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Flashbacks e confusões internas.

Como eu fui capaz de ficar somente de lingerie, encolhida no chão feito um feto, comprimindo meu rosto em meu próprio joelho enquanto me lamentava mentalmente da catástrofe que seria a minha vida pelo simples fato de eu não poder mais dançar livremente como se não houvesse amanhã? Enquanto, Gilbert Blythe, me observava na porta com aquele olhar de desejo, contento seus ânimos e seus desejos sexuais, somente para me dizer que ficaria aqui até que eu pegasse no sono?

Anne Shirley-Cuthbert, quanta indiscrição!

Ainda não sei como consegui de fato permanecer por alguns minutos em pé frente a ele, insinuando (ou não), minhas curvas branquelas enquanto ele me olhava como se eu fosse "a coisa mais linda do universo".

Que vergonha!

Como eu pude deixá-lo agarrar em minha cintura estando só de lingerie, enquanto suas mãos deslizavam agilidosamente em minhas costas, me fazendo arrepiar do peito do pé até a nuca, como um gatinho sensível?

Quanta audácia!

A água bate em meu rosto, me limpando das impurezas, espero. Meu coração bate em ritmos descompassados.

Que droga! Eu realmente estava gostando da presença dele.

Não dormiria tão cedo. Principalmente se não dormir, fosse o motivo para que ele permanecesse aqui.

. . .

(Gilbert)

Não quero ir embora. Permaneceria o resto da noite, mesmo depois dela estar dormindo, somente para admirar o seu belo rosto angelical em um sono profundo, com sonhos intensos.

Estou sentado no sofá da sala de Green Gables, um ambiente discreto e bem organizado, exageradamente limpo, típico de Marilla Cuthbert, só de olhar para ela, já era de se imaginar que tudo que fazia, era com muito desvelo.

— Continua aqui — a voz fraca soa por de trás de mim.

Desvio meus olhos para apreciar o que estava vindo ao meu encontro. Um lindo cabelo ruivo úmido, se projeta em minha frente, ela estava de costas. Caminha até a estante e pega um controle, liga a TV e deixa a luz acesa. A acompanho com os olhos, ela está enrolada em uma coberta azul com flores brancas, pantufas de uma raposa vermelha. Ela me encara, senta não tão próxima, mas não tão longe, se eu quisesse poderia tocá-la.

Seu rosto está limpo, sem maquiagem, sem lágrimas. Nem sinal de que chorou, somente a esclera dos olhos sutilmente avermelhadas. Ela suspira, somente a observo, não sei o que dizer, não tenho o que dizer, se eu pudesse estaria a beijando agora mesmo.

— Desculpe — diz finalmente — não queria que você me visse naquele estado, eu estava incontrolável.

— Tudo bem — respondo — eu não me importo, de verdade, Anne.

Sua respiração visivelmente está acelerada.

— Tem certeza que vai permanecer aqui? — ela me encara e da um sorriso sem dentes — não tenho a menor pretensão de dormir essa noite.

— Então passaremos a noite acordados, juntos — me aproximo um centímetro.

Ela olha para meu gesto de canto de olho. Certamente pensando "inocente" acha que eu não estou vendo suas tentativas de se aproximar.

CRUSH - SHIRBERTOnde histórias criam vida. Descubra agora