Prólogo

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Run to you

Uma festa a fantasia só podia me encorajar a uma coisa: poupar os outros de enxergar meu rosto por trás da roupa.

Me vesti de mulher gato, calça de couro preta, cabelos para trás com uma peruca preta, e uma máscara, a máscara a qual me poupava de qualquer julgamento precipitado. Eu não responderia por mim caso eu fizesse algo de errado, coisas que costumo fazer com frequência.

— Está literalmente uma gata — Diana entrou no quarto e se jogou na cama recém trocada — e eu, um coelho.

Gargalho. Ela realmente estava vestida de coelho, e estava muito fofa.

— Esse rabinho de pompom é muito charmoso — caçoo — os garotos vão pirar.

Ela se levanta e me ajuda a colocar a máscara. Eu estava pronta para abusar da minha liberdade, o que cabelos ruivos naturalmente me impediam de ter; se eu fizesse alguma coisa contrária do que Anne Shirley faria, eu era facilmente criticada e reconhecida. Não eram todas as garotas de Avonlea que tinham os cabelos ruivos, somente eu e Margot, uma garota que coincidentemente trabalhava na mesma lanchonete que eu.

— E então Anne, pronta para acabar com a vida dos garotos de Avonlea?

Reviro os olhos. Diana conseguia ser sempre exagerada quando o assunto era esse. Eu nunca estava pronta para "acabar com a vida" de nenhum garoto, a não ser que ele fizesse isso comigo primeiro.

Ela puxa a chave do carro.

— Eu não vou com você dirigindo Diana — movimento a cabeça em negação — desiste.

— Não, não é comigo. — ela faz aquele olhar de cachorro sem dono — e se fosse, seria obrigada a entrar no carro.

Cole entra no quarto.

— Zorro? — jogo uma bonequinha de pano que costumava guardar desde que fui deixada no orfanato — uau.

— Não é só o zorro Anne — interrompeu Diana — ele é o zorro branco.

Cole deixa a boneca no baú e Diana joga a chave do carro para ele.

— Preparados para dançar até o sol nascer?

— É claro que estamos.

. . .

O sol já estava desaparecendo, mesmo assim, a noite ainda não tinha chego em seu ápice, contudo, o ambiente reservado para a festa estava escuro, ao mesmo tempo, com iluminação especial, luzes piscante em todos os cantos.

A música alta com certeza tinha um objetivo, nos incentivar a dançar até o sol nascer novamente, mesmo não acostumada com esse tipo de vida, principalmente porque o dia seguinte seria bastante atarefado devido ao serviço, eu estava me permitindo viver os dezesseis anos. Afinal, só se vive uma vez.

— E então — Diana falou alto, por pouco pensei que suas amígdalas sairiam de sua garganta — agora nos separamos.

— Onde está Cole?

— Eu não faço ideia.

Durou segundos para que ela me deixasse só.

Começo a dançar sozinha na pista, curtindo cada entonação da música, ótima época em que Marilla me incentivou a fazer aulas de dança, eu sabia realmente balançar os quadris habilidosamente. Fecho os olhos, sinto o corpo em seu ímpeto profundo mergulhando no som eletrônico, eu me sentia livre, giro no centro da pista de dança, parece que estou sozinha e que todo o mundo havia sido engolido por uma enorme cratera. A música para, abro os olhos, todos me aplaudem.

Sou abordada por alguém, que detrás de mim zuni em meu ouvido:

— Que morena.

Viro-me. Encaro o garoto que não diz mais nada, somente me oferece a mão em convite para dançar a música agora lenta. Run to you.

Aceito, nossas mãos se juntam, dançamos distantes, evito encará-lo, ele também está mascarado, e diante da escuridão infinita, não consigo enxergar a cor dos olhos que não desgrudava do meu rosto. Sinto minha pele quente, principalmente quando ele me puxa e o ar fica mais denso do que esperava. Sua mão repousa em minha lombar, e imediatamente um arrepio gélido percorre minha coluna fazendo com que eu fique sem graça. Na última frase, ele choca seus lábios doces contra os meus.

Foram segundos, porém, foi marcante, seria impossível me esquecer daquele beijo.

— Beijoqueira venha — Cole me puxou — preciso que veja uma coisa.

Quando me viro para encarar o dono daqueles lábios, ele já não está mais lá.

. . .


CRUSH - SHIRBERTOnde histórias criam vida. Descubra agora