Capítulo 73

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Micael parou sua Mercedes-Benz na frente da casa de Mel, uma linda casa inclusive. Saiu do veículo e tocou a campainha, tinha sua mochila nas costas.

— Seja bem vindo, Borges! — Ela abriu. Usava um shorts minúsculo, exibindo sua barriga sarada. O biquíni na cor amarela realçou seus seios enormes. Tinha uma taça nas mãos, com uma rodela de limão na ponta.

— Obrigado. — Passou por ela. — Não sabia que gostava de beber. — Apontou a taça.

— Eu adoro uma cachaça! — Riram. — Servido? Gim-tônica. — Bebeu um pouco.

— Valeu. — Negou. Observou a casa em silêncio. — Tá morando sozinha?

— Às vezes a minha tia vem, às vezes não. — Micael seguiu ela. — Fique à vontade, Borges. Tem certeza que não quer beber nada?

— Tô tranquilo. — Sentou-se nos bancos altos, tirando sua mochila das costas. — Tem idéias pro trabalho?

— Eu pensei em alguma coisa mais... Pesada. Algo que choque todo mundo. — Sorriu ao mesmo. — Podíamos falar sobre os hospitais psiquiátricos e as pessoas que morrem lá dentro, tem bastante história bizarra. — Bebeu mais um pouco da sua Gim-tônica.

Micael ficou em silêncio.

— Acho um assunto delicado. — Engoliu seco.

— Sério? Logo você.

— Podíamos falar sobre a taxa de mortalidade, os hospitais mais precários do mundo... Essas coisas.

— O trabalho tem que ser especial. — Mel abriu seu caderno. — Não vamos chegar à lugar nenhum citando geografia em um conteúdo de medicina.

Micael riu leve.

— Ok. — Respirou fundo. — Precisamos pensar em alguma coisa importante.

— O que vai exercer na carreira? — Mel se apoiou no balcão.

— De verdade? Ainda não sei. — Micael pensou. — E você?

— Pediatria. — Largou a taça. — Adoro criança!

— Sério?

— Aham. — Passou as folhas do caderno. — Você tem cara de quem adora uma buceta!

Micael ficou... Assustado e envergonhado? Segurou o riso.

— Qual foi, Mel? Eu tenho cara de veado? — Ela gargalhou, gostosamente.

— Tô falando que você poderia ser ginecologista. — Deu de ombros. — Ia chover de mulher sendo sua paciente.

— Eu estou construindo um hospital. — Mel arregalou os olhos, em choque.

Terminou sua Gim-tônica rapidamente.

— Você? Construindo um hospital? — Ele assentiu. — Garoto! Quanta grana você tem?

— Muita grana! Meus pais são milionários, esqueceu?

— Ah. — Pausou. — Então tá construindo um hospital? Cacete! — Estava boquiaberta. — É por isso que ainda não escolheu sua especialização?

— Também! É muita coisa pra resolver. — Abriu o estojo, tirando um marca texto. — Vamos ao que interessa?

— Precisamos de um tema, não?

— É, precisamos. — Batucou o marca texto em cima do caderno. — Esse trabalho tá mais difícil do que eu pensei.

— E se falássemos dos perigos em salas de cirurgia? — Deu outra ideia. — Meu sonho era colocar silicone, quando era menor, e... — Mel riu leve. — Tirei esse sonho da minha cabeça quando comecei a ganhar corpo. — Encarou Micael. — Muito corpo! Os homens se jogavam em cima de mim, o tempo todo. — Chegou mais perto do mesmo, seus seios estavam quase tocando o peitoral de Micael. — E eu adorava.

— É... Podemos falar dos riscos de próteses, uma ótima ideia. — Se afastou.

— Perfeito. — Mel voltou ao seu lugar, só que agora, sem o Gim-tônica pra lhe dar coragem. Iriam montar o trabalho, ou pelo menos tentar.

No apartamento eu estava totalmente revoltada quando passei pela porta, batendo em seguida. Minha mãe desceu as escadas, assustada. Nunca tinha me visto naquele estado, nervosa e com medo!

— Filha, e aí? Como foi lá?

— EU VOU MATAR O FILHO DA PUTA DO MICAEL! — Exaltei. — ELE NÃO TINHA ESSE DIREITO.

— O que ela tem?

— Ela tá internada, em um manicômio horrendo. — Lembrei os fatos, tão cruel. — Tá careca, magra e além de tudo doida!

— Não é pra menos, Sophia! Então ela está no lugar certo.

— Mãe!

— O que foi? Você queria que ela ficasse solta por aí? Usando um monte de droga?

— Eu queria que ela ficasse em um lugar melhor, mãe! Não naquele lugar, cheio de gente estranha e presa em um mundo totalmente diferente, um mundo... Sujo. — Passei a mão em meus cabelos.

— Micael sabe o que fez.

— Não, ele não sabe! — Estava morrendo de ódio. — Ele só vai saber quando passar pela mesma coisa. Onde já se viu? Abandonar a própria irmã, naquele lugar!

— Sophia...

— E ele paga horrores para aquela velha horrenda, nojenta, sem coração. — Meu corpo estava quente. — Eu preciso tirar ela de lá.

— Você precisa ficar calma e cuidar da Kate, que é o mais importante.

Encarei minha mãe sem entender.

— Como é?

— Sophia, você está se preocupando atoa! — Disse. — Lidiane não é nada sua, ela é apenas a irmã do pai da sua filha. Apenas isso!

— Então tá dizendo que o Micael é pai da minha filha, só isso?

— Em todos os casos, ele é sim. — Soltou, sem delongas. — Você não tem nada em vínculo com ele, só a menina. Ele tem outra vida, outro rumo. Nem casada com ele você é.

— Voltamos na estaca zero de novo? — Me irritei.

— Você precisa acordar, Sophia! Eu te aviso porque sou sua mãe.

— Olha, eu realmente quero entender o seu ponto de vista porque ainda não caiu a ficha no meu sistema. — Gesticulei, colocando as mãos na minha cabeça.

— Você dormiu com ele, teve a Kate e tudo mais... Só que agora, vai ser sempre assim? — Pausou. — Quando ele vai voltar?

Fiquei em silêncio.

— Quando ele vai voltar, Sophia?

— Eu não sei. — Encarei o chão.

— Viu só? Nem você sabe! A Kate vai crescer em um mundo cheio de mentiras. — Respirou fundo. — Eu acho melhor você desistir disso e ir viver. Fazer uma faculdade, ir atrás do que você sempre quis. Você vai conhecer alguém, muito melhor, que possa... Cuidar da Kate como ela merece!

No fundo, minha mãe tinha total razão. Eu sabia que Kate cresceria em oitenta porcento sem a companhia de Micael, ela perderia a assistência paterna e me cobraria de perguntas querendo saber de seu pai.

— Eu queria te dizer isso há um tempo. — Minha mãe lamentou-se. — Sua tia nos propôs uma casa lindíssima, um ótimo lugar!

— A senhora quer sair da cidade? — Engoli seco. Minha garganta deu um nó.

— Você pode recomeçar, Sophia! É só pensar. — Minha mãe sorriu, tentando ser acolhedora. Eu precisava sim pensar, só que, com calma.

Young and the Restless - Jovens e Inquietos Onde histórias criam vida. Descubra agora