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Um sonho mais do que real.

(Gilbert)

Assim que Anne dormiu, a acomodei no sofá, dei um beijo em sua bochecha corada, e fui embora. Eu não pretendia deixá-la lá, mas uma ligação de meu pai me tirou de meu transe. Ele não estava se sentindo bem, normal, anos de tratamento estavam se tornando cada vez menos eficiente. O câncer, já tinha consumido parte de seu corpo, e agora ele precisava de mim.


No carro, permito que meu corpo se prepare, eu não queria admitir mas sabia de qualquer forma que uma hora ou outra, ele morreria. E tudo bem, ele precisava e merecia esse descanso mais do que qualquer um.

Finalmente eu tinha encontrado alguém, que me compreendia, me enchia e estava cedendo às suas vontades, se entregando para o amor.

Anne Shirley

Olhos azuis tremeluzentes como um dia sem nuvens.
Alma tão bela, quanto a aparência.
Dona de todo meu amor,
A única dona do meu coração.

Gilbert, você está se tornando um bobo apaixonado.

. . .

(Anne)

Não passou de um sonho!

Assim que acordo pela manhã vejo que estou sozinha, sem rastros nem vestígio de Gilbert Blythe, com certeza depois que peguei no sono ele foi embora, eu estava muito bem acomodada no sofá, e certamente exausta pois não senti sequer ele saindo de perto de mim. Significa, que não teve beijo, sequer tentativa de um.

Droga. Você é uma iludida, Anne.

Certamente ele ficou com você porque sentiu pena de deixá-la sozinha. Nunca teve sentimento sequer, como você é tola.

Pego o celular. Quatrocentas e quarenta e sete mensagens.

Percorro o dedo pela tela. Diana e Cole conversaram muito durante a madrugada. Tenho preguiça de ler, bloqueio o celular o coloco no bolso.

Não contaria pra ninguém o que tinha acontecido, isso era um segredo meu, e espero que Gilbert Blythe guarde meu segredo com tanto afinco quanto me puxa para perto.

Subo as escadas, ponho uma roupa quente. O frio estava intenso, e eu precisava ir para o hospital. Assim que saio de casa, Cole e Diana estão chegando.

- Você não respondeu nenhuma das mensagens no grupo - Diana diz autoritária - soubemos que ontem de madrugada Gilbert esteve aqui e Matthew sofreu um ataque cardíaco? Anne! Por que não ligou para nenhum de nós?

- Diana, Gilbert estava junto, para quê ela ligaria para um de nós? - Cole interrompe o surto histérico de Diana.

- Porque somos espíritos irmãos!

- Calma Diana - seguro em sua mão - aproveitando que estão aqui, e estão com o carro, poderíamos ir até o hospital? Preciso trocar de turno com a Marilla.

- Bom, agora você se importa com a nossa amizade - ela ergue os ombros - vamos Cole.

Seguimos o caminho com o silêncio. Só respirações, e fumaça saindo da boca por causa do frio. Nem era para estar frio.

- Por que... Coisas ruins acontecem em momentos bons, e coisas boas acontecem em momentos ruins?

- Senhor que está no céu - Cole gesticula com a mão fora do carro - por favor, tire um momento do seu precioso tempo para responder essa pergunta repentina de Anne Shirley, que não tem uma resposta humana que possa explicar.

- Por que está dizendo isso, Anne? - Diana me olha por cima do ombro.

Ela estava no banco da frente.

- Ontem eu soube uma coisa...

- Conta logo.

- Não tenho mais chances, acabou - confesso.

- Você e Gilbert... Mas vocês nem começaram!

- Não, não eu e Blythe, eu e a dança. - sinto um nó se formar novamente na minha garganta - vocês sabem que a dança representa o mundo para mim, é minha vida!

- Oh Anne, você tem tantos outros talentos, você canta, atua, você tem uma mente privilegiada com uma inteligência de outro mundo - Diana segura em minha mão - você vai conseguir superar isso, encontrando algo que você goste de fazer tanto quanto.

- Eu vou matar aquela víbora do jardim do Éden, aquela rameira, aquela bruxa de satanás, aquela perua de cabelo loiro - Cole diz com ódio - se eu não tivesse nascido homem, daria um jeito de acabar com a cara dela. Mas não estou afim de ser preso por agredir uma mulher! Faça as honras Diana. - ele aperta a mão da morena.

- Acho que Margot tem muito mais audácia. Como assim, laxante? - Diana dá uma risada do fundo da alma - meu Deus eu venero a Margot, que mente!

- Me senti orgulhosa, apesar de tudo que falaram para ela. Fez pouco, a minha vontade era quebrar aquele copo de suco de morango na cabeça da Queen Cow.

- Queen Cow - os olhos de Diana brilha - perfeito.

Chegamos no hospital.

- Sinto muito Anne - Cole me abraça - por tudo isso, sua dança, o seu pai postiço e o surto de Diana.

- Estou ouvindo Cole - ela diz se enfiando no meio do abraço.

- O que importa é que tenho vocês. - eu amava me perder no conforto de um abraço de amigos - minhas almas gêmeas.

. . .

Finalmente estávamos em casa, e eu podia ler sem a consciência inundada a carta do meu suposto avô.

No quarto, sozinha, abro o envelope e me depara com a carta digitalizada. Ah como eu queria que fosse uma carta com caneta tinteiro, seria um sonho.

Anne,

Sei que deve ter ficado muito surpresa com tudo o que leu, sei que achava que estava sozinha nesse mundo tão árduo. Pois bem, suponho que não se sentiu a vontade para responder minha carta. Não a conheço, não o suficiente então não posso dizer que você é teimosa, mas eu sou. Teimoso e insistente.

Por isso estou enviando essa carta para avisar que estou chegando.

Daqui alguns dias Anne, estarei na Ilha do príncipe Eduardo, para conhecê-la.

Com amor,

John Linderman.

. . .

Eu disse para não se iludirem. É isso.

Xoxo ;*

O avô da Anne está chegando emmmmmm....

Muitas coisas vão mudar 🌼

CRUSH - SHIRBERTOnde histórias criam vida. Descubra agora