Capítulo 104

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Mentiras... Eu odiava mentiras! Afinal, quem gostava de mentiras? Fiquei pensando quando subi de volta ao apartamento, eu precisava de uma quantia alta de dinheiro, precisava... Eu precisava muito.

Antes de dormir recebi mensagens de Lua dizendo que já havia chegado ao Rio de Janeiro, dormi mais sossegada, tudo tinha dado certo. Sondei Kate por alguns minutos e depois tentei não surtar com o que tinha acontecido no jantar feito por Rayana.

Se eu estava me sentindo pior era porquê vocês ainda não tinham visto Micael, no dia seguinte.

Tinha uma folha nas mãos encarando a lista que havia acabado de ganhar de seu professor, suas expressões eram questionadas e ele queria muito uma explicação.

— Que porra é essa? — Entrou na sala onde o senhor de cabelo grisalho estava. Bateu com a folha na mesa de madeira.

— Olhe o linguajar!

— O que significa isso? — Apontou.

— Pensei que soubesse ler.

— É sério?

— Você sabia que um dia isso teria que acontecer. — Ajeitou-se na cadeira. — Não gostou da notícia?

— Eu ainda não sei de nada.

— Por isso mesmo. — Pausou. — Você irá fazer residência em um dos melhores hospitais de Nova Iorque. Teve sorte! — Encarou Micael. — Deveria me agradecer.

— A residência era daqui à três anos, pelo que eu me lembre.

— Eu escolho a residência, Micael Borges. E se você me irritar muito eu te mandarei ao Canadá. Estou claro?

Micael estava bravo.

— Ótimo! Você começa na semana que vem. No período da tarde.

— Obrigado, professor. — Respondeu com deboche, antes de sair da sala.

Passou pela imensidão de estudantes naquele corredor pequeno, antes de achar a saída. Entrou na IX35 socando o volante. Estava com muita raiva!

Estacionou na frente do condomínio onde morava, subindo, logo após.

— Chegou cedo! — Avistou Rayana que separava alguns documentos.

— Eu quero matar o meu professor. — Bufou. — Eu vou fazer residência no hospital.

— E isso não é bom?

— Eu acabei de entrar na faculdade.

— Por isso mesmo. Que eu saiba a residência é...

— Eu só tomo no meu cu, impressionante. — Passou a mão no rosto. — O que está fazendo?

— Separando uns documentos da minha mãe, nada demais. — Pausou. — Você não gostou do jantar de ontem, não é?

— Eu não quero mais ela aqui, ok?

Os dois se encararam.

— Por que não?

— Porque eu sei o que você está tramando. — Pausou. — Quer a Sophia por perto por conta do dinheiro.

— Você acha que eu sou assim o tempo todo, não é?

— E você é mesmo! Salafrária. — Sorriu falso. — Eu te conheço e não é de hoje, Rayana Carvalho.

— Veremos. — Levantou-se do chão saindo das vistas de Micael.

Enquanto Rayana e Micael brigavam, eu estava totalmente perdida em relação ao dinheiro, enquanto ia ao banco. O gerente me recebia com convicção, e eu, batia meus pés em medo, sem que ele percebesse.

— Sophia Abrahão? — Me perguntou enquanto teclava rápido no computador de mesa. — A senhora tem certeza que é algo dos Borges?

— Eu sou a mulher dele. Do Micael. — Engoli seco. — Ele passou todo o dinheiro à mim, quando... Casamos. — Um casamento de mentira.

— Eu irei precisar da digital dele, sem isso, não posso te autorizar a tirar essa quantia. É muito dinheiro! Ele precisa autorizar. — Disse calmo. — Podemos ligar...

— NÃO. — Arregalei meus olhos. — Eu vou ver o que faço, obrigada por me ajudar. — Sorri falsa enquanto me levantava da cadeira, dando as costas ao gerente. 

— Senhora Sophia? — A voz do gerente ecoou, de novo. Revirei meus olhos sem que ele visse.

— Pois não?

— Para que precisa desse dinheiro? Se me permite. — Apontou à cadeira novamente, pedindo para que eu me sentasse.

Voltei em passos leves.

— Preciso fazer algumas coisas. — Estava trêmula. — O senhor tem algo em mente?

— Podemos ligar ao senhor Borges e pedir uma autorização por telefone, a conta será autorizada e a senhora poderá sacar o dinheiro. O que acha?

Uma péssima ideia que daria totalmente certo. Em termos!

— Só um minuto! — Sorriu pra mim antes de empurrar a cadeira com rodinhas para mesa ao lado, buscando um telefone. Procurou o número de Micael nas informações mantidas pelo banco. — A senhora gostaria de falar com ele?

— Sim. — Respirei fundo querendo soltar um não como resposta.

Observei o gerente esperar na linha enquanto ligava à Micael, meus dedos soavam frio e minha espinha tinha terríveis cutucadas, do nada. Uma mistura de nervoso e adrenalina.

— Olá, senhor Borges? Aqui é do Banco Central, tudo bem? — Pausou. — Sou Marcos, o seu gerente. Estou aqui com a sua esposa, precisamos de algumas autorizações rápidas, pode ser?

Ai meu Deus.

— Eu irei passar pra ela, um segundo! — Tive o telefone nas minhas mãos agora.

— Micael? — Minha voz era de medo.

— Oi, amor! O que houve?

— Eu precisava de um dinheiro, por causa de Kate. — Cocei minha testa.

— O que aconteceu com Kate? Ela está bem? Se machucou? Vocês estão no hospital?

— Não, calma! Micael, calma! — Respirei fundo. — Eu... Gostaria de matricular Kate em uma escolinha, não necessariamente em uma escolinha... — Eu precisava dar vida à minha mentira. — Dakota está ficando incansável em casa.

— Pensei que você gostasse de Dakota.

— Eu gosto mas... A Kate pode ficar em um lugar melhor, você não acha?

— Você quer estudar, é isso?

— É! Um curso. — Perfeito. — E a escolinha seria um bom lugar pra Kate, você sabe. — Mordi a ponta dos dedos. — Eu vim ao banco tirar mais um dinheiro mas só posso com sua autorização.

— Tem certeza que é só isso?

— Óbvio que tenho, amor. — Sorri nervosa. — Pra que mais eu iria querer? — Pra ajudar Rayana talvez?

— Certo. — Ficou em silêncio. — Me passe ao gerente de novo amor, por favor!

— Ok, eu te amo.

— Eu também te amo. — Passei o telefone à Marcos.

— E então, senhor Borges? — Marcos assentiu. — Certo, certo. Tudo bem então, desculpe pelo incômodo. Tenha um ótimo dia! — Marcos desligou a ligação.

— E então? Quanto eu posso retirar? — Perguntei ainda com convicção e medo. Tinha que colocar Kate na escolinha e procurar algum curso, apenas para colaborar na minha mentira que me perseguiria por alguns meses.

— Desculpe senhora Sophia, o senhor Borges não autorizou. — Umedeceu os lábios antes de cruzar as mãos.

Young and the Restless - Jovens e Inquietos Onde histórias criam vida. Descubra agora