobrenome ser pronunciado. A chance de eu não ter passado aumenta na minha cabeça, Filipi me olha com um sorriso satisfatório, ele não me reprovaria só porque eu nunca sai com ele, seria antiético, e por mais babaca que fosse não espararia isso dele, até por que qual justificaria ele usaria na banca de professores?

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